Neste sábado (11/02), os iranianos encerram 10 dias de celebração pelo 33º aniversário da Revolução, que em 1979 derrubou o xá Mohamed Reza Pahlevi. Um importante momento da história iraniana, devido às grandes transformações que vieram depois, a comemoração desse ano surge como um breve período de alegria para o país, que se encontra no olho do furacão por conta de seu programa nuclear.
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Para aumentar a pressão sobre o Irã, os Estados Unidos e a UE (União Europeia) ampliaram as sanções econômicas contra o país em 2012. A comunidade europeia aprovou, inclusive, um plano que prevê o fim da importação de petróleo iraniano até 1 de julho. Os EUA apoiaram a ação e agora tentam convencer Índia, Japão e Coreia do Sul a diminuírem as importações.
Efe
O ministro do petróleo, Rostam Qassemi, passa ao lado de um cartaz oficial do líder da Revolução Islâmica, o aiatolá Khomeini
“Existem três conjuntos chaves de sanções contra o Irã. Da ONU (Organização das Nações Unidas), EUA E UE. Nos últimos cinco anos, o Conselho de Segurança da ONU aprovou quatro resoluções contra o Irã designando mais de 100 entidades e indivíduos suspeitos de trabalhar no programa nuclear e de mísseis do país. Mas nas sanções unilaterais dos EUA e UE, essa lista dobra e até triplica, incluindo bancos, empresas de navegação, companhias aéreas, centro de pesquisas e empresas de engenharia”, explicou o jornalista do canal BBC em persa, Amir Paivar.
Apesar de negar que o programa tenha fins bélicos, o governo iraniano dá sinais claros de que começa a pensar em alternativas para fugir das consequências das sanções. Abandonar o programa nuclear, no entanto, não é uma opção. “O país já mostrou que está disposto a bancar essa conta em nome do programa nuclear, que é estratégico e primordial para o país”, completou Paivar.
Uma das saídas pensadas pelo Irã foi o investimento em energia renovável. Desta forma, o país preservaria as reservas de hidrocarboneto. A proposta foi feita pelo ministro iraniano do Petróleo, Rostam Qasemi. “Não é possível, nem de interesse nacional, manter em longo prazo a dependência em fontes de hidrocarbonetos”, afirmou o ministro. Qasemi disse ainda que será necessário reduzir gradualmente o consumo do petróleo no país.
Exportação
Mas não é apenas na questão do petróleo que o Irã vem sofrendo com as sanções dos EUA e da UE. O país carece de liquidez em dólares para saldar seus contratos de importações. A situação foi agravada ainda mais com o fato de o presidente norte-americano, Barack Obama, ter assinado um decreto que reforça as sanções contra Teerã.
As novas medidas atingem o setor financeiro do país, pois afetam o Banco Central iraniano. Neste caso, em específico, Obama acusa os iranianos de lavagem de dinheiro e de gerar “um risco permanente e inaceitável” para o “sistema financeiro internacional”. O presidente deu também mais poder aos bancos do país para que congelem ativos do governo do Irã.
Com a falta de liquidez, a exportação de alimentos básicos para a população fica comprometida. De acordo com informações da agência Reuters, traders internacionais garantem que o país passa por dificuldades para comprar arroz e óleo de cozinha, entre outros alimentos básicos.
Ainda de acordo com a Reuters, o preço dos alimentos está subindo consideravelmente nas ruas do país já que as importações estão em baixa. Com dificuldades para receber pelo o que exporta, o Irã também não consegue pagar por tudo o que importa. O milho trazido da Ucrânia, por exemplo, foi reduzido à metade.
“Eles [iranianos] continuam pedindo, no espírito de fraternidade muçulmana. O último que ouvi foi um pedido de cinco mil toneladas para entrega em fevereiro ou março, mas ninguém quer correr esse risco agora”, afirmou um trader, que preferiu não se identificar, à Agência Reuters.
O temor iraniano, neste momento, é que tradicionais compradores passem a adquirir petróleo de outros países, também do Oriente Médio, por pressão dos EUA e da UE. Se isto acontecer, a principal fonte de receita do país – o quinto maior produtor de petróleo no mundo – irá sofrer um forte golpe.
Contra ataque
Além da inquietação no que se refere à economia do país, o governo iraniano se preocupa ainda com um possível conflito com Israel ou até mesmo com os EUA. O próprio secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, disse temer ação militar israelense contra as instalações nucleares iranianas em março.
Efe
O aiatolá Khamenei, à frente do presidente mahmoud Ahmadinejad e do líder do legislativo, Ali Larijani, orando na Universidade de Teerã, pouco antes de criticar Israel e os EUA
“O regime sionista é realmente o tumor cancerígeno dessa região. Ele precisa e será removido”, afirmou o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã. “É dessa forma que nos ameaçam. Mas a guerra será dez vezes mais prejudicial aos EUA”, alertou Khamenei. O contra ataque no campo das declarações foi amparado também por outras autoridades iranianas.
“Os norte-americanos sabem que tipo de país é o Irã. Eles estão bem cientes da unidade de nosso povo. E é por isso que o Irã é totalmente capaz de fazer ataques retaliatórios contra os EUA em qualquer lugar do mundo. [Os EUA] ficariam desapontados com seu erro enorme”, afirmou o embaixador do Irã na Rússia, Seyed Mahmoud-Reza Sajjadi.
Para o historiador israelense Martin van Creveld, no entanto, os iranianos não devem tomar o primeiro passo nessa disputa. A não ser que fossem atacados pelos israelenses ou norte-americanos. “Eu considero que um ataque iraniano, sem um motivo aparente, está fora de questão. No entanto, será que Israel atacaria o Irã agora?”, questionou Opera Mundi. Confira aqui a íntegra da entrevista.
Enquanto tenta driblar os efeitos das duras sanções internacionais, o Irã se prepara para realizar eleições parlamentares em 2 de março. A pressão de EUA e UE, no entanto, deve crescer ainda mais, gerando tensão na região e na comunidade internacional, como um todo. “O Irã deve, a partir de agora, enfrentar um nível sem precedentes de pressões devido às sanções cada vez mais fortes aplicadas pelos EUA e por outros países”, afirmou o departamento do Tesouro dos EUA, pouco antes do anúncio do decreto de Obama.
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