Na esquina entre a avenida Francisco de Miranda com a San Juan Bosco, nas imediações da Praça França – conhecido ponto de concentração opositor em Caracas –, cerca de 30 jovens reforçavam neste sábado (01/03) barricadas com blocos de concreto, pedaços de madeira e lixo. No caminho para Chacaíto, seguindo pela Francisco de Miranda, outros focos de protestos eram construídos. Em um deles, um grupo de senhoras enroladas na bandeira da Venezuela carregava nos braços caixas de papelão para interromper a via, enquanto motoristas gritavam que queriam passar.
Efe (01/03/2013)
Barricada com fogo fecha uma das ruas nas imediações da Praça França, em Altamira. Maioria da população critica forma de protesto
Já em Chacaíto, três jovens discutiam com moradores, que reclamavam da barricada que havia sido levantada em uma rua. Um dos cartazes que seguravam os garotos dizia: “lamento se meu protesto colapsa o trânsito, mas sua indiferença colapsa meu país”. Após alguns minutos, se renderam e abriram uma pequena brecha na via, o que provocou um buzinaço de alegria na fila de carros que se formou.
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Duas semanas após o início dos protestos da Venezuela, o apoio às “guarimbas”, como são chamadas as barricadas no país, veio perdendo força. É o que mostra uma pesquisa da consultoria ICS (Internacional Consulting Services), que em pesquisa mostrou que 85,3%dos entrevistados é contra esse tipo de protesto. Além disso, 81,6% classificou as manifestações opositoras como “violentas”, enquanto 91,3% considerou a manutenção da paz como algo “muito importante”.
Outra pesquisa, da consultoria Hinterlaces, disse que 83% está em desacordo com as barricadas. Segundo Óscar Schemel, diretor da consultoria, sete em cada 10 venezuelanos afirma que o país “está mal”, mas somente dois em cada dez concorda em sair às ruas para buscar uma “saída rápida” do governo do presidente Nicolás Maduro.
Carnaval
No boulevard de Sabana Grande, um espaço de compras e lazer da população caraquenha, cuja extensão compreende as estações de metrô de Chacaíto e Sabana Grande, milhares de pessoas caminhavam nesse sábado de Carnaval.
Marina Terra/Opera Mundi
Fantasiar crianças é uma das principais tradições do carnaval venezuelano
Alguns setores da oposição haviam convocado os venezuelanos a boicotarem a festividade, em protesto. No entanto, em Caracas e, de acordo com o governo, em outras localidades do país, o chamado não surtiu efeito. Segundo o Ministério do Turismo, calcula-se que nove milhões de pessoas viajaram às principais praias do país para aproveitar o feriado.
Crianças fantasiadas, vendedores de pipoca e algodão doce e palcos com shows de rap, salsa e outros ritmos tradicionais faziam esquecer em Sabana Grande que em outros pontos da cidade ainda se vivia a tensão desatada em 12 de fevereiro, quando uma marcha opositora terminou em morte e violência.
No entanto, o forte efetivo da PNB (Polícia Nacional Bolivariana) espalhado pelo lugar ainda lembrava os dias de enfrentamento. Também, mais à frente, próximo ao final do boulevard, um grupo de jovens com cartazes contrários ao governo se posicionou em forma de círculo, chamando a atenção de quem passava. Assim que chegaram, um dos transeuntes gritou: “chegaram os fascistas!”, para depois rir.
Marina Terra/Opera Mundi
“Salário mínimo: 3.270 bolívares. A fantasia do seu filh@: 2.800 bolívares”, diz cartaz, em meio a pais com crianças fantasiadas
Em silêncio, os estudantes traziam cartazes com mensagens como “salário mínimo: 3.270 bolívares. A fantasia do seu filh@: 2.800 bolívares”, “fim da insegurança, impunidade, violência, escassez”, “apoia o governo? Tem comida sem fazer fila? Não te robam? Consegue todos os remédios? E então? Una-se à luta!” e “Há escassez de tudo, menos de balas”.
Para o domingo (02/03), líderes estudantis opositores como Juan Requesens, filiado à AD (Ação Democrática), convocaram diversas marchas pela cidade, cujo destino final é a Praça Brión de Chacaíto. Os universitários saíram de quatro pontos do setor leste da capital venezuelana para pedir a libertação dos manifestantes detidos e o fim da repressão. Os ativistas também irão reclamar contra a impunidade, a censura, a falta de segurança e a escassez de bens materiais, disse Requesens.
As manifestações ocorrem após a primeira noite de calma em pouco mais de duas semanas na cidade de Chacao, reduto da oposição, onde diariamente opositores e policiais têm se enfrentado. “Hoje, até agora (20h05), não houve bombas de gás lacrimogêneo em Chacao. É a primeira vez que isso ocorre em 18 dias”, informou o prefeito anti-chavista Ramón Muchacho na noite de sábado.
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