O Mercosul completou duas décadas neste ano. Mesmo diante de um cenário internacional que inclui crises financeiras na Europa e nos Estados Unidos, o bloco espera consolidar-se como uma grande força global.
Para isso, as autoridades dos quatro países-membros (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), esperam fomentar as relações na região, fortalecendo o comércio exterior no bloco. Em entrevista ao Opera Mundi, Bruno Bath, Diretor do Departamento do Mercosul do Ministério das Relações Exteriores, apontou os principais desafios do bloco para os próximos anos.
Bath também alertou para a importância da forte concorrência chinesa na região.
Após 20 anos de Mercosul, qual é o principal desafio do bloco para os próximos anos?
O primeiro desafio diz respeito à crise internacional. O ambiente, que foi tão favorável de 2003 a 2008, mudou. E há indícios que durante um bom número de anos nós teremos um cenário internacional desafiador. O grande lema do Mercosul é se manter unido na busca de soluções para enfrentar a crise.
Qual é o tamanho deste desafio para o Mercosul?
É um desafio complexo, mas que também vai nos colocar diante da necessidade de aumentar as oportunidades de negócios, comércios e investimentos entre nossos próprios países. A salvação é o nosso mercado, mas o mundo inteiro está de olho no mercado sul-americano. É um dos poucos mercados que ainda está em crescimento, além do asiático.
A crise econômica acaba se definindo então como uma oportunidade para o Mercosul se fortalecer diante do mercado global?
Os mercados importadores, sobretudo de manufaturas estão em baixa. Isso não é o caso ainda dos mercados regionais. Ou seja, o Mercosul é onde o Brasil está colocando de forma mais intensa suas exportações de manufaturas. Nesse cenário, de crescimento e oportunidade para o Brasil, nós teremos que competir também com a produção chinesa. As projeções estão muito focadas no cenário regional.
O senhor considera desleal a concorrência chinesa?
A palavra desleal tem uma conotação muito precisa. Ou seja, indica se há mecanismos de dumping, entre outras coisas, por trás das importações. Não sei ao certo quais são as proporções de casos como esses nas importações chinesas, mas sabemos que há casos concretos. Há um problema mais geral, no entanto que é a tremenda competitividade sistêmica chinesa por conta dos baixos custos de produção e na presença do Estado com fortes estímulos da indústria.
E como enfrentar esse cenário?
É necessário tentar abrir uma fonte negociadora com a China, mas é muito difícil porque é uma economia muito forte, que joga globalmente e tem grande interesse em diversos setores do Brasil e Mercosul. Nós somos um importante fator para o futuro crescimento da China. Trata-se de um grande desafio diplomático para o Brasil. Com isso, podemos tentar uma negociação com a China a favor dos nossos interesses. Temos também que resolver os nossos problemas de competitividade, de gargalo na indústria e de financiamento.
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