A Casa Branca parece estar desenvolvendo uma diplomacia paralela ao Departamento de Estado, segundo denuncia uma carta secreta que o presidente Barack Obama teria enviado, no mês passado, ao seu colega russo, Dimitri Medvedev. No texto, Obama propõe suspender a instalação do escudo antimísseis na Europa Oriental, em troca do compromisso de Moscou de conseguir que o Irã desista de seu programa nuclear.
A revelação foi feita hoje (3) pelo jornal The New York Times, que cita funcionários da administração Obama, de forma anônima. O presidente russo já avisou que aceita discutir a instalação do escudo, mas sem vincular esse assunto com o programa nuclear iraniano (leia mais abaixo).
Na noite do mesmo dia, a Casa Branca negou a informação. Disse que a reportagem não retrata precisamente o que está na carta. Leia mais.
De passagem por Madri no domingo passado, Medvedev admitiu, segundo a agência RIA/Novosti, que recentemente recebeu sinais dos “colegas norte-americanos” sobre os mísseis, “que esperamos que se transformem em propostas específicas”.
“Espero discutir este tema, que é muito importante para a Europa, com o presidente Barack Obama”, acrescentou o presidente russo. Os dois devem se encontrar no dia 2 de abril próximo, em Londres. Três dias depois, Obama reúne-se em Praga com os líderes da União Europeia.
Herança de Bush
A instalação de um sistema anti misséis na Europa Oriental (Polônia e República Tcheca) é um dos pontos de maior tensão entre os Estados Unidos e a Rússia, herdado por Obama da administração de George W. Bush.
Segundo o The New York Times, a carta de Obama foi entregue há tres semanas por dois diplomatas norte-americanos, antes de a secretária de Estado, Hillary Clinton, tomar conhecimento do conteúdo. Nela, o presidente promete não instalar o novo sistema de intercepção balístico na Europa Oriental se o Irã “detiver seus esforços para construir mísseis nucleares”.
Após a entrega da carta, houve uma pouco usual declaração conciliatória aos Estados Unidos por parte do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. “Estamos esperando indícios de mudança [na política dos Estados Unidos]. Se houver uma mudança real, então teremos relações diferentes”, disse há duas semanas o presidente iraniano, citado pela agência de notícias Bloomberg.
Idéia não é nova
Mas a idéia sugerida por Obama a Medvedev não é nova. Em 19 de fevereiro passado, o secretário da Defesa, Robert Gates, disse numa reunião da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em Cracóvia, Polônia, que no ano passado informou Moscou que se o Irã não desenvolvesse um programa nuclear, “não haveria necessidade de instalar o escudo” na Europa Oriental.
Segundo as fontes do diário norte-americano, o fato de a carta de Obama ter sido entregue em Moscou não tem como objetivo colocar os russos numa posição comprometedora, mas incentivá-los a se unir aos Estados Unidos numa frente comum contra o Irã, país sobre o qual a Rússia exerce considerável influência.
“O que lhes dissemos foi simples: ajudem-nos ou calem-se”, disse um funcionário superior da administração Obama ao The New York Times.
A carta foi enviada como resposta a outra, de felicitações, que Medvedev escreveu por ocasião da posse do novo presidente.
Medvedev: “Precisamos fazer isso juntos”
Medvedev se disse disposto a negociar o projeto do escudo antimísseis, mas não quis vinculá-lo ao programa nuclear iraniano. Durante coletiva em Madri hoje (3), junto com o presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, o líder russo afirmou que caso haja um replanejamento do projeto, há chances de acordo. “Temos uma posição muito simples: precisamos fazer isso juntos. Temos que criar um escudo geral contra todo tipo de ameaças, que são muitas”.
“Se a nova administração dos EUA mostrar bom senso e propuser alguma nova estrutura que seja aceitável para todos os europeus, para os Estados Unidos e para nosso país, estamos dispostos a negociar”, acrescentou.
Ontem, o ministro do Exterior russo, Sergey V. Lavrov, havia dito que pensa em abordar o tema no próximo sábado, em reunião com Hillary Clinton, em Genebra.
Leia também:
Obama promete encerrar combates no Iraque até agosto de 2010
(Reportagem atualizada)
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