A OMS (Organização Mundial da Saúde) anunciou nesta terça-feira (29/12) o fim da epidemia de ebola na Guiné, país situado na África Ocidental onde foi registrado o primeiro caso do último surto do vírus no mundo.
O anúncio vem após completar 42 dias desde que a última pessoa infectada teve resultado negativo em dois testes consecutivos que buscam a presença do vírus no sangue.
No dia 23 de março de 2014, a OMS confirmou a existência de uma epidemia de ebola na África Ocidental, que rapidamente se propagou à Libéria e a Serra Leoa, tendo mais de 28 mil casos confirmados e deixando mais de 13 mil mortos.
Reprodução/MSF
Enfermeira da Médicos Sem Fronteiras cuida de criança com a doença: centros de saúde isolados
O vírus do ebola não tem cura ou vacina, tendo como tarefa médica primordial o alívio do sofrimento. Trata-se de uma doença grave cuja taxa de mortalidade pode chegar a 90%.
Entre os sintomas, destacam-se febres altas, dores violentas, náuseas, vômitos e hemorragias. No entanto, as chances de sobrevivência dos pacientes aumentam se eles receberam cuidados adequados, incluindo hidratação constante e tratamento para infecções secundárias.
Segundo a OMS, este vírus está entre os mais contagiosos e mortais entre os humanos. Entre as principais vias de propagação, o ebola se transmite por contato direto com o sangue, os fluidos ou os tecidos dos indivíduos infectados. Nesse sentido, para evitar que haja contaminação, os familiares são impedidos de tocar os corpos dos falecidos.
Mariane Roccelo/ Opera Mundi
Apesar de pequena, Guiné teve grave epidemia, pois vírus se espalhou para a região da fronteira com Serra Leoa e Libéria
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Surto de 2014
Uma lista da OMS aponta que, entre os 16 principais surtos de Ebola no continente africano de 1976 até 2008, houve 1.071 casos de pessoas contagiadas e um saldo de 1.530 mortos – o que representa uma taxa de fatalidade de 73,87%. Em casos extremos, com a epidemia do Congo em 1976, essa taxa atingiu o nível de 88% de fatalidade. Mas o que faz do último surto de 2014 tão “particular”?
Entrevistado por Opera Mundi em abril de 2014, quando completara um mês de surto, o vice-diretor de operações da MSF (Médicos Sem Fronteiras), Mariano Lugli, que atuou no combate ao surto, elencou alguns motivos que explicam a particularidade da epidemia na África Ocidental.
O primeiro é a sua especificidade em nível geográfico. “Normalmente esse tipo de epidemia está circunscrito dentro de uma província ou de uma vila. Contudo, quando nós chegamos à Guiné, vimos que o vírus já tinha se espalhado até para outros países”, afirma.
Carlos Latuff/ Opera Mundi
Outro motivo importante que explica a especificidade reside no fato de que o surto foi inédito na Guiné. Apesar de ser uma nação pequena, Lugli explica que o problema está na questão fronteiriça. “A epidemia começou nas redondezas de Guéckédou, na fronteira perto de Serra Leoa. O país não é grande, mas as pessoas se movimentam muito”, conta.
Além disso, Lugli relatou que um dos principais dramas passados no início do surto foi a desconfiança dos habitantes com as ações de médicos e dos centros de saúde. “A região florestal do sudeste da Guiné é uma zona que historicamente tem uma relação difícil com a capital (Conacri) e as autoridades centrais”.
Somado a isso, o vice-diretor apontou que a tarefa de comunicação e de sensibilização dos habitantes foi mais desafiadora na medida em que os cidadãos de Guiné têm uma “antropologia medicinal” própria para lidar com doenças. “Há uma forte medicina local tradicional e uma dinâmica cultural que não é fácil de compreender para conseguir passar nossas mensagens de modo rápido e eficiente”, disse à época.
Reprodução/ MSF
Epidemiologista da Médicos Sem Fronteiras explica para a população de Gbando o que é o ebola e como evitar a transmissão