A instabilidade na Líbia compromete a estabilidade geral em países europeus e até mesmo dos EUA. Essa é a opinião do sociólogo Emir Sader a respeito da onda de protestos que tomou o país norte-africano há mais de uma semana e que ameaça o regime local, há 42 anos sob o comando do coronel Muamar Kadafi.
Em entrevista ao Opera Mundi, Sader apontou o aumento do preço do petróleo e a redução da capacidade norte-americana em impor seu domínio na região do norte da África como as principais ameaças à hegemonia geopolítica atual.
Para ele, o fato do regime do ditador Muamar Kadafi estar sendo questionado e pela primeira vez correr o risco real de desaparecer dão aos protestos “grande importância histórica”. Porém, o sociólogo aponta que as consequências da situação revolucionária – como a eclosão dos protestos, repressão governamental e pela sucessão de manifestações na região – serão sentidas não apenas nos arredores do país e sim em todo o cenário mundial.
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“Bem ou mal sucedidos, os protestos na Líbia desde já refletem em todo o continente africano e até mesmo na Europa, principal comprador de petróleo líbio”, disse Sader. “Este é apenas o começo, com a continuidade das manifestações e principalmente da
violência para reprimi-las uma ameaça para a oferta global de petróleo deve se tornar cada vez mais real, comprometendo toda uma estrutura econômica interna e externa a Líbia”, completou.
Atualmente, a Líbia produz cerca de 1,8 milhões de barris de petróleo por dia, o que representa 2% da produção mundial segundo dados da AIE (Agência Internacional de Energia) e mais de 77 bilhões de dólares por ano do PIB líbio. Entre seus principais compradores estão Itália, França e Alemanha, que juntos compram de 1,4 a 1,6 milhão de barris diariamente. Após levantar as sanções contra a Líbia em 2004, os EUA também aumentaram suas importações e passaram a ser outro importante
comprador do petróleo líbio.
“Diante destas ameaças acredito que, em outras circunstâncias, os EUA invadiriam a Líbia, como fizeram com o Iraque em 2003. Desta vez, porém, não acredito que isso irá acontecer, toda a opinião pública norte-americana está esperando [Barack] Obama cumprir sua promessa e retirar as tropas do Afeganistão e do Iraque, uma possível invasão a Líbia teria uma péssima repercussão dentro e fora do país”, argumentou Sader.
Questionado sobre a possibilidade dos confrontos da Líbia chegarem a países como Argélia, Síria e Irã – importantes fornecedores de petróleo – e assim colocar ainda mais em risco as exportações, Sader foi enfático ao dizer que não se pode responsabilizar os manifestantes pelo aumento do preço do petróleo e por uma possível crise da oferta global.
“O erro foi feito há anos quando regimes ditatoriais e abusivos foram instaurados nestes países e não agora, quando a população decide contestá-los com manifestações. Não é justo atribuir a culpa pela instabilidade petroleira aos manifestantes, que não estão fazendo nada mais justo: exigir seus direitos de cidadãos”, disse.
Para Sader, a solução não é encerrar os protestos, ao contrário, o sociólogo acredita que os manifestantes devem seguir adiante com as reivindicações até que Kadafi deixe o poder, mas admite o risco de isso não acontecer. “Se Kadafi não ceder as pressões e se mantiver no cargo, além de prolongar os protestos e consequentemente incitar a violência, seu governo perderá totalmente a legitimidade, já que não terá apoio popular”, antecipa.
“Sendo assim, vejo como única alternativa para a manutenção de seu governo o enrijecimento do regime por parte de Kadafi caso a revolução não se efetive. Isso seria uma solução contrária ao que a população pede e extremamente prejudicial para a Líbia”, concluiu.
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