A organização não-governamental JAN Trust, com sede em Londres, lançou neste mês o programa “Web Guardians”, que consiste em treinar mulheres muçulmanas que vivem no Reino Unido a usar a internet. O programa, no entanto, chama a atenção pelo seu objetivo principal: capacitar mães para que elas possam monitorar se seus filhos têm navegado por páginas na web ligadas a grupos que pregam o extremismo islâmico e o terrorismo.
Divulgação/Jan Trust
Em entrevista a Opera Mundi, Sajda Mughal, uma das diretoras da entidade e coordenadora do projeto, negou que ele consista em “espionagem” e também rejeitou que a iniciativa seja “islamofóbica”, conforme rotularam alguns críticos.
[Diretora de ONG é a única sobrevivente muçulmana do atentado terrorista ao transporte público de Londres em 2005]
“A nossa preocupação é que grupos radicais tomem proveito de queixas políticas legítimas expressas por jovens britânicos muçulmanos, como a antipática política externa de Londres. Tememos que o crescimento de grupos de extrema direita influencie esses jovens a cometer atos de violência, na falsa crença de que esse é o dever religioso deles. Nós desenvolvemos o ‘Web Guardian’ para ajudar as mulheres a entenderem e a usarem a internet e, com isso, protegerem seus filhos. O que nós estamos fazendo é dar às mães o treinamento que elas mesmas nos pediram”, afirmou Sajda Mughal, mãe de dois filhos.
A ideia surgiu após uma pesquisa realizada pela entidade apontar, no final de 2012, que 93% das entrevistadas não sabiam usar a internet e que 90% gostariam de aprender como proteger seus filhos contra a “radicalização online”. O termo (em inglês, “online radicalisation”) é usado com frequência em referência ao uso da internet por grupos que tentam engajar jovens em práticas terroristas.
Porém, em artigo publicado após a divulgação do projeto, a cientista política e escritora norte-americana Belén Fernandez também questionou a validade da iniciativa.“Não importa, é claro, que a maioria das pessoas no mundo provavelmente não entenda o termo ‘radicalização online’. Esse desconhecimento é, aparentemente, só motivo de preocupação quando associado a um determinado grupo religioso”, apontou a autora.
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A ONG – que existe há cerca de 20 anos e trabalha principalmente na luta contra casamentos forçados e violência doméstica – também foi alvo de algumas críticas no Twitter. “Nós sabemos que algumas pessoas desconfiam de qualquer programa que aborde a questão do extremismo religioso e, automaticamente, presumem que se trata de ‘islamofobia’. Não é o caso”, rebateu Sajda.
Ainda de acordo com a diretora, o foco do curso são as mulheres de comunidades mais pobres, que geralmente não poderiam pagar por aulas de informática, além de pessoas cujo primeiro idioma não é o inglês, embora vivam na Inglaterra. Sajda destacou ainda que muitas das mulheres afirmaram, durante a pesquisa, que não fariam cursos de informática em instituições que não fossem ligadas à comunidade islâmica.
Os cursos, que tiveram início neste mês, consistem basicamente em aulas de informática e no ensino de ferramentas básicas de busca na internet. As aulas também fornecerão dicas sobre como identificar páginas com conteúdo considerado “radical”, e como abordar os filhos sobre o tema. A reportagem tentou ouvir algumas alunas, mas elas não quiseram dar entrevista.