Pelo menos 303 pessoas foram estupradas nos ataques que grupos armados realizaram na República Democrática do Congo (ex-Zaire) entre 30 de julho e 2 de agosto, confirmou nesta sexta-feira (24/9) um relatório da Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos.
“As vítimas conhecidas incluem 235 mulheres, 52 meninas, 13 homens e três meninos”, assinala o relatório preliminar, de 15 páginas, resultado de uma investigação, alertando que “o número de vítimas pode ser muito maior”.
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A possibilidade é reforçada pelo fato de que os investigadores, que visitaram 13 povoados na região de Walikale, na província de Kivu Norte, não puderam chegar a outros seis, também afetados, devido ao alto índice de violência.
“E, além disso, durante a investigação, cerca de metade da população das povoações afetadas ainda estava escondida na floresta por medo de mais ataques, e entre eles provavelmente há mais vítimas de violações”, acrescenta o relatório.
A alta comissária para direitos humanos, Navi Pillay, disse que “a escala e a maldade destas violações maciças excedem tudo o que é imaginável”, em comunicado divulgado junto ao relatório.
“Inclusive no leste da República Democrática do Congo, onde a violação foi um problema contínuo e massificado nos últimos 15 anos, este incidente se destaca pelo extraordinário sangue frio e a forma sistemática com que parece ter sido planejado e executado”, acrescentou.
Os ataques, que ocorreram principalmente à noite, duraram quatro dias e foram realizados por cerca de 200 membros de três grupos armados, os Mai Mai Cheka, as FDLR (Forças Democráticas de Libertação de Ruanda) e elementos próximos ao coronel Emmanuel Nsengiyumva, um desertor do Exército que, antigamente, já esteve envolvido com outro grupo rebelde, afirma a investigação.
Armados com fuzis AK-47, granadas e facões, os homens fingiam, em um primeiro momento, que tinham chegado para dar segurança à população, antes de iniciar os ataques em pequenos grupos.
Depois, bloqueavam os acessos das principais estradas da região e tomavam o controle de uma colina que é o único local desde onde são possíveis as comunicações telefônicas, para evitar que a população pedisse ajuda.
“Enquanto um grupo saqueava e violava em um povoado, outro emboscava as pessoas que tentavam fugir para a floresta, e também os estuprava”, em muitos casos várias vezes, segundo o relatório.
O texto também destaca as graves deficiências no nível de preparação e resposta por parte dos destacamentos locais do exército congolês e da polícia alocada na região.Também são apontalados os erros da Missão da ONU para Estabilização da RDC (Monusco) para evitar ou pôr fim a estes ataques.
Reações
O relatório pede às agências humanitárias que proporcionem às autoridades congolesas ajuda médica e psicológica para as vítimas, e à comunidade internacional que ajude o Governo deste país a combater os grupos armados e levá-los à justiça.
Pillay ofereceu nesta sexta a ajuda de seu escritório às autoridades do país “para que realizem as investigações e ponham à disposição da justiça os responsáveis por estes crimes atrozes”.
“Entendo as dificuldades desta tarefa, mas é preciso fazê-lo melhor. A impunidade para as violações cometidas no passado e no presente só levará a mais violações no futuro. Esse ciclo de impunidade da violência sexual no país deve acabar”, concluiu.
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