Parece ter chegado ao fim a polêmica ao redor de “Operação E”, filme franco-espanhol que leva às telas a história do camponês a quem as Forças Armadas da Colômbia (FARC) entregaram o filho de Clara Rojas. A advogada, que passou seis anos na selva depois do sequestro ao lado de Ingrid Bettancourt em 2002, teve um bebê durante seu confinamento em mãos da guerrilha.
Clara tentou impedir a exibição do filme em território colombiano, apesar de seu lançamento mundial em festivais e também da estreia comercial na Espanha, em dezembro. Depois de conseguir que o longa ficasse engavetado por dois meses, através de uma medida judicial provisória, alegando que a história feria o livre desenvolvimento de personalidade de Emmanuel, a ex-sequestrada terá que aceitar que ele chegará aos cinemas em março – agora, com muito mais pré-disposição do público para assisti-la.
A decisão foi da juíza Raquel Aya Montero, quem considerou que “não existe risco certeiro, concreto e preciso de colocar em perigo a integridade da criança”, segundo consta na sentença.
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Fogo cruzado
“Operación E” tem como centro de sua história a luta do camponês José Crisanto Gómez para manter o bebê gravemente doente com vida e, ao mesmo tempo, defender sua família das ameaças das FARC – que tinham a criança como moeda de troca importante em seu embate com o governo da Colômbia. Crisanto foi preso, sob alegação de sequestro, e assim que reveladas as condições em que recebeu Emmanuel, liberado. O esforço da história é para redimi-lo e chamar a atenção do público para as vítimas anônimas do conflito.
Os responsáveis pelo filme, dirigido pelo franco-espanhol Miguel Courtois Paternina, celebram a decisão jurídica. De acordo com o que declarou o produtor Farruco Castroman, os problemas com Clara começaram após a quebra do acordo inicial que fizeram para compensá-la financeiramente pela história. O combinado foi que ela receberia 1% do valor arrecadado em salas na Colômbia. Em uma troca de e-mails entre Castroman e Rojas, ela escreveu: “Parece que já temos os termos gerais para um acordo (…). Gostaria, em todo caso, que o senhor reconsidere que o pagamento inclua não só Colômbia, mas todos os lugares onde exibam o filme, tendo em conta que temos um nome e um reconhecimento mundiais”.
Divulgação
Rojas tentou impedir estreia do filme na Colômbia, apesar do lançamento mundial em festivais
O produtor atribuiu a demanda da advogada ao rompimento que veio em seguida. Ele declarou à revista colombiana Semana: “Depois disso, você se questiona sobre onde está o limite para falar dos outros. Eu concluí que esse limite não somos nós que definimos, mas as pessoas que expõem suas vidas. Se Clara Rojas não se dedicasse a vender sua vida a revistas de fofocas ou não tivesse publicado um livro revelando suas intimidades, nós seríamos mais sensíveis ao respeito”.
Depois da decisão judicial a favor dos produtores, a ex-sequestrada afirmou à mídia que pensará sobre os passos que dará, evitando “tomar decisões no calor da hora”. Já o Ministério Público da Colômbia decidiu continuar na briga. “Insisto que os direitos do menor foram vulnerados, motivo pelo qual a Procuradoria insistirá perante o tribunal para revogar a decisão de primeira instância”, declarou Ilva Miryam Hoyos, delegada da Procuradoria para a Infância e a Família, ao jornal El Espectador.