Uma oposição fragmentada e enfraquecida chega às eleições gerais da Bolívia, que acontecem amanhã (6), com sete candidatos dispostos a evitar a reeleição do presidente Evo Morales, a maioria deles sem muita expressão política.
De acordo com as últimas pesquisas, Evo, do MAS (Movimento ao Socialismo), será reeleito já no primeiro turno, com 52,6% dos votos. Já o ex-militar, prefeito e governador de Cochabamba, Manfred Reyes Villa, do Plano Progresso Bolívia-Convergência Nacional (PPB-CN), teria 21,1 %, enquanto Samuel Doria Medina, empresário de La Paz, da Unidade Nacional (UN), teria 9,4% dos votos.
Juan Carlos Torrejón/EFE (04/12/2009)
Em Santa Cruz, propaganda de Reyes Villa (em vermelho) e do aspirante a deputado do MAS, Silvestre Jhonny Zeballos
O clima melancólico que pairou sobre Santa Cruz pouco lembrou a verve de um ano atrás, quando líderes dos departamentos da “meia-lua” (Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija) pararam o país contra o corte da receita petrolífera destinada aos governos departamentais.
Desde então, diversos líderes, como o ex-governador de Pando, Leopoldo Fernández, e o ex-presidente do Comite Pró-Santa Cruz, Branco Marinkovic, estão sendo processados judicialmente. Leopoldo Fernández, que é vice na chapa de Reyes Villa, está preso desde setembro, acusado de comandar um massacre que matou 30 pessoas em Pando.
“Este governo se encarregou de destroçar a oposição. Persegui-la, amedrontá-la e colocar processos em cima dela, acabando com as instituições democráticas”, disse ao Opera Mundi o presidente do Comitê Pró-Santa Cruz, Luis Nuñes Ribera. “Centenas de lideranças que poderiam estar participando da eleição estão exiladas ou foragidas”.
Ribera também acusa o governo de manipular os votos dos camponeses e indígenas, principal base de apoio do MAS, em especial em locais onde os sindicatos rurais – origem política do atual presidente – mantêm forte poder político.
Reyes Villa concluiu campanha:
“Nas comunidades controladas pelos movimentos sociais, eles fazem voto de cabresto. A pessoa vota e tem que sair com a cédula para mostrar em quem votou”, afirmou. “E em locais em que os sindicatos comandam a distribuição de terras, há denúncias de que aquele que não vota acaba sendo pressionado para deixar a terra, ou então fazem a justiça comunitária para penalizá-lo”.
“Não acredito que esta vai ser uma eleição limpa”, completou.
Inabilidade e esperança
Por outro lado, Luis Nuñes admite que parte da iminente derrota da oposição se deve à sua própria inabilidade política. “A oposição sofreu um duro golpe nas urnas na última eleição, e desde então tem sido difícil encontrar novos líderes para serem protagonistas de melhora nas perspectivas políticas”.
Para ele, a vitória de Evo Morales em 2005 foi um “castigo” do povo boliviano aos partidos tradicionais que “sempre foram muito corruptos com as verbas públicas e no manejo da economia nacional”.
Vem daí a expectativa de que o resultado nas urnas surpreenda, mesmo porque Nuñes diz não acreditar em pesquisas eleitorais. “Da mesma forma, esse governo pode sofrer um castigo dos eleitores, porque não escapa da corrupção e é até pior que os outros”.
Segundo a ONG Transparency International, o índice de corrupção aumentou nos últimos anos na Bolívia. O país ocupa posição 120 entre os 180 países analisados – no ano anterior, ocupava a posição 102.
Lula
Mas, já admitindo a derrota, Nunez diz ter fé nas mudanças que se delineiam no horizonte latino-americano – e cita Lula como exemplo a ser seguido.
“Mesmo que não seja agora, há uma esperança nesse momento, com a eleição de um candidato de esquerda no Uruguai que dá um sinal claro que não quer governar como o senhor Chávez, mas como o senhor Lula”. Para ele, o apoio internacional ao presidente brasileiro isola o venezuelano, e por consequência o seu aliado Evo Morales.
“Nos vemos Lula como uma pessoa que coseguiu colocar um equilíbrio em um país tão grande e deu oportunidades a todos sem menosprezar ninguém, e esses são os princípios básicos da convivência democrática que sempre defendemos”.
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