São nove os candidatos que se sujeitarão à vontade dos eleitores chilenos neste domingo (17/11), um número recorde na história da corrida presidencial do país. Um destes nove rostos abaixo será a pessoa que vai ocupar o escritório principal do Palácio de La Moneda entre março de 2014 e março de 2018. Opera Mundi traz os perfis dos nove pretendentes, organizados na ordem em que aparecem nas cédulas de votação:
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1) Franco Parisi: engenheiro comercial e professor universitário de 46 anos. Candidato independente que surpreendeu durante a corrida presidencial, com uma plataforma de campanha baseada na difusão do seu projeto através das redes sociais e de palestras em universidades, chegando a alcançar o patamar dos que atualmente brigam por uma vaga em um eventual 2º turno. Seu slogan exalta “o poder das pessoas” e diz combater os vícios da política tradicional, defendendo uma nova “política sem políticos”, onde os diretores e presidentes dos organismos públicos devem ser profissionais de carreira e não indicados pelos partidos políticos.
Promete reformas à atual Constituição e um novo modelo educacional parecido ao defendido pelo movimento estudantil, baseado no fim ao lucro na educação e a gratuidade no sistema público. Porém, foi envolvido em um escândalo neste final de campanha, por ser acionista de uma escola privada, com a qual obtinha lucro (contradizendo seu discurso), e por não arcar com os direitos trabalhistas dos funcionários. As pesquisas que o colocam como terceiro colocado, variando entre 13% e 15% das intenções, não mediram o efeito dos recentes escândalos em sua candidatura.
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2) Marcel Claude: economista e acadêmico de 56 anos. É candidato à Presidência pelo Partido Humanista e pelo movimento político “Todos a La Moneda”. Caracterizou-se por ser o candidato de esquerda com posturas mais radicais e, segundo seu site, sua candidatura “nasce dos movimentos estudantis, sindicais e sociais”. Militou na Democracia Cristã durante o governo de Salvador Allende e, de acordo com o que declarou para a imprensa local “naquela época todos queriam o Golpe de Estado”.
Durante a ditadura militar, foi membro do Banco Central do Chile e, com a chegada da democracia, criou as fundações Terram e Oceana, cujos objetivos eram promover o desenvolvimento sustentável no Chile. Entre 1990 e 1995, militou no então governista Partido pela Democracia e, em seguida, continuou na política como independente. Suas principais propostas são a nacionalização do cobre, convocar uma assembleia constituinte que substitua a atual Carta Magna imposta pela ditadura, além de defender a educação gratuita e uma reforma tributária baseada na taxação das grandes fortunas. Também é o principal defensor de uma Lei de Meios, como na Argentina. As pesquisas eleitorais lhe dão de 3 a 5% dos votos.
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3) Ricardo Israel: advogado e cientista político de 63 anos, do PRI (Partido Regionalista dos Independentes). Teve sua primeira incursão em uma eleição em 2008, como candidato a prefeito de Santiago. Em seguida, em 2009, fez parte da campanha do atual presidente Sebastián Piñera. Por 20 anos, foi comentarista internacional de rádio e televisão. Foi também diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade do Chile, por 18 anos. Israel propõe a criação de um Estado regional, a nacionalização do cobre, a integração internacional do Chile com seus vizinhos, entre outras propostas.
Ele se destaca mais por suas posturas de ordem moral, se mostrando reticente sobre legalizar o aborto, o casamento homossexual (ou igualitário) e a legalização da maconha. Com essas questões, vai em busca do voto do centro e do voto religioso, particularmente do público evangélico que, nas últimas eleições eleitorais, não chegou a 1% [das preferências]. Sua campanha se destaca pelo jingle “some-se ao regionalismo”.
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4) Marco Enríquez-Ominami: filósofo e cineasta de 40 anos. Fundador do PRO (Partido Progressista), único partido independente de coalizões a obter mais de 20% dos votos em uma eleição presidencial desde o fim da ditadura — nas eleições de 2009. Conhecido pelas iniciais de seu nome, MEO é filho de um dos mais emblemáticos ícones da esquerda chilena. Seu pai foi Miguel Enríquez, principal líder do MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária, sigla em espanhol), organização que não apoiou o governo de Salvador Allende e que reclamou uma revolução pelas armas.
Apesar disso, Marco, que quase não conheceu seu lendário pai, morto durante a ditadura de Pinochet, é um candidato de esquerda moderada, que saiu do Partido Socialista em 2009 e que vê no modelo do Brasil um via alternativa. É partidário da educação gratuita, de convocar uma assembleia constituinte para aprovar uma nova Constituição, de uma nova política contra as drogas e de realizar uma reforma tributária. Além disso, é o principal defensor da ideia do Chile Federal. As pesquisas o posicionam com 7% a 11% das intenções de voto.
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5) Roxana Miranda: É costureira e dirigente social de 46 anos. Participou por vários anos da luta dos devedores habitacionais no Chile. Integrou os movimentos ANDHA Chile [Associação dos Devedores Habitacionais] e Partido Igualdade, e é candidata à Presidência por este último. Miranda é a mais humilde entre todos os candidatos. Não é filha, sobrinha ou parente de algum membro aristocrático da política chilena, ao contrário de maioria de seus adversários. Também não tem grandes recursos financeiros, além de ser também devedora habitacional. Surgiu no cenário nacional nas manifestações da ANDHA Chile contra o governo de Michelle Bachelet.
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Levantou sua condição social como bandeira de sua campanha e por isso foi ridicularizada e subestimada nas redes sociais — o cineasta Nicolás López publicou em sua conta no Twitter, durante o último debate presidencial: “quanto cobrará Roxana Miranda para fazer faxina na minha casa?”. É partidária de convocar uma assembleia constituinte que seja realizada por representantes dos movimentos sociais e pelos mais humildes, “com desenhos de crianças e até com erros de gramática”, como reitera em seu slogan eleitoral. Segundo as pesquisas eleitorais, atinge somente 1% das intenções de voto.
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6) Michelle Bachelet: Pediatra de 62 anos, foi a primeira mulher a presidir o país e a primeira a vencer uma eleição presidencial na América do Sul. Depois de seu primeiro mandato (2006-2010), foi secretária-geral da agência ONU Mulheres. Deixou o cargo internacional para voltar ao cenário político chileno, com um discurso em favor de três reformas principais: educacional, constitucional e tributária. Por outro lado, é questionada pelos movimentos sociais, sobretudo pelo Movimento Estudantil, por não ter feito essas reformas em seu primeiro mandato. Conta com grande apoio popular desde que saiu de La Moneda, em 2010, com 73% de aprovação.
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É a favorita para vencer esta corrida presidencial – alguns institutos mostram que poderia ser eleita já no 1º turno, em torno de 53% dos votos. Militante do Partido Socialista que faz parte da Nova Maioria, frente política moldada por ela mesma, para substituir a antiga e desgastada Concertação. Sua história também se confunde com a história política do país, já que ela foi torturada durante a ditadura de Pinochet (1973-1990). Seu pai, o brigadeiro Alberto Bachelet, foi um dos poucos militares que se opôs ao golpe contra Salvador Allende, e foi assassinado por isso.
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7) Evelyn Matthei: É economista de 60 anos. É a primeira mulher a encabeçar uma candidatura presidencial da direita chilena, defendendo a gestão do atual presidente Sebastián Piñera, para o qual trabalhou como ministra do Trabalho. Conhecida por seu estilo de confronto, sua campanha se baseou na comparação dos números da atual gestão e os do governo de Michelle Bachelet, enfatizando uma maior criação de empregos e aumento do PIB.
Também se destaca por ser a única candidata contrária à gratuidade na educação pública e a reformar o sistema político do país. Sua campanha, porém empolga o chamado “eleitorado tradicional da direita”, aparecendo com cifras entre os 14% e 20% nas pesquisas de opinião. Além disso, as pesquisas também mostram que é a candidata com maior índice de rejeição (39%), e alguns analistas acreditam que ela poderia sofrer a pior derrota eleitora da direita após a ditadura. Seu pai, o brigadeiro Fernando Matthei, também foi militar, e muito amigo de Alberto Bachelet, pai de sua principal rival. Porém, tomou um caminho político oposto, ao apoiar o golpe de 1973, chegando inclusive a fazer parte da Junta Militar de governo, a partir de 1978.
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8) Alfredo Sfeir: Economista e ecologista chileno de 66 anos. Representa o PEV (Partido Ecologista Verde) e tratou de questões ambientais na campanha. Sua equipe foi consultada sobre o tema por outros candidatos e consideram uma conquista que a sustentabilidade esteja na agenda. Sferir foi consultor do Banco Mundial sobre questões ecológicas e se apresenta como “o outro caminho” que o Chile pode escolher, em alusão ao sistema binominal que governa o país.
Declara-se contrário aos transgênicos e, por isso, apareceu em marchas recentes contra a Lei Monsanto, que criaria um monopólio das sementes no país. Também é a favor da educação gratuita e de uma transformação econômica que inclua a espiritualidade. É, além disso, presidente do Instituto Zambuling para a Transformação Humana, organização com sede em Washington DC e com filiais em Portugal, na Bélgica e no Chile. Nela, é reconhecido como líder espiritual e obteve prêmio como o Embaixador da Paz, Senador do Mundo, entre outros. Foi eleito pelos outros candidatos como o “melhor companheiro”. Sua candidatura também está entre as que não chegam a 1% das intenções de voto.
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9) Tomas Jocelyn-Holt: Advogado de 50 anos. Também candidato independente, embora dissidente do Partido Democrata Cristão, foi deputado da Concertação durante os anos 1990. Liderou uma dissidência do seu antigo partido, alegando que os democratas cristãos “se esqueceram dos valores que caracterizaram historicamente o partido”, e tentou formar uma nova legenda.
Acabou abandonado por aqueles que o seguiram inicialmente mas manteve sua candidatura presidencial quase como uma iniciativa pessoal, com apoio de um pequeno grupo de familiares e amigos. Seu programa de governo fala em reforma constitucional e mudanças profundas no sistema de educação que “buscará chegar à gratuidade para todos, mas de forma gradual”, além de defender uma agenda que inclui o matrimônio homossexual com direito a adoção e a despenalização do aborto em casos de violência sexual e risco para a saúde da mãe. Todos os institutos de pesquisa apontam Jocelyn-Holt como o candidato menos citado, sendo até ignorado em algumas medições.