Victor Farinelli
Cerimônia na sede do governo chileno, em Santiago, marca o 42º aniversário do golpe que instaurou 17 anos de ditadura militar no país
Com uma cerimônia ecumênica realizada na manhã desta sexta-feira (11/9), no Pátio dos Canhões, dentro do Palácio de La Moneda, o governo chileno marcou o 42º aniversário do golpe de Estado de 1973, quando as Forças Armadas chilenas, após o bombardeio aéreo a esse mesmo palácio, derrubaram o governo do presidente democraticamente eleito Salvador Allende (1970-1973), instalando a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Enquanto as câmeras da transmissão oficial priorizavam a presidente Michelle Bachelet, as dos meios de comunicação buscavam José Antonio Gómez, o ministro da Defesa. No dia 1º de setembro, em audiência da Comissão de Defesa do Congresso Nacional, Gómez afirmou que o Exército chileno possuía 36 ex-agentes da repressão ativos dentro da estrutura do Exército, alguns deles em posições de alta hierarquia.
A informação já havia sido publicada pelo jornal chileno El Ciudadano, que revelou a existência de uma lei secreta criada durante a transição – após a vitória do “não” no plebiscito de 1988 (que definiu o fim do governo de Pinochet), mas antes das eleições de 1989, que elegeu o sucessor do ditador. Por meio dessa lei, cerca de 1.200 agentes foram incorporados ao Exército chileno, dos quais 36 continuam na ativa, enquanto os demais já faleceram ou se encontram retirados e recebem pensões especiais dedicadas aos ex-militares.
Victor Farinelli
O ministro da Defesa, José Antonio Gómez, declarou na semana passada que 36 ex-agentes da ditadura ainda estão na ativa no Exército
“Estamos reunindo todas as informações a respeito dessa situação, porque para pretendermos tomar as medidas necessárias precisamos estar o máximo possível munidos da verdade. Também esperamos contar com a disposição dos comandantes militares para entregar toda a informação solicitada”, comentou o ministro.
Do lado de fora do palácio, agrupações de direitos humanos realizaram suas homenagens em frente à estátua de Salvador Allende, na Praça da Constituição, e levaram flores ao portão lateral do Palácio – o histórico local onde se registrou a foto de Allende com capacete, antes de começar o bombardeio.
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Victor Farinelli
Alguns chilenos prestaram homenagens em frente à estátua de Salvador Allende, presidente deposto e morto em 1973
Alguns manifestantes aproveitaram a homenagem para realizar protestos contra os pactos de silêncio do Exército chileno, que ganharam lugar no noticiário depois da revelação de um ex-participante do Caso Queimados. Segundo Verónica de Negri, mãe do fotógrafo Rodrigo de Negri, uma das vítimas daquele caso, e outras lideranças de movimentos sociais pelos direitos humanos, o governo e a Justiça atuam de forma lenta e burocrática com relação às novas revelações. “É impressionante como um governo, sabendo de uma situação tão vergonhosa, uma lei que transformou torturadores em oficiais do exército, feita para garantir impunidade, e diante da evidência clara de como funcionavam os pactos de silêncio, atua com essa parcimônia típica de quem não tem nenhuma vontade de resolver realmente o problema”, reclamou Verónica.
Direitos Humanos
A presidente Michelle Bachelet, durante a cerimônia oficial, enfocou seu discurso na criação da Subsecretaria Especial de Direitos Humanos, o principal projeto do governo na matéria, que deverá ser concluído ainda este ano – o governo espera que o novo departamento, que será ligado ao Ministério da Justiça, comece a funcionar no primeiro trimestre de 2016.
Victor Farinelli
Representantes de movimentos sociais e pessoas comuns participaram do evento na capital e homenagearam o ex-presidente Allende
O evento foi marcado, primeiro, por uma homenagem a Allende e às 38 pessoas que resistiram com ele dentro do Palácio de La Moneda, durante o bombardeio dos aviões Hawker Hunter, na manhã de 11 de setembro de 1973. Posteriormente, a presidente Michelle Bachelet levou flores ao Salão Branco – o escritório utilizado pelo ex-presidente socialista e que foi remodelado, recriando a decoração que mantinha durante nas vésperas do golpe de Estado –, acompanhado pela senadora Isabel Allende e demais representantes da família.
Antes de encerrar seu discurso, Bachelet citou o sofrimento dos dissidentes chilenos durante a ditadura para justificar a ajuda que o país pretende dar aos refugiados sírios – o Ministério de Relações Exteriores ainda avalia quantos famílias o país pretende receber, como forma de colaborar com a crise humanitária no país árabe. “Quando nossos cidadãos tiveram que fugir do país para proteger suas vidas, vários países lhes estenderam a mão e acolheram essas chilenas e chilenos, por isso é nossa obrigação moral estar de braços abertos ao mundo quando outras pessoas que estão sofrendo necessitam essa mesma generosidade”, disse.