Um
dia após centenas de pessoas realizarem uma passeata na cidade argentina de Córdoba pedindo
que os senadores não aprovem a lei que autoriza casamento entre
pessoas do mesmo sexo, um grupo de sacerdotes decide fazer o oposto.
Segundo o padre Nicholas Alessio, integrante do movimento, o objetivo é “mostrar que
dentro da Igreja há outras vozes para a diversidade”, citado pelo jornal local La Voz del Interior.
Por isso, decidiram “contribuir
para o debate sobre as alterações na legislação referente ao
casamento civil”, pois acreditam que apoiar e acompanhar o
debate pode colocar os fiéis “no caminho do Evangelho de
Jesus.” O grupo afirma também que há um “fundamentalismo
anacrônico” naqueles que citam a Bíblia para “justificar
seus próprios preconceitos”.
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Alguns hierarcas da igreja,
disse Alessio, citado pelo site do diário argentino Página 12, “têm
se considerado porta-vozes de Deus, então não discutem com ninguém,
pois eles supõem que Deus não muda de opinião”.
Junto
de onze colegas do Grupo de Sacerdotes Enrique Angelelli, percorre
diariamente as cidades da província de Córdoba para ensinar
catequese incorporando novos assuntos. “Lutamos pela
inclusão, pela justiça e contra a pobreza”, disse. “Émuito natural encontrar casais homossexuais”, afirmou o padre, da
Igreja San Cayetano, no bairro de Altamira.
O grupo de
sacerdotes afirma que o que a igreja defende não necessariamente
corresponde ao que está no Evangelho. “Este é um dos casos”.
Afirmam em um documento elaborado para defender a aprovação do
casamento homossexual. Nele, eles afirmam acreditar que “Jesus
nunca definiu uma doutrina para casamento, mas apenas seguir os
costumes do seu tempo, em um contexto social machista e
patriarcal”.
Debate
Dois dos três senadores
da província de Córdoba, Luis Juez e Norma Elena Morandini, já
disseram que aprovarão o projeto de reforma do Código Civil para
permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, com previsão para
ser votado no dia 14 de Julho. Já o senador
Ramon Mestre afirma não ter definido seu voto.
Após
as primeiras notícias na imprensa local, começaram as reações de
quem discorda dos sacerdotes. Na capital, pessoas contra a mudança
na legislação têm convocado
protestos e pregado cartazes com frases como “Não os caprichos
de pervertidos! “e “A família morre”.
A
reação do bispo de Córdoba foi imediata. Segundo a agência de
notícias estatal argentina, Télam, ele divulgou um comunicado
afirmando que as declarações de Alessio e dos outros onze “não
representa de forma alguma o sentimento da Igreja Católica” e
pediu que os senadores de Córdoba se oponham “para o bem do
país e de suas futuras gerações.”
Para Alessio, “nem
os bispos nem o Papa aceitam a realidade, de que hoje vivemos em um
mundo plural”.
Em Córdoba, segundo pesquisas
realizadas por institutos privados, 53,4 % da população é contra a
lei que estende o casamento civil para homossexuais. Alessio tem
consciência. “A Córdoba tradicional é conservadora, por isso
nos castigam por todos os lados e nos repudiam. Mas é preciso saber
que há outro Córdoba, de uma sociedade com pessoas abertas”.
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