O futuro dos moradores da Costa do Marfim e a possibilidade da volta da guerra civil preocupa os governos dos países próximos. Cidadãos de outras nacionalidades começam a pensar em como deixar o território marfinense caso o conflito recomece. No último fim de semana, pelos menos 300 pessoas fugiram pela fronteira com a Libéria.
O primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, afirmou nesta quarta-feira (8/12), na Ilha do Sal, Norte do país, que o governo acompanha a situação e já age com discrição. Segundo ele, contatos constantes estão sendo mantidos com a comunidade caboverdiana da Costa do Marfim. Até agora, há calma. “Se houver agudização do conflito, e esperamos que não, estamos com todos os canais abertos e medidas tomadas”, afirmou Neves.
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Sobre o impasse político, o primeiro-ministro apela para o entendimento. “A situação é difícil, exige diálogo entre as partes. As regras do jogo democrático precisam ser cumpridas. Devemos nos habituar a eleições livres e transparentes, com aceitação dos resultados”, disse. “A deterioração da situação seria prejudicial para Costa do Marfim e para todo Oeste da África”.
Cabo Verde é um dos poucos países africanos em que a oposição, vitoriosa nas urnas, conseguiu assumir a chefia do governo. Em 1991, o partido de José Maria Neves, o PAICV, perdeu a eleição para o MpD. Mas retornou ao poder, democraticamente, dez anos depois.
Tensão
A tensão na Costa do Marfim é crescente. Depois de quatro dias de espera pelos resultados do segundo turno das eleições presidenciais, ocorrido em 28 de novembro, a Corte Constitucional inverteu o resultado original, proclamado pela Comissão Eleitoral, que dava vitória ao candidato da oposição, Alassane Ouattara. De acordo com os juízes, houve erro na contagem conduzida pela comissão, que deu 54% dos votos para o ex-primeiro-ministro. Na revisão judicial, o então presidente, Laurent Gbagbo, venceu por 51% a 49%.
A decisão da Justiça da Costa do Marfim provocou reações da comunidade internacional, que pediu que Gbagbo aceitasse o resultado das urnas. Sem ouvir os apelos, o candidato tomou posse para o novo mandato de cinco anos. Ao mesmo tempo, Ouattarra também fez o juramento constitucional e se recusa a aceitar a revisão do resultado.
Para as Nações Unidas, não há espaço para Gbagbo contestar a decisão da Comissão Eleitoral. “O povo escolheu Alassane Ouattara por uma margem irrefutável”, disse o representante da ONU na Costa do Marfim, Young-Jin Choi. Ele também rejeitou a acusação de que a entidade multilateral estaria tentando interferir em temas internos. “Estou apenas fazendo meu trabalho, de acordo com o solicitado pelas autoridades marfinenses”, afirmou ele, em entrevista coletiva.
Na véspera, Choi deu explicações sobre o processo eleitoral aos líderes dos Estados-Membros da Comunidade dos Países da África Ocidental. O grupo reiterou apoio à opinião do representante da ONU. E apelou a Laurent Gbagbo que entregue o poder “sem demoras”.
Esta foi a primeira eleição presidencial na Costa do Marfim em dez anos. O mandato de Gbagbo deveria terminar em 2005, mas as eleições foram adiadas cinco vezes. Em 2002, o governo de Laurent Gbagbo foi alvo de uma tentativa de golpe. Ele manteve-se no poder, mas perdeu o controle da Região Norte do país. A guerra civil prolongou-se por dois anos.
O conflito armado afugentou investidores, que, na época, procuravam o país de 20 milhões de habitantes e maior produtor de cacau do mundo. De lá para cá, a economia deteriorou-se. A rivalidade étnica também tem muito peso na situação, pois Alassane Ouattara e Laurent Gbagbo são de grupos distintos.
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