O Departamento de Estado norte-americano negou nesta segunda-feira (20/08) a existência de uma “caça às bruxas” do governo dos EUA contra o jornalista Julian Assange, fundador do site Wikileaks. Para os EUA, a intenção de Assange é “tirar o foco” das acusações de crimes sexuais que pesam contra ele na Suécia, país que pede sua extradição. O país norte-americano também criticou o Equador por querer “criar problemas” na OEA (Organização dos Estados Americanos). As informações são da agência de notícias France Presse.
De acordo com a porta-voz da diplomacia dos Estados Unidos, Victoria Nuland, as acusações feitas por Assange durante seu discurso na sacada da embaixada equatoriana em Londres são “afirmações gratuitas”.
“Julian Assange profere todo o tipo de afirmações gratuitas sobre nós quando seu caso como governo do Reino Unido sobre seu eventual comparecimento perante à Justiça sueca se refere a algo que nada tem a ver com o Wikileaks, e sim com acusações de crimes sexuais”, afirmou Nuland em comunicado.
“Claramente, ele procura desviar a atenção para a questão real, que é saber se ele vai se pronunciar perante a Justiça sueca”, disse ela, reiterando a ausência de envolvimentos dos EUA no caso.Segundo ela, o destino do jornalista australiano trata-se de um caso “que envolve Reino Unido, Suécia e, agora, o Equador”.
Neste domingo, em Londres, durante uma declaração na sacada da embaixada do Equador, país onde obteve asilo político, Assange pediu ao presidente norte-americano, Barack Obama, “para fazer a coisa certa: os Estados Unidos devem renunciar à sua caça às bruxas contra o Wikileaks.”. Ele também agradeceu ao governo de Quito por ter tido a coragem de conceder asilo política a ele.
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No âmbito da OEA, Estados Unidos, Canadá e Trinidad e Tobago foram os únicos três países a votar na sexta-feira passada contra a realização da reunião de chanceleres da organização de 34 países membros. Na semana passada, o Equador pediu a reunião para que a OEA se pronunciasse sobre supostas ameaças de Londres de invadir a embaixada à força para deter Assange. “Não vemos por que a OEA possa desempenhar um papel em uma situação hipotética, que não parece ser inminente”, acrescentou Nuland.
O caso
O Equador concedeu asilo político ao fundador do Wikileaks na última quinta-feira (16/08). Assange tenta impedir sua extradição à Suécia, onde é acusado de crimes sexuais. Seu maior temor é que, caso seja enviado a Estocolmo, ele possa ser extraditado aos Estados Unidos, onde, graças à sua atuação pelo Wikileaks, ele pode responder pela revelação de documentos secretos do Departamento de Estado norte-americano, crime passível de condenação à pena de morte.
Após todas as suas tentativas contra a extradição à Suécia terem fracassado nas cortes britânicas, Assange conseguiu fugir há dois meses para a embaixada do Equador, ode conseguiu obter asilo político. No entanto, Londres insiste na extradição e afirma que não irá conceder salvo conduto ao jornalista, dispositivo diplomático que o permite sair da embaixa e cruzaro territóriobritânicoem segurançaparase dirigirao Equador.
Agência Efe
Leia o discurso de Assange na íntegra:
Vocês podem me ouvir?
Eu estou aqui porque eu não posso estar aí com vocês hoje. Obrigado por ter vindo. Obrigado por sua determinação e sua generosidade de espírito.
Na noite de quarta-feira, após uma ameaça ter sido enviada a esta embaixada e a polícia ter invadido este edifício, vocês vieram no meio da noite para vigiar e trouxeram os olhos do mundo com vocês.
Dentro da embaixada, depois de escurecer, eu podia ouvir as equipes de policiais dentro do prédio, através da escada de incêndio interna. Mas eu sabia que haveria testemunhas. E isso é por causa de vocês.
Se o Reino Unido não jogou fora a Convenção de Viena na outra noite é porque o mundo estava assistindo. E o mundo estava assistindo porque vocês estavam vigiando.
A próxima vez que alguém lhe disser que é inútil defender esses direitos que nos são caros, lembrem-no de sua vigília no escuro diante da Embaixada do Equador.
E como, pela manhã, o sol apareceu em um mundo diferente, e uma corajosa nação da América Latina tomou uma posição pela justiça.
E, assim, a essas pessoas corajosas: eu agradeço ao presidente Correa pela coragem que mostrou ao me conceder asilo político.
E eu agradeço ao governo e ao ministro das Relações Exteriores Ricardo Patino, que confirmaram a constituição equatoriana e sua noção de direitos universais em sua consideração do meu caso.
E ao povo equatoriano por apoiar e defender esta Constituição.
E eu tenho uma dívida de gratidão para com os funcionários desta embaixada, cujas famílias vivem em Londres e que me mostraram hospitalidade e amabilidade, apesar das ameaças que receberam.
Nesta sexta-feira, haverá uma reunião de emergência dos ministros de Relações Exteriores da América Latina em Washington para resolver esta situação.
Eu sou grato ao povo e aos governos da Argentina, Bolívia, Nicarágua, Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Honduras, México, Peru, Venezuela, Colômbia e todos o os demais países latino-americanos que defendem o direito de asilo.
Para as pessoas dos Estados Unidos, Reino Unido, Suécia e Austrália, que me apoiaram com força, mesmo quando seus governos não apoiaram. E para aquelas cabeças mais sábias no governo, que ainda estão lutando por justiça. O seu dia vai chegar.
Para a equipe, apoiadores e fontes do Wikileaks, cuja coragem e compromisso e lealdade nâo tem igual.
À minha família e aos meus filhos, aos quais seu pai foi negado. Perdoem-me. Vamos nos reunir em breve.
O Wikileaks está sob ameaça, assim como a liberdade de expressão e a saúde de nossas sociedades. Temos de articular esse movimento que é anterior ao governo dos Estados Unidos da América. Ele vai voltar e reafirmar os valores sobre os quais os EUA foram fundados? Ou será que vai oscilar para fora do precipício, arrastando-nos todos para um mundo perigoso e opressor, em que os jornalistas se calam sob o medo de ser processados e os cidadãos devem sussurrar no escuro?
Eu digo que ele deve voltar.
Peço ao presidente Obama para fazer a coisa certa. Os Estados Unidos devem renunciar à sua caça às bruxas contra o Wikileaks.
Os Estados Unidos devem dissolver sua investigação do FBI. Os Estados Unidos devem prometer que não vão processar nossa equipe ou os nossos adeptos.
Os Estados Unidos devem jurar para o mundo que não vão perseguir os jornalistas por um foco de luz sobre os crimes secretos dos poderosos.
Não deve haver nenhuma conversa tola sobre processar quaisquer organizações de mídia, seja o Wikileaks ou o New York Times.
A guerra do governo dos EUA sobre denunciantes deve acabar.
Thomas Drake e William Binney e John Kirakou e os outros denunciantes heróicos dos EUA devem – devem – ser perdoados e terem recompensadas as dificuldades que têm suportado como defensores dos registros públicos.
E o soldado do Exército, que permanece em uma prisão militar em Fort Leavenworth, Kansas, que a ONU descobriu ter suportado meses de detenção torturante em Quantico, Virginia, e que ainda tem – depois de dois anos de prisão – de ser julgado, deve ser liberado.
E se Bradley Manning fez mesmo as coisas de que é acusado, ele é um herói, um exemplo para todos nós e um dos maiores prisioneiros políticos do mundo.
Bradley Manning deve ser liberado.
Na quarta-feira, Bradley Manning passou o 815º dia de detenção sem julgamento. O máximo legal é de 120 dias.
Na quinta-feira, meu amigo, Nabeel Rajab, foi condenado a três anos por um tuíte.
Na sexta-feira, uma banda russa foi condenado a dois anos de prisão por uma performance política.
Há unidade na opressão.
Deve haver unidade absoluta e determinação na resposta.
(*) Com agências de notícias internacionais