Cinco dias após o início dos bombardeios da coalizão internacional a Líbia, a maioria dos partidos políticos brasileiros ainda não se reuniu para discutir o tema e divulgar uma posição unificada sobre o assunto.
Em nota, o PC do B, foi o único partido, entre os procurados pelo Opera Mundi, a divulgar seu parecer. “O Partido Comunista do Brasil condena com veemência a agressão militar imperialista contra a Líbia, que não vai resolver o conflito interno, e só fará agravá-lo”, diz o comunicado.
“Acreditamos que a intervenção militar imperialista utiliza pretextos humanitários falsos para dominar colonialmente o norte da África e ter acesso direto ao petróleo e outros hidrocarbonetos ricos que são abundantes na região, por isso somos totalmente contra a decisão do Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas]”, explicou o secretário de Relações Internacionais do PC do B, Ricardo Abreu .
Já nova secretária de Relações Internacionais do PT (Partido dos Trabalhadores) Iole Ilíada Lopes afirmou em entrevista ao Opera Mundi que a intervenção militar na Líbia é uma “tragédia anunciada”. Segundo ela, apesar do PT não ter aprovado uma nota sobre o tema, o assunto foi debatido na reunião da Comissão Executiva Nacional na última quinta-feira (17/03) ao lado de temas que envolvem as políticas do governo dos Estados Unidos, tendo em vista a visita do presidente norte-americano, Barack Obama, no último final de semana (19 e 20/03).
Nesse sentido, de acordo com Iole, o PT reafirma sua posição contrária à intervenção na Líbia, bem como às guerras do Afeganistão e do Iraque. “É difícil dizer se, naquele momento [antes do início da “Odisseia da Alvorada”], havia “espaço para diálogo”. Mas convenhamos que não deveria ser papel dos organismos internacionais intervir em Estados soberanos quando há 'ausência de diálogo' entre duas facções políticas, ainda que estejamos falando de um conflito político-militar”, afirmou.
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Para ela, a intervenção da ONU é uma “forma de ingerência” nas questões internas da sociedade líbia. “Há uma disputa política em curso na Líbia e o desejável é que ela seja resolvida pelos própios líbios”, completou.
O PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), por sua vez, não discutiu o assunto internamente segundo o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, o senador Eduardo Azeredo, e, portanto, não tem uma posição unificada. “A guerra não agrada nem o PSDB nem o Brasil, mas estamos dentro de um organismo internacional que optou por uma intervenção, portanto temos que acatá-la”, disse.
Azeredo acredita que “o diálogo deve ser uma obsessão e sempre priorizado”, mas não acha que a decisão do Conselho de Segurança foi preciptada ou fere a soberania do Esatdo líbio. “A Líbia está em uma situação de guerra civil. Cabe ao Brasil agora seguir a orientação da ONU, mas procurando influenciá-la no cessar-fogo”, argumentou.
Procurados, o DEM (Democratas) e o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) afirmaram que os partidos não se reuniram para tratar do assunto e portanto não queriam participar da materia. “O PMDB ainda não se reuniu para discutir o assunto. Talvez faça isso hoje à tarde”, afirmou a assessoria de imprensa do partido ontem (22/03).
Já o DEM, que esteve em reunião na tarde desta terça-feira, afirmou por meio da assessorial de imprensa que o assunto não havia sido debatido nem estava previsto para as pauta das discussões.
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Abstenção
Questionados sobre o posicionamento brasileiro diante do Conselho de Segurança da ONU, os três partidos (PC do B, PT e PSDB) questionam a abstenção do Brasil na votação sobre a zona de exclusão aérea, apesar de apresentarem alegações em diferentes âmbitos.
Enquanto o PSDB acredita que o Brasil deveria ter votado a favor junto às grandes potências, o PC do B e o PT acreditam que o voto correto seria contra.
“O Brasil errou, essa era uma boa oportunidade para nos autoafirmarmos. Essa posição ambígua nos enfraquece e compromete nosso intuito de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU”, disse Azeredo.
A sercretária de Relações Internacionais do PT discorda do tucano e acha que o Brasil ter mantido uma posição autônoma nesta votação reforça os argumentos em prol de seu pleito. “Reivindicamos nossa participação no Conselho de Segurança justamente porque queremos democratizá-lo. Ou seja, queremos que outros países, com visões distintas do mundo e da política internacional, possam também ter voz e poder de decisão. Mas para que integrarmos o Conselho se não for para termos o direito de divergir e dissentir?”, questionou Iole.
Para ela, a abstenção foi a forma encontrada pelo governo brasileiro para não votar a favor de uma proposta de resolução que autoriza o uso da força contra um país soberano.
Ricardo Abreu, do PC do B, concorda com Iole a respeito da estratégia e diz que o partido qualifica como “importante” o Brasil não ter votado a favor da zona de exclusão aérea.
“No Conselho de Segurança o jogo é pesado”, afirmou. “Claro que seria melhor votarmos contra, mas é uma posição política tomada também por uma séria de questões estratégicas. De qualquer forma, o Brasil tomou uma posição mais independente e não se alinhou a aprovação desta resolução, o que já é muito bom”, completou.
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