Smartphones, conexão via wi-fi, aplicativos, mensagens instantâneas. Desde o momento em que acordamos até a hora de dormir, somos inundados por essa enxurrada de aparatos tecnológicos que estão presentes por toda parte, pautando tantas de nossas relações sociais. A internet se tornou tão onipresente que já não conseguimos imaginar como seria a vida sem ela.
No entanto, por mais estranho que possa parecer, existem pessoas que nunca acessaram o território virtual, nunca “se conectaram”, “navegaram”, ou praticaram quaisquer outras expressões que criamos para descrever a experiência de estar em contato com a internet.
É o caso dos prisioneiros que estão cumprindo longas sentenças na prisão federal de San Quentin, na Califórnia. Pensando em facilitar o processo de reintegração social após o fim de suas sentenças, um projeto intitulado Last Mile introduziu na rotina da penitenciária apresentações e aulas que visam fornecer aos prisioneiros um conhecimento teórico – não prático – do que é a internet.
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Intrigado com o que imaginavam os contemplados por tal programa, o jornalista norte-americano Justine Sharrock conduziu uma entrevista com alguns deles para saber suas opiniões sobre esse fenômeno virtual. As respostas são curiosas. Num dos relatos, um prisioneiro afirma que “nunca viu a internet em pessoa”, e que não sabia que ela representava uma mudança tão inovadora e transformadora. Um outro homem diz que visualiza a internet como um “espaço infinito no qual estão contidas informações sobre tudo que situa abaixo do sol” e que percebe que tudo está se acelerando e se tornando móvel.
Já Jorge Heredia, preso desde 1998, afirma que já havia visto propagandas da web e de aplicativos na televisão, mas que nunca prestou atenção em como utilizá-los pois não considerava sua significância. “Acreditava que eram apenas áreas para as pessoas se relacionarem e gastarem seus tempos livre”, ele declara.
Em tempos que a espionagem virtual se tornou uma prática estatal e a certeza de que não podemos controlar as informações que colocamos na internet invadiu nossos debates, os prisioneiros da penitenciária de San Quentin nos parecem até privilegiados. Eles são vigiados constantemente, mas tem clareza total de quem os vigia e a razão disso.