O célebre perfumista Jean-Paul Guerlain foi acusado de racismo após ter dito em uma entrevista na televisão que trabalhou “como um crioulo” para criar sua última fragrância. “Uma vez, trabalhei como um crioulo. Não sei se alguma vez os crioulos trabalharam tanto assim”, afirmou na sexta-feira (15/10) em entrevista concedida ao principal canal de televisão público francês, France 2.
Guerlain, considerado um dos homens mais ricos da França, utilizou a palavra “nègre”, que tem um sentido depreciativo em francês.
O escândalo chegou ao governo, cuja ministra da Economia, Christine Lagarde, considerou “patéticas” as palavras do perfumista. “Espero que seja algo senil e sem importância e que manifeste desculpas sinceras”, afirmou a ministra à rádio RTL.
As associações SOS Racisme e o Conselho Representativo das Associações Negras (CRAN) disseram que pensam em denunciá-lo. A SOS Racisme acredita que as denúncias “têm um valor pedagógico” para acabar com “os clichês impregnados de resquícios coloniais”.
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Retratação
Atualmente, Guerlain, de 73 anos, não é funcionário nem acionista da marca que leva seu sobrenome, é apenas conselheiro para “tendências olfativas”. Ele assumiu pessoalmente a responsabilidade do ato e pediu desculpas “a todos os que se sentiram ofendidos por estas palavras chocantes”.
“Minhas palavras não refletem de nenhuma forma meu pensamento íntimo, a não ser um equívoco inapropriado que eu lamento profundamente”, afirmou.
Nem todos acreditaram na sinceridade das desculpas, pois, como lembra a SOS Racisme, Guerlain já manifestou ter opiniões xenófobas antes. Em 2002, quando ainda estava à frente de sua perfumaria, recebeu uma denúncia por trabalho clandestino em suas plantações em Mayotte, a colônia francesa situada no oceano Índico. “Já se sabe que aqui a mão de obra clandestina é um mal endêmico”. Meses após esse escândalo, transferiu suas atividades à vizinha ilha de Anjouan, pertencente ao arquipélago de Comores.
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