O termômetro mostrava 4 graus negativos no início da última segunda-feira (5) em Boston (EUA), quando a Citgo, subsidiária norte-americana da PDVSA, a estatal petrolífera venezuelana, fez o anúncio: estava interrompendo “temporariamente” o programa de subsídios destinado a famílias pobres nos Estados Unidos.
Lançado com pompa em 2005, no bairro novaiorquino do Bronx e também nos estados de Filadélfia e Massachussetts, o programa, desenvolvido com políticos locais em colaboração com a ONG Citizens Energy, tinha como objetivo ajudar os pobres a pagar as contas da calefação, já que o preço disparou com o aumento do barril de petróleo.
Durante o inverno de 2007/2008, a Citgo distribuiu o equivalente a US$ 100 milhões de combustível para 400 mil famílias pobres de 23 estados, incluindo 65 tribos indígenas. Para o presidente venezuelano Hugo Chávez, esta provocação era uma maneira de mostrar que sua oposição ao “diabo” George W. Bush, como ele gosta de dizer, não se estendia à população.
Com a queda acentuada do preço do petróleo – o barril passou de US$ 147 em julho para US$ 48 ontem –, a Citgo alegou que não tinha mais condições de financiar o programa. Mas o diretor da Citizens Energy, Joseph Kennedy, não se conformou, considerando a decisão uma catástrofe para milhares de famílias pobres.
“Eu convido as pessoas interessadas a escrever ao presidente venezuelano Hugo Chávez para contar a importância dessa generosa doação de combustível”, declarou o militante, que é o filho mais velho do senador Bob Kennedy.
É pouco provável que Caracas mude sua decisão. A queda brutal dos preços do petróleo já ameaça o equilíbrio da economia venezuelana. Prejudica também a ajuda aos países vizinhos, que chegou a ser qualificada de verdadeira “diplomacia petroleira”.
O outro programa mais impressionante é o Petrocaribe, destinado aos vizinhos da América Central e do Caribe. Criado em 2005 juntamente com Cuba, estende-se hoje a 17 países da região. Os beneficiários têm um prazo de três meses para pagar 60% do petróleo comprado junto a Caracas. O resto é reembolsado em 25 anos com taxa de juros de 1%. A proporção paga dentro de três meses cai para 40% se o barril atinge US$ 100 e para 30% se ultrapassa os US$ 200.
“Com o brent chegando a US$ 40, Caracas vai ter que reduzir estes financiamentos para se concentrar nos gastos domésticos”, avisa Elio Ohep, diretor do site www.petroleumworld.com, em Caracas. Ele lembra que o orçamento do Estado para 2009 foi feito com uma base de US$ 60 o barril. Ontem, o petróleo venezuelano (mais pesado e viscoso, portanto, mais barato) não ultrapassava US$ 40.
Oposição exagera
É um desastre para uma economia já em desaquecimento (o PIB foi de 4,9% em 2008, contra 8,7% em 2007 e uma média de 12% desde 2003) e fortemente dependente dos gastos públicos. As nacionalizações sucessivas esfriaram o capital privado e fizeram fugir os investidores estrangeiros. Hugo Chávez deu prioridade a novas alianças com China, Rússia e Irã, países cujas perspectivas são sombrias em 2009.
Mas o quadro não é tão negro quanto pinta a oposição venezuelana. Caracas tem US$ 40 bilhões de reservas e vários outros bilhões (ninguém sabe exatamente quanto) nos fundos geridos de maneira discricionária pelo presidente. O baixo nível da dívida pública permite a Caracas pedir empréstimos nos mercados internacionais. Chávez pode também anunciar uma desvalorização da moeda, embora esta decisão possa implicar em perda de controle sobre a inflação, já a mais alta do continente.
Nesse contexto, o governo Chávez vai depender ainda mais que o previsto das licitações que serão feitas em junho dos quatro primeiros blocos de exploração de petróleo na Bacia do Orenoco. Para Elio Ohep, o baixo preço do petróleo não vai frear o apetite das empresas estrangeiras: “É um bom negócio até se o barril chegar a US$ 15, com um risco zero, já que as reservas são comprovadas. É só explorar e produzir”.
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