Jason Cruz/Wikicommons
Nova York tem quase 140 mesquistas, como essa no bairro do Harlem; comunidade muçulmana passa de 1 milhão de habitantes
O clima de paranoia e discriminação aos muçulmanos no período seguinte aos atentados de 11 de setembro de 2001 levou as autoridades norte-americanas a recorrerem a meios, no mínimo, polêmicos para combater supostas ameaças de terrorismo no país. Se no âmbito externo, chamaram atenção as violações aos direitos humanos em prisões como as de Guantánamo e Abu Ghraib, além das invasões de Afeganistão e Iraque, dentro dos Estados Unidos, foi a supressão de direitos civis que se tornou o modus operandi da chamada “guerra ao terror”.
Nesta semana, documentos oficiais revelaram novos detalhes dessa história. De acordo com a agência Associated Press, o Departamento de Polícia de Nova York recorreu a métodos de investigação normalmente usados no combate ao crime organizado para monitorar mesquitas e conseguir informações sobre lideres da comunidade muçulmana.
Além de manter uma rede de informantes dentro das mesquitas, a polícia anotava placas dos carros de fieis e teria instalado câmeras de vigilância e gravado sermões nos templos religiosos islâmicos.
As investigações teriam, inclusive, extrapolado os limites da Big Apple, chegando a cidades no Estado vizinho de Nova Jersey, o que gerou ainda mais críticas à ação da polícia.
Segundo os documentos, as investigações seguiram padrão de espionagem, com informantes relatando periodicamente os assuntos discutidos nas mesquitas. Em setembro de 2005, quando a publicação de uma charge do profeta Maomé causou revolta em muçulmanos de todo o mundo, a polícia novaiorquina ficou atenta às reações dos líderes religiosos locais, que foram majoritariamente pacíficas.
“Parece horrível para mim que a polícia de Nova York esteja tratando toda uma comunidade religiosa como potenciais terroristas”, criticou o advogado e defensor dos direitos civis Jethro Eisenstein. Ele é autor de uma ação que acusa o Departamento de Polícia por décadas de espionagem ilegal contra manifestantes e dissidentes políticos.
Efe
No processo, conhecido como caso Handschu, a Justiça determinou os meios que a polícia pode utilizar para obter informações de inteligência. Para Eisenstein, os novos documentos provam que essas regras foram violadas.
Tanto o comando da polícia quanto o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg (foto ao lado), afirmam que todas as investigações foram iniciadas após pistas sobre atividades ligadas a ações terroristas, e que não houve monitoramento preventivo das mesquistas.
No entanto, oficiais e ex-agentes citados nos documentos obtidos pela Associated Press declararam que não seguiam pistas e que a ordem para vigiar a comunidade muçulmana partia do alto escalão do Departamento.
No fim do ano passado, as principais lideranças muçulmanas de Nova York faltaram ao tradicional café da manhã que Bloomberg oferece às comunidades religiosas da cidade, em protesto contra o que classificam como ação discriminatória por parte da polícia.
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