A política comercial do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, baseada principalmente na formalização de TLCs (tratados de livre comércio), tem recebido críticas de economistas, empresários e partidos de oposição no país.
Desde que assumiu o poder, em agosto de 2010, Santos desobstruiu o diálogo para o acordo com a Coreia do Sul, implementou o polêmico TLC com os Estados Unidos e iniciou negociações com uma série de países, como Costa Rica, Turquia e Israel, além de ter assinado um tratado com a União Europeia. Até o final de seu mandato, em 2014, o governante pretende ter mais de 12 TLCs vigentes, intensificando as relações comerciais com mais de 50 países.
Efe (31/07/2012)
Santos se reúne com o subsecretário de Estado adjunto dos EUA Bill Burns (segundo da direita para a esquerda), em Bogotá
Apesar do aumento do volume comercial, os acordos fragilizam a indústria colombiana e nem sempre garantem bons resultados para o setor agropecuário, segundo analistas ouvidos pela reportagem do Opera Mundi.
Um dos grupos que critica a política de Santos é o ProIndústria. “Só é bom fazer acordos internacionais de comércio quando temos o que vender e como vender, mas é perigoso e irresponsável assinar tratados através dos quais você só poderá comprar”, diz o porta-voz da entidade, Guillermo Rodríguez.
No caso do pacto com os EUA, que começou a funcionar há pouco mais de um mês, as desvantagens para a Colômbia já ficaram evidentes, segundo o economista Eduardo Sarmiento. “O TLC resultou num aumento de mais de 35% das importações de alimentos. Enquanto os EUA mantêm seus subsídios, a Colômbia diminui suas tarifas rapidamente.”
União Europeia
De acordo com o governo colombiano, o TLC assinado em junho com a União Europeia deverá representar um acréscimo no PIB de aproximadamente 0,46%, enquanto as exportações e importações cresceriam 0,71% e 1,73%, respectivamente.
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“A integração comercial com o maior bloco da era moderna, como é a União Europeia, com seus 27 países, representa o início de uma nova era de crescimento para a economia da Colômbia, o que será refletido em mais empregos, menos pobreza e melhor qualidade de vida”, afirma Sérgio Díaz-Granados, ministro de Comércio colombiano.
O Partido Liberal, porém, acredita que os setores lácteo e pecuário poderão ser afetados com a chegada de produtos europeus mais baratos e subsidiados. Os liberais pedem, inclusive, que o governo apresente uma alternativa para os pouco mais de 400 mil pequenos produtores colombianos que deverão ser prejudicados.
Coreia do Sul
O acordo com a Coreia do Sul, por sua vez, foi mais difícil de ser concluído devido à intenção dos dois países de “proteger alguns de seus setores produtivos”, segundo Díaz-Granados. O ministro afirma que “o grande ganhador foi o setor agrícola colombiano”, mas reconhece que em “uma negociação não se pode ganhar em tudo”.
Dessa forma, o próprio governo admite que a indústria colombiana poderá ser afetada pelo acordo. Nos últimos 20 anos, a produtividade coreana tem aumentado 400%, enquanto esse índice na Colômbia é de apenas 20%.
“O país não possui uma atividade que possa equiparar os benefícios econômicos e sociais que a indústria alcança. Renunciar a ela seria abraçar indefinidamente o subdesenvolvimento”, diz Julio César Peluffo Jhon, um dos principais representantes da Recalca (Rede Colombiana de Ação Contra o Livre Comércio).
Até mesmo os benefícios para os setores agropecuários, destacados pelo governo, são questionados por Peluffo, que lembra que os produtos do país competirão com os de EUA, China e União Europeia, mais bem posicionados geograficamente em relação à Coreia, além de terem melhores condições de cumprir as normas sanitárias locais. “As vantagens que o setor agrícola poderia ter através do suposto crescimento das exportações não são mais que uma fantasia.”