Os britânicos não são lembrados no exterior somente pela pontualidade e pelo gosto por chás. Eles também são mundialmente conhecidos pelo elevado consumo de bebidas alcoólicas. Não é nada incomum encontrar grupos de pessoas cambaleando de madrugada pelas ruas de Londres, após uma noitada em um pub. São homens, mulheres, jovens e velhos, que inevitavelmente causam um grande custo ao governo por causa de doenças e acidentes relacionados ao álcool.
Roberto Almeida/Opera Mundi
Vista interna de um típico pub em Londres. A maioria dos bebedores em excesso no Reino Unido é formada por homens
E tentativa de combater essa realidade tão britânica, o premiê David Cameron estuda implantar uma nova e polêmica medida: 'celas portáteis' para conter pessoas embriagadas. A ideia é mantê-las presas por uma noite, sob acompanhamento policial, até que estejam sóbrias e tenham condições de voltar para casa em segurança.
De acordo com dados do governo, os gastos relacionados ao abuso de álcool chegaram a 2,7 bilhões de libras esterlinas (cerca de R$ 8 bilhões) por ano, um “escândalo da sociedade” para Cameron. Os britânicos que se embriagam rapidamente nos pubs em todo o país são conhecidos como “binge drinkers” – na tradução literal, bebedores em excesso.
Os dados mais recentes de consumo de álcool na Inglaterra, do NHS Information Centre for Health and Social Care, apontam que, em 2009, 69% dos homens e 55% das mulheres disseram ter bebido ao menos uma vez na semana antes da pesquisa, sendo que 37% dos homens bebem mais de 4 unidades de álcool (1 litro) por semana.
De acordo com a rede estatal BBC, o premiê também sinalizará apoio a um preço mínimo para a unidade de bebida alcoólica no Reino Unido. Na ilha, cada unidade equivale a cerca de 270 mililitros de cerveja e custa em torno de 60 pence (R$ 1,80). As cidras são as bebidas mais baratas no mercado, com garrafas de dois litros custando em torno de 1 libra (cerca de R$ 2,70).
Reação
A reação da indústria foi imediata. O porta-voz da Wines and Spirits Trade Association, Gavin Partington, afirmou que colocar um preço mínimo nas bebidas é uma medida vazia. “Isso não atinge o abuso do álcool e pune a vasta maioria de consumidores responsáveis. Como ministros do governo sabem, ela também é provavelmente ilegal”, disse, em nota.
Entre os britânicos, o “binge drinking” precisa ser atacado de outra forma. “Introduzir as 'celas portáteis' é problemático”, acredita o estudante e produtor Barnaby Murtaugh. “Por melhores que sejam as intenções de Cameron, elas não resolvem o problema, que é cultural.”
Segundo Murtaugh, a razão pela qual as pessoas atingem esse estado de embriaguez é que elas bebem logo após o trabalho, durante horas, antes de ir para as festas no centro da cidade. “É preciso de uma forte mudança cultural na maneira de pensar a bebida para que mudanças reais aconteçam”, disse ao Opera Mundi.
“Acho que esse é o jeito que políticos tanto da esquerda como da direita lidam com problemas sociais complexos: colocando um pano sobre a mancha no tapete”, avalia Anthony Harris, estudante da Universidade de Londres. “Em outras palavras, acho que Cameron precisa que o Estado faça um debate sério, com participação de especialistas, sobre abuso de álcool.”
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