Atualizada às 12h23
O primeiro-ministro interino da Ucrânia, Arseniy Yatsenyuk, disse nesta sexta-feira (11/04) aos líderes da parte leste do país, onde manifestantes pró-Rússia vêm ocupando prédios públicos e exigindo referendos, que está comprometido a dar mais poder a essas regiões. O anúncio foi feito após o término do prazo de 48 horas que o governo havia dado aos ativistas para que deixassem os prédios, sem sucesso.
Em uma reunião na cidade de Donetsk com líderes que não incluíam representantes dos manifestantes, segundo a agência de notícias AP, Yatsenyuk não esclareceu como suas ideias se relacionam com as demandas dos ativistas nem com a proposta de federalização defendida pela Rússia.
Agência Efe
Em Donetsk, manifestantes protestam em frente a prédio governamental ocupado desde domingo (06/04)
“Não há separatistas entre nós”, afirmou Gennady Kernes, prefeito de Carcóvia, onde os manifestantes ocuparam um prédio público no começo da semana, tendo sido retirados de lá pelas autoridades.
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Em Donetsk, os ativistas chegaram a declarar independência e criar um novo governo, exigindo um referendo sobre a secessão, como o que foi realizado na Crimeia. Agora, entretanto, a demanda é que se realize um referendo sobre autonomia com a possibilidade de, posteriormente, escolher entre permanecer parte da Ucrânia ou se juntar à Rússia.
A Rússia, que foi acusada pelos Estados Unidos de estar por trás dos protestos no leste da Ucrânia, negou envolvimento nas manifestações e nas ocupações de prédios públicos. O chanceler russo, Serguei Lavrov, afirmou hoje que Moscou não tem intenção de anexar o leste ucraniano como fez com a Crimeia. O governo russo, entretanto, já alertou para a possibilidade de guerra civil se as autoridades ucranianas fizerem uso de força contra os manifestantes.
“Nós queremos que a Ucrânia continue inteira com suas fronteiras atuais”, disse Lavrov. O apelo da Rússia é para que a Ucrânia mude sua Constituição e se torne um Estado federalizado, em que as regiões teriam mais controle sobre seus assuntos internos. A Ucrânia, até agora, resistiu a essa proposta, dizendo que isso firmaria a base para a desintegração do país.
Fornecimento de gás
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, escreveu ontem uma carta para 18 países europeus, dizendo que a dívida ucraniana de US$ 2,2 bilhões pelo gás russo era “crítica” e o trânsito do gás para a União Europeia está agora sob ameaça. Ele também ameaçou cortar o fornecimento do combustível para a Ucrânia.
Um terço do gás da União Europeia vem da Rússia e metade desse combustível passa por oleodutos em território ucraniano. Putin acusa a UE de causar a situação atual de crise, deixando seu país “sem alternativa” além de endurecer sua abordagem.
Agência Efe
O presidente Vladimir Putin sugeriu que o fornecimento de gás russo para a União Europeia pode ser afetado pela crise na Ucrânia
Enquanto isso, a Ucrânia se prepara para processar a companhia russa Gazprom, segundo informações da RT. O ministro da Energia, Yuri Prodan, assegurou ao Parlamento ucraniano que tem formalizado as reclamações sobre o preço do gás desde “o primeiro dia na nova posição”, em fevereiro deste ano. No mesmo discurso, ele disse que a Ucrânia vai procurar gás em outros países da Europa, para que o país esteja seguro caso a Rússia corte o fornecimento.
“A Ucrânia não pode pagar um preço tão político, antieconômico, então agora estamos negociando com a União Europeia sobre entregas reversas para nós”, afirmou Prodan. Segundo ele, a Ucrânia começará urgentemente a comprar gás europeu, com a companhia alemã RWE e uma empresa francesa que não foi identificada com as maiores chances de serem as primeiras a “socorrer” os ucranianos.
A Polônia e a Hungria podem fornecer uma quantidade adicional, mas menor, com a possibilidade de que a Eslováquia também ajude. O governo eslovaco, entretanto, quer primeiro conversar com a Ucrânia, a Rússia e a União Europeia, para garantir que a exportação de gás não viole os contratos existentes. A legalidade de fluxos de gás reversos na Europa foi questionada pelo CEO da Gazprom, Aleskey Miller, na semana passada.
Tropas russas
A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) afirma que até 40 mil tropas russas estão próximas à fronteira com o leste da Ucrânia. As imagens obtidas por satélites também mostram centenas de tanques enfileirados e veículos blindados aparentemente esperando por ordens, segundo o jornal britânico The Guardian.
“Isso é uma força capaz, pronta para ir”, afirmou o brigadeiro Gary Deakin, responsável pelas operações de crise e pelo centro de manutenção da Otan em Mons, na Bélgica. O secretário da Otan, general Anders Fogh Rasmussen, em visita à Bulgária, instou a Rússia mais uma vez a tirar suas tropas da fronteira com a Ucrânia, dizendo que a aliança dará passos legítimos para lidar com a instabilidade criada pelas ações “ilegítimas” da Rússia.
Moscou, até agora, diz que suas tropas não estão fazendo nenhum movimento estranho ao habitual e que não há nenhuma razão para alarme. A Rússia chegou a dizer que algumas das imagens liberadas pela Otan eram de exercícios realizados em agosto do ano passado.
Lavrov afirmou acreditar que a solução para crise na Ucrânia é uma reforma constitucional “profunda”, que garantiria seu status de país “não-alinhado”, ou seja, uma garantia de que os ucranianos não se juntarão à Otan.
Enquanto isso, a Rússia assegurou que não vai devolver o presidente deposto Viktor Yanukovich, que teve uma ordem de busca e captura expedida em seu país, mas segue refugiado em território russo, à Ucrânia. “Não vemos fundamentos para sua entrega”, afirmou em entrevista coletiva o procurador-geral russo, Yuri Chaika, que reiterou que, para as autoridades russas, “Yanukovich é o presidente legítimo da Ucrânia”.