Atualizada às 8h00 do dia 24/07
O dirigente do partido venezuelano Voluntad Popular Leopoldo López começou a ser julgado na tarde nesta quarta-feira (23/07), em Caracas. Preso desde fevereiro, após se entregar durante uma marcha, o opositor é acusado de incitar violência na manifestação opositora de 12 de fevereiro, que resultou em mortes e danos na sede do Ministério Público. A data marcou o início de uma onda de protestos no país, derivando em mais de 40 mortos.
Uma concentração diante do Palácio de Justiça, localizado no centro de Caracas, foi convocada na manhã desta quarta pelo partido de López e reuniu alguns apoiadores. Opositores como a deputada cassada María Corina Machado e o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, compareceram para demonstrar apoio ao dirigente, que foi um dos promotores da campanha “La Salida”, que propunha presença nas ruas até a derrubada do governo Nicolás Maduro.
Luciana Taddeo/Opera Mundi
Cerca de 50 pessoas compareceram hoje a uma manifestação em apoio a López, na capital venezuelana
Horas antes do início da audiência, o advogado de defesa Juan Carlos Gutiérrez afirmou que o julgamento poderia durar dois ou três meses. A defesa diz que suas provas não foram aceitas pela juíza, e por isso entraram com um recurso para que o julgamento fosse adiado. Cerca das três da tarde, a esposa de López, Lilian Tintori, escreveu na conta de Twitter de seu marido que o julgamento estava começando.
“É um julgamento que começa com grandes violações dos direitos fundamentais. Sem provas não pode ter julgamento justo”, argumentou o advogado Gutiérrez a jornalistas durante a manhã. A esposa de López, por sua vez, reiterou que o julgamento é injusto. “O sistema de justiça, por ordem de Maduro, não quer admitir nenhuma das 65 testemunhas presenciais que estão dispostas a contar o que aconteceu, nem um dos 15 vídeos dos repórteres que cobriam os fatos”, relatou.
O partido de López também denuncia que ele “foi objeto de um severo isolamento no qual se vulneraram seus direitos mais fundamentais” na prisão militar. Segundo a sigla, o dirigente “foi várias vezes castigado arbitrariamente com a suspensão das visitas de sua família, as únicas pessoas que podiam vê-lo desde 18 de fevereiro”.
A promotora geral da República, Luisa Ortega Díaz, no entanto, nega que o opositor esteja em estado de isolamento e garante que todos seus direitos estão sendo respeitados.
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O pai de López, que contou ter visto seu filho pela última vez na sexta-feira da semana passada, disse que o dirigente estava “muito bem, convencido do que fez, lendo, se preparando, escrevendo dois livros”. Sobre sua condição física, disse que ele está “muito forte” e fazendo exercícios físicos “com muita disciplina”. “Nós cristãos acreditamos em milagre (…) eles podem fazer o milagre, os homens não”, disse, apontando para uma igreja próxima ao Palácio de Justiça, quando questionado por Opera Mundi sobre suas expectativas para o julgamento.
Durante a noite, Maduro afirmou que o dirigente é uma “peça” dos “gringos” na Venezuela desde jovem e responsável por crimes, violência e destruição. Para o presidente venezuelano, o dirigente “tem que pagar diante da Justiça e vai pagar, assim de simples”, expressou. “Que siga a Justiça em seu próprio caminho, com seus próprios métodos, com sua própria forma. O que nós temos que fazer é governar e continuar impedindo que grupos como este não façam mais dano ao país”, afirmou, justificando que López desafiou o Estado, a democracia e a Constituição.
Após as oito da noite do horário local, a esposa de López informou por Twitter sobre o final da primeira audiência. “Finaliza a primeira jornada do julgamento. Leopoldo e os estudantes fizeram uma defesa brilhante”, escreveu, citando quatro jovens também acusados de instigação. O partido Voluntad Popular informou que o julgamento continuará no dia 6 de agosto.