A pressão internacional sobre o programa nuclear iraniano, quase um consenso na parte do mundo que se convencionou chamar de Ocidente, faz lembrar as acusações de que o Iraque detinha armas químicas, argumento usado para justificar a invasão ao país em 2003 e a conseqüente derrubada de Saddam Hussein. Com o tempo, provou-se que a conclusão foi prematura e não havia tais armas. Da mesma forma, é prematuro condenar o Irã e impor sanções.
A avaliação é do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que hoje (3), ao lado da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, reafirmou a posição brasileira de manter as negociações sem punir Teerã. Os dois concederam entrevista em Brasília, onde Hillary encontrou-se também com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que, recentemente, disse que países como os Estados Unidos deveriam eliminar seus arsenais antes de palpitar sobre os planos iranianos (leia mais).
Fernando Bizerra Jr./EFE
Hillary conversa com Amorim durante passagem pela capital federal
A secretária, que realiza um giro pela América Latina, comanda a diplomacia dos EUA e lidera uma campanha internacional contra o programa nuclear iraniano. Segundo ela, o governo iraniano tem usado discursos diferentes nas conversas com cada país, o Brasil incluído, somente para ganhar tempo e evitar as sanções internacionais.
“Vemos o Irã falando com países alguns, como Brasil, Turquia e China, e dizendo coisas diferentes para cada um, como meio de evitar as sanções”, afirmou. Os Estados Unidos e a União Europeia concordam que o momento para ação é agora, e estamos trabalhando nesse sentido no Conselho de Segurança [das Nações Unidas]”.
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Questionado sobre a insistência do Brasil em defender o diálogo com o Irã, Amorim recordou o conflito com o Iraque. “É sempre arriscado comparar situações, mas eu lembro que era embaixador na ONU na época em que se começou a discutir o suposto programa de armas de destruição em massa do Iraque. O discurso era mais ou menos o mesmo, e as armas iraquianas nunca se materializaram”, afirmou. Ele ressaltou, porém, que não acredita em guerra com o Irã, já que a própria Hillary disse que as sanções seriam para forçar o Irã a voltar à negociação e, assim, evitar um conflito armado.
Hillary e Amorim destacaram que, apesar da divergência sobre o método a ser utilizado, Brasil e Estados Unidos têm o mesmo objetivo: evitar que o Irã desenvolva uma bomba nuclear. A secretária, inclusive, disse respeitar a posição brasileira e esperar uma participação maior do Brasil para trazer o Irã de volta às negociações.
Enriquecimento de urânio
Para o ministro brasileiro, o governo iraniano já se mostrou disposto a aceitar um acordo com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) e o grupo de países que estava participando das negociações (EUA, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha) para fazer no exterior o enriquecimento do urânio para suas usinas. No entanto, as duas partes acabaram acirrando suas posições nos últimos meses.
O presidente Mahmoud Ahmadinejad já confirmou que o país está fazendo o enriquecimento do urânio a 20%. O temor das potências ocidentais e da AIEA é que o país aumente o enriquecimento até 90%, o que permitiria que o Irã fabricasse uma bomba nuclear – Teerã nega ter essa intenção.
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“É claro que a situação fica cada vez mais difícil, mas acho que ainda dá para voltar a negociar, já que havia esse consenso. Por que a diretoria AIEA não chama mais uma reunião? Mesmo para quem teme que eles desenvolvam uma bomba, isso não será feito em dois meses. Ainda há tempo para negociar”, disse Amorim. Mais cedo, o presidente Lula disse que “não é prudente” pressionar o presidente Ahmadinejad. “O prudente é estabelecer negociações” (leia mais).
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