O presidente russo, Vladimir Putin, instruiu neste domingo (23/03) sua equipe de governo para que seja concluído em uma semana o plano para criar as instituições administrativas da Federação Russa no recém-anexado território da Crimeia.
Conforme divulgado pelo Kremlin, uma série de agências e ministérios russos recebeu instruções diretas de Putin para estipular até o próximo sábado (29/03) as medidas necessárias para assegurar na região autoridade federal, regional, municipal e administrativa da Rússia.
“O governo vai emitir seu primeiro relatório sobre o assunto em duas semanas e depois passará a reportar-se mensalmente”, informa o Kremlin. O relatório deverá informar periodicamente qual a situação dos mais novos entes federativos russos (República da Crimeia e cidade de Sebastopol), cuja incorporação a Moscou foi promulgada por Putin há dois dias.
Agência Efe
Putin instruiu ministros e assessores a apresentar até sábado plano sobre órgãos de poder na Crimeia
Ucrânia: alvo de Putin é país todo
Milhares de tropas russas estão na fronteira da Ucrânia, prontas para cruzá-la e atacar o país “a qualquer hora”, de acordo com o secretário do Conselho de Segurança Nacional e de Defesa da Ucrânia, Andrei Parubi, neste domingo (23/03). “O alvo de Putin não é a Crimeia, mas toda a Ucrânia. Na imaginação maníaca de Putin, devemos fazer parte da Rússia”, anunciou Parubi, à AFP.
“As forças russas que estão na fronteira ucraniana agora são muito volumosas e estão muito preparadas”, reforçou hoje o general da Força Aérea dos EUA e comandante supremo da Otan (aliança militar ocidental) na Europa, Philip Breedlove, à Reuters. Ele acrescentou também que a Otan está apreensiva que isso implica em uma ameaça à Transnítria — região autônoma desde 1990 da Moldávia localizada na fronteira oeste da Ucrânia, com 30% de população russa.
Efe
Militar ucraniano carrega bandeira do país: tropas russas avançam na fronteira da Ucrânia, alegam
No entanto, a Rússia nega que tenha planos de concentrar suas tropas na fronteira ucraniana. “O Ministério de Defesa russo observa todos os acordos internacionais no que tange à restrição do número de tropas nas áreas fronteiriças da Ucrânia”, rebateu em seguida o vice-ministro da Defesa, Anatoli Antonov, de acordo com a Interfax. “Nós estamos estritamente atentos às nossas obrigações nestes tratados”, completa.
Também neste domingo, o presidente da Belarus, Aleksandr Lukashenko — um dos países que mais respaldam a Rússia na região —, afirmou que reconhece “de fato” a incorporação da Crimeia ao território russo. “Estaremos unidos à Rússia. Desenvolveremos uma política ponderada, mas quando for necessário, nos colocaremos sempre junto a Putin”, ressaltou, segundo a Efe.
Tropas russas tomam bases ucranianas
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Nesta manhã, as tropas russas tomaram o controle do Centro de Operações Psicológicas e de Informação da marinha ucraniana em Simferopol, capital da Crimeia, uma das últimas unidades militares de Kiev na península. Nas últimas 24 horas, tropas russas atacaram e tomaram pelo menos quatro navios da marinha ucraniana e também duas unidades militares leais a Kiev, últimos focos de resistência ao cerco russo.
[Manifestante ucraniano pede neste domingo que as tropas russas 'voltem para casa']
Mais tarde, o navio de guerra ucraniano “Slavutych” foi invadido pelas tropas russas no porto de Sebastopol. De acordo com a Al Jazeera, os tripulantes ucranianos se recusaram a deixar a embarcação, trancando-se em cabines. Contudo, os russos depredaram as portas e as janelas do navio e a tripulação ucraniana foi forçada a deixar o local, disseram fontes ao veículo árabe.
Depois das perdas, o Ministério da Defesa da Ucrânia ordenou à tripulação do navio de guerra “Konstantin Olshanski” que resistisse até o fim ao defender a última embarcação ucraniana em águas da Crimeia. “Olshanki tem todo o seu armamento a postos, e os marinheiros têm em mão armas de tiro”, disse em entrevista coletiva o ministro da Defesa, Igor Teniukh.
No sábado (22/03), as tropas russas atacaram com carros blindados uma base militar ucraniana na cidade de Belbek, localizada no sul da Crimeia, — uma das últimas instalações militares na península ainda sob o controle de Kiev. Segundo o veículo Ukrainskaya Pravda, um jornalista ficou ferido e o comandante da base aérea ucraniana, Yuli Mamchur, foi detido após ter negado se render às tropas russas. Hoje, o presidente interino ucraniano, Aleksandr Turchinov, demandou a libertação de Mamchur. “Exigimos o fim da agressão contra a Ucrânia e nossos cidadãos”, disse Turchinov.
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Ontem, cerca de 200 manifestantes pró-russos invadiram uma base aérea ucraniana em Novofedorivka, cidade ao oeste da Crimeia, onde hastearam a bandeira da Marinha russa. De acordo com AFP, os militares ucranianos jogaram bombas de gás lacrimogêneo, na tentativa de impedir que a multidão entrasse na unidade — o que não conseguiram evitar.
Em seguida, a ex-premiê ucraniana Yulia Tymoshenko declarou que tem certeza que “a Ucrânia terá Crimeia de volta” e disse que a principal tarefa do governo ucraniano é impedir que o presidente russo, Vladimir Putin, “avance na Ucrânia continental”, segundo o Kyiv Post.
Há quase dez dias, o comandante da base aérea ucraniana, Yuli Mamchur, havia advertido aos altos comandantes militares de Kiev que “caso que não fossem tomadas as correspondentes decisões”, sua unidade se veria obrigada “a atuar de acordo com o Código das Forças Armadas da Ucrânia até o extremo de abrir fogo”, segundo a Efe. No entanto, Mamchur admitiu que os militares ucranianos na península sabem que não poderão “resistir por muito tempo contra as tropas russas melhores armadas e preparadas”.
Efe
Militares ucranianos lamentam após tomada de bases pelas tropas russas na Crimeia
Entenda o caso
Na sexta-feira (21/03), o presidente Vladimir Putin promulgou a incorporação da Crimeia e do porto de Sebastopol (que era ucraniano, porém alugado pelos russos até então) à Rússia. Com a movimentação, os territórios se tornaram as entidades 84 e 85 da Federação. A ratificação da anexação foi feita por unanimidade pelo Senado russo, um dia após a câmara baixa do parlamento (Duma) fazer o mesmo.
A promulgação aconteceu no mesmo dia em que o primeiro-ministro da Ucrânia, Arseni Yatseniuk, assinou com os chefes de Estado da União Europeia o acordo de associação ao bloco. Fora a recusa do então presidente Viktor Yanukovich em assinar o termo que desatou a crise que terminou com a deposição dele e provocou a anexação da Crimeia pela Rússia, em outubro de 2013.
Efe
População da Crimeia e Sebastopol celebram incorporação de seu território à Federação Russa
Na quinta (20/03), o ministro de Relações Exteriores da Rússia,Serguei Lavrov, publicou uma lista de sanções a dez oficiais e legisladores norte-americanos — entre eles, o senador John McCain — em resposta à retaliação dos EUA feita na segunda (17/02). Em seguida ao comunicado de Lavrov,o presidente Barack Obama anunciou sanções adicionais aos oficiais do governo russo.
O referendo que iria definir se a Crimeia, república autônoma na Ucrânia, se juntaria à Rússia, aconteceu no domingo (16/03). Com todos os votos apurados, 96,7% dos participantes disseram sim à proposta. Em seguida, Vladimir Putin assinou o acordo de anexação oficial e a Ucrânia imediatamente declarou não reconhecer a legitimidade do tratado bilateral de incorporação.