Uma dúzia de mulheres, na maioria jovens, tecla freneticamente em computadores num escritório moderno dentro de um galpão adaptado. É difícil imaginar que, neste local, em uma rua estreita na zona norte de Londres, pode ser decidido o nome do próximo primeiro-ministro britânico nas eleições gerais de 6 de maio. Pois esta é a sede da Mumsnet (“rede das mamães”), um site com cerca de um milhão de membros no Reino Unido que reúne mães com filhos pequenos e em situação financeira relativamente boa.
“Estas são as primeiras eleições nas quais sites de relacionamento farão uma diferença. Em 2005, não havia Twitter nem Facebook e quase ninguém pedia votos pela internet”, diz a editora-assistente da Mumsnet, Catherine Hanly, ao Opera Mundi. “Agora, eles só têm quatro semanas para apresentar propostas ao eleitorado, e as mulheres representam um voto decisivo. Por isso, estamos cobertas de pedidos de candidatos”.
Com as pesquisas indicando empate técnico e a maioria das mulheres ainda indecisa, muitos comentaristas chamam essa disputa de “eleições Mumsnet”. A influência da Mumsnet é tão grande que, há poucas semanas, quando o website comemorou seus dez anos na sede do Google, o primeiro-ministro Gordon Brown apareceu com a esposa, afirmando em discurso que a rede é parte de uma “revolução social” em andamento no Reino Unido.
Mais tarde, em entrevista online, Brown provocou a opinião pública ao se esquivar da pergunta de uma “mumsneteira” sobre seu biscoito favorito (ele simplesmente não notou a pergunta, diz Hanly). Jornais direitistas ridicularizaram Brown e seu rival conservador, David Cameron, chegou a ser sarcástico no parlamento.
“Realmente passaremos mais seis meses com um primeiro-ministro que fica em seu esconderijo e não é capaz nem de decidir que tipo de biscoito quer comer?”, ironizou Cameron.
Logo depois, no entanto, Cameron viu-se em apuros em seu bate-papo online por não ser capaz de responder a uma pergunta sobre a distribuição gratuita, pelo Serviço Nacional de Saúde, de fraldas para crianças deficientes – algo que ele deveria saber, pois tinha um filho deficiente, Ivan, que morreu no ano passado (Hanly acrescenta que o desempenho de Cameron também foi comprometido por sua conexão lenta à internet). Ele tentou consertar o tropeço desesperadamente e acabou viajando até a cidade de Bristol, no sudoeste inglês, para tomar chá e conversar sobre fraldas com a mãe que fez a pergunta.
Indecisão
E então, quem está vencendo a batalha decisiva em torno da Mumsnet? Uma pesquisa do site indica que, na verdade, foi o apoio aos liberal-democratas(o menor dos três principais partidos britânicos) que disparou, chegando a bater 44% das intenções. Isso ocorre depois de uma liderança inicial da oposição conservadora, clara favorita até recentemente na campanha eleitoral. E ecoa a tendência nacional depois da intervenção bem-sucedida do líder LibDem, Nick Clegg, no debate da TV da semana passada.
As “mumsneteiras” enfatizam que sua decisão final dependerá do detalhamento das políticas partidárias relacionadas às preocupações das mães – causas como licença-maternidade e melhores salários para as mulheres -, além do estado da economia. No entanto, segundo sociólogos, o fato de elas serem mais propensas do que outros grupos a mudar suas preferências, tenderem a decidir na última hora e admitirem ser influenciadas inconscientemente pelo apelo pessoal dos candidatos significa que a disputa continua em aberto.
*Tradução: Alexandre Moschella.
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