Atualizado em 15/12/2018 às 14:10
Grupos que monitoram discursos de ódio registraram nesta semana que discursos antissemitas começaram a aparecer durante os últimos protestos dos “coletes amarelos” na França e acenderam um alerta entre as entidades judaicas. Entre as manifestações, estão cartazes, vídeos e ameaças feitas na rua e nas redes sociais contra judeus.
Sammy Ghozlan, chefe do Bureau Nacional de Vigilância conta o Antissemitismo (BNVCA), organização conservadora dedicada a denunciar casos de antissemitismo na França, afirmou ao jornal Times of Israel que o movimento dos “coletes amarelos” “tem uma base antissemita que repete teorias da conspiração sobre judeus e poder”.
De acordo com o jornal, uma faixa com a inscrição “Macron puta de judeus”, em referência ao presidente Emmanuel Macron, teria aparecido em uma rodovia que liga Paris a Marselha. Ghozlan afirma que este tipo de linguagem “estava presente desde o princípio dos protestos e persiste”, apesar de existir “às margens” do protesto.
O jornal israelense Ynet afirma que a casa de Chabad Beth Loubavitch, centro de disseminação da religião judaica localizada na Champs Elysées, fechou suas portas pela primeira vez no último sábado (08/12) durante o Sabá, dia sagrado de descanso para o judaísmo, alegando falta de segurança por conta dos protestos. O periódico ainda cita uma sinagoga em Paris que alertou os fiéis a não frequentarem o templo durante os dias de manifestação.
O Ynet ainda relata um vídeo em que um manifestante não identificado diz que “foram os judeus que levaram Macron ao poder para que ele fosse sua marionete e eles estão puxando as cordas. Os judeus são responsáveis por baixar as taxas para os ricos e por toda a situação financeira [do país].” Segundo o jornal, em outro vídeo, uma pessoa vestida com colete amarelo afirma que “os judeus celebram enquanto os franceses não têm o que comer”.
A Associação Internacional de Cristãos e Judeus, que ajuda nos trâmites dos judeus que pretendem migrar para Israel, afirmou ao Ynet que os protestos na França levaram a um aumento de contatos de famílias que querem se mudar para o Oriente Médio.
“Na sexta passada [07/12], eu recebi cerca de dez telefonemas. O que é bem raro, porque, normalmente, ninguém liga de maneira nenhuma na sexta”, afirmou Uriel Saada, chefe da área francesa na Associação.
Protestos
Batizado de “Coletes Amarelos” em razão dos coletes de sinalização usados pelos manifestantes, o movimento começou em meados de novembro na França em protesto contra a alta do preço dos combustíveis.
Nas semanas seguintes à primeira mobilização, o evento ganhou força e se transformou em uma manifestação generalizada contra a queda do poder aquisitivo e contra alterações na cobrança de impostos feitas por Macron.
Em reposta ao crescimento dos protestos, o mandatário suspendeu o aumento do preço e anunciou um aumento de 100 euros no salário mínimo, depois de chegar a cogitar estado de emergência no país diante da escalada da violência – que levou à detenção de ao menos 1.700 pessoas.
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Cartazes antissemitas começaram a aparecer em protestos de "coletes amarelos" na França