No fim da tarde deste domingo (07/06), no Palácio de La Moneda, uma coletiva convocada às pressas oficializava a renúncia de Jorge Insunza, que ocupou durante 28 dias o cargo de ministro da Secretaria Geral da Presidência da República. A pasta será ocupada interinamente pela até então subsecretária Patricia Silva.
A queda de um ministro voltou a colocar o governo de Michelle Bachelet em problemas, os mesmos que ela esperava esquivar definitivamente em maio, quando realizou sua primeira reforma ministerial para frear os questionamentos com respeito aos casos suspeitos de corrupção surgidos no país – e que envolvem o governo e a oposição – e retomar o foco da agenda política nas reformas.
Fotos: Agência Efe
Insunza renunciou neste domingo e reabriu crise política no Chile
Insunza foi um dos nomeados, e claramente o que levantou maior polêmica, pois era o único dos novos ministros que exercia um cargo público – era deputado, eleito em 2013. Ele foi um dos envolvidos na chamada “dança das cadeiras” da última reforma ministerial, substituindo a democrata-cristã Ximena Rincón, que passou a comandar o Ministério do Trabalho.
Horas depois da sua nomeação, alguns meios comunicação chilenos publicaram notas a respeito de sua ligação com o lobista Enrique Correa, para quem trabalhou durante os anos de 2011 e 2012, na empresa de consultoria e lobby político ImaginAcción.
Na semana passada, novas descobertas surgiram em diferentes meios, e complicaram mais a situação, em especial a relação com empresas mineradoras privadas, como a Soquimich e o Grupo Luksic. Ambas estão envolvidas em casos que estão sendo investigados pela Justiça do Chile, relacionados com outras figuras políticas do país.
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Na quinta e sexta-feira (4 e 5/6), o semanário The Clinic publicou reportagens mostrando informes realizados por Insunza (enquanto era presidente da Comissão de Mineração da Câmara, e cobrando honorários para tal) para empresas mineradoras privadas interessadas em adquirir ou renovar concessões mineiras. A estatal Codelco também recebeu estes relatórios. O último desses informes foi feito em outubro de 2014 para a empresa Antofagasta Minerals, ligada ao Grupo Luksic.
Críticas à oposição
O próprio Jorge Insunza anunciou sua renúncia, na coletiva convocada no Palácio de La Moneda. O agora ex-ministro afirmou que não cometeu nenhum ilícito e que “todos os documentos mostrados pela imprensa estão dentro da lei, porém entendo que a cidadania hoje exige novos padrões com respeito à separação entre os mundos público e privado, por isso resolvi renunciar, para essa situação não atingir o governo”.
Contudo, antes de deixar o palácio presidencial, o ex-ministro – que não respondeu perguntas – dirigiu algumas palavras para a oposição, em especial ao partido opositor UDI, a quem acusou de pressionar pela sua saída e recordou seu envolvimento com o Caso Penta e o Caso Soquimich. “Vamos ver se a direita terá a coragem moral de assumir essa mesma postura, de se desprender dos cargos para encarar os questionamentos diante da Justiça”.
Bachelet, durante anúncio de reforma ministerial: primeira renúncia aconteceu menos de um mês depois de trocas
Insunza é o segundo ministro mais breve da história política chilena. O recorde ainda é de Felipe Echeverría, que foi ministro de Energia do governo de Sebastián Piñera (2010-2014) por três dias, e que também renunciou por denúncias de conflitos de interesses, por haver assessorado empresas dos setores de mineração e energia.
Outra controvérsia a respeito da renúncia de Insunza é que ainda não se sabe ao certo que ele poderá retornar ao anterior cargo de deputado. Embora o seu partido (PPD, Partido Pela Democracia, centro-esquerda) não tenha nomeado ninguém para o lugar após a sua ida ao ministério – foi iniciado um processo interno, no qual a favorita é a ex-ministra da Saúde Helia Molina –, o presidente da Câmara, Marco Antonio Núnez, declarou que a Casa terá que analisar seu regimento interno para avaliar se ele poderá retornar ao seu cargo ou se, uma vez que já existem primárias no partido, a mudança tornou-se irreversível.