No dia seguinte à volta de Manuel Zelaya a Honduras, calcula-se que 150 pessoas tenham sido detidas por causa de distúrbios. As prisões aconteceram após a dispersão dos simpatizantes do presidente deposto que se manifestavam em frente à embaixada brasileira. Além disso, 20 pessoas ficaram feridas e testemunhas disseram que duas pessoas morreram em decorrência da confusão, mas a informação não foi confirmada.
O delegado de polícia David Molina declarou aos jornalistas que cerca de 100 pessoas foram detidas por “não respeitar o toque de recolher” e outras 49 por participar de distúrbios. Molina disse ainda que as pessoas presas estão em um estádio de beisebol na Vila Olímpica, no extremo leste da capital hondurenha.
Segundo Molina, promotores dos direitos humanos, defensores de instituições privadas e representantes da Cruz Vermelha são testemunhas que os direitos dos detidos estão sendo respeitados. “Não é verdade que estejam sendo torturados”, enfatizou o delegado à agência EFE, em resposta às denúncias de maus-tratos aos presos.
Gustavo Amador/EFE
Manifestantes enfrentam policiais nos arredores da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa
Manifestações
Os protestos dos simpatizantes de Zelaya continuaram em várias zonas da cidade ao longo do dia, segundo a imprensa local. Os distúrbios registrados hoje deixaram dezenas de veículos com vidros quebrados e pneus furados. Também houve danos em residências particulares, restaurantes e outros comércios e edifícios, enquanto uma viatura foi incendiada.
Na embaixada brasileira, onde se encontra Zelaya, foi cortada a água, a energia elétrica e o fornecimento de comida, segundo declarou Francisco Catunda Rezende, encarregado de negócios brasileiros em Honduras, em entrevista à TV Globo. Zelaya se alimentou de pizza e água, levados por uma vizinha.
Na sede da embaixada brasileira, o presidente deposto fez hoje outra chamada para que a população saia às ruas e proteste pacificamente. Sua estratégia, enquanto espera por uma intervenção das Nações Unidas para tirar Roberto Micheletti do poder, é manter um grande número de manifestações pacíficas no país, aproveitando o entusiasmo resgatado de seus seguidores.
“Nosso apelo ao diálogo provocou fúria e tiros do governo golpista. O que temos recebido é a repressão. O mundo inteiro está assustado com a barbárie decorrente em Honduras”, disse Zelaya em entrevista concedida hoje à rádio hondurenha Globo.
Zelaya disse ainda que não espera invasões de Hugo Chávez, nem de outros países. “O que nós esperamos é o apoio da comunidade internacional reunida na ONU. O Exército não pode entrar na Embaixada do Brasil. Seria uma outra violação dos direitos dos hondurenhos”.
Segundo o analista político, economista e ex-candidato à presidência de Honduras Martin Barahona, coordenador geral da Frente Nacional Contra o Golpe de Estado, a situação justifica a convocação da Assembleia Nacional Constituinte. “A parte mais difícil do acordo de San José era a entrada de Manuel Zelaya”, disse Baharona ao Opera Mundi. “Agora, o governo de facto está mais enfraquecido, o país está mais isolado e isso vai justificar a maior pressão internacional, inclusive, o governo dos Estados Unidos estará habilitado para resolver a situação e levar Zelaya à presidência”.
Barahona acredita que, com a esperada chegada da missão da OEA, haverá medidas mais fortes. “Quanto mais tolo e apaixonado for o regime, mais a situação se complicará, as pessoas participarão mais. Se Micheletti resiste, a situação se torna mais incerta, porque a eleição não será reconhecida e a comunidade internacional não reconhecerá o novo presidente. O caminho para o retorno da democracia será a Assembleia. O pior cenário [que pode ocorrer] é que, nos próximos dias, o governo Micheletti saia como entrou: pela força”.
* Com reportagem de Federico Mastrogiovanni, da Cidade do México
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