O governo da Rússia anunciou nesta quinta-feira (02/10) que abriu processo contra altos funcionários da Ucrânia, entre eles o ministro da Defesa, Valeri Gueletéi, por “organizar assassinatos e genocídio” no país. A medida já havia sido defendida por separatistas do leste ucraniano.
De acordo com agências internacionais, o chanceler russo, Sergei Lavrov, afirmou ontem que já foram encontrados mais de 400 corpos em valas comuns próximas à região de Donetsk e definiu a evidência como “horrível” prova de um “crime de guerra”. “Esperamos que as capitais ocidentais não suavizem esse fato”, argumentou Lavrov. O número, no entanto, não foi confirmado por organismos independentes.
Fumaça proveniente do aeroporto de Donetsk após bombardeio realizado hoje
Os militares ucranianos são acusados “de organizar assassinatos em massa, usar métodos proibidos em guerra” e cometer “genocídio”, além de violar intencionalmente a Convenção para a Prevenção e a Sanção do Delito de Genocídio de 1948 durante os combates na zona do aeroporto de Donetsk entre 3 de julho e 5 de setembro.
A medida foi tomada pela Rússia após os separatistas terem encontrado, na semana passada, valas comuns onde estariam enterrados civis ucranianos.
Leia também: Ucrânia vivencia crimes contra humanidade por motivações étnicas
“Deram ordens com o objetivo de destruir por completo um grupo nacional, os russófonos, que vivem em território das autoproclamadas repúblicas de Lugansk e Donetsk”, diz o comunicado divulgado pelo porta-voz do CI (Comitê de Instrução da Rússia), Vladimir Markin.
Agência Efe
Casa destruída em Donetsk devido ao conflito entre Kiev e separatistas
Na última semana, Moscou afirmou que pretende levantar a questão em instituições legais internacionais – como Conselho da Europa, PACE (Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa) e OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa).
Até o momento, autoridades de Kiev não comentaram as declarações russas.
Valas comuns
De acordo com a agência Efe, os separatistas encontraram, até a quinta-feira passada (25/09), 40 corpos de civis em valas comuns. O primeiro-ministro da autoproclamada República Popular de Donetsk, Aleksander Zakharchenko, disse ao site Rusnovosti que os corpos foram achados em uma das três valas localizadas na cidade Nizhniaya Krinka e seus arredores. O líder separatista disse também que em outras duas fossas foram encontrados militares ucranianos e insurgentes, mas não especificou o número de corpos.
I thought “enough dead bodies!” when we came across another burial site outside #Donetsk. Reality of war. E.#Ukraine pic.twitter.com/3kTEZPkUN0
— Maria Finoshina (@MFinoshina_RT) 27 setembro 2014
A agência russa Pravda disse que separatistas exumaram, na semana passada, na presença de inspetores da OSCE, os restos mortais presentes em uma vala comum em Kommunar com quatro corpos: um homem e três mulheres, uma delas supostamente grávida. Todos vestiam roupas civis, estavam com as mãos amarradas e vestígios de tiros nas cabeças. Além disso, duas cabeças estavam completamente separadas dos corpos.
NULL
NULL
O perito do Instituto russo de Estudos Estratégicos Azhdar Kurtov afirmou que “cada vez mais fatos novos indicam que foram eliminadas pessoas que não tinham armas e não participavam das hostilidades no lado das milícias. Os restos desenterrados confirmam que essas pessoas foram torturadas: aos detidos cortaram partes dos corpos, foram queimados vários sinais nos corpos, incluindo símbolos fascistas. Esses fatos são motivo para iniciar uma investigação internacional”.
A agência russa lembra também da tragédia em Odessa ocorrida em 2 de maio, quando nacionalistas ucranianos incendiaram adversários dentro da Casa dos Sindicatos. A ação matou 48 pessoas e deixou 200 feridas. O governo ucraniano abriu uma investigação para apurar os acontecimentos, mas, passados mais de quatro meses, nenhum resultado foi apresentado.
Conflito
Apesar do acordo de trégua, autoridades da Ucrânia e separatistas disseram hoje que ambos têm o controle sobre o aeroporto da cidade de Donetsk, no leste do país. Os combates foram retomados nesta quinta.
“Segundo dados preliminares, a fase ativa da operação (para tomar o aeroporto) já terminou e atualmente se realiza a limpeza de instalações do recinto”, disse à agência russa Interfax o número dois dos separatistas na região, Andrei Purguin. De acordo com a Efe, no entanto, o governo ucraniano desmentiu a informação e disse que “todo o território do aeroporto de Donetsk continua sob o controle dos militares ucranianos”.