Em meio ao temor do crescimento do extremismo islâmico em algumas regiões da África, o governo do Senegal decidiu proibir o uso da vestimenta islâmica que cobre todo o corpo deixando somente os olhos expostos, conhecida como niqab (na cor preta) ou burca (azul).
O ministro do Interior senegalês, Abdoulaye Daouda, afirmou ser “uma questão de segurança nacional” com o objetivo de evitar que terroristas usem a vestimenta como disfarce.
MW / Flickr CC
Niqab
Cerca de 90% da população do Senegal é muçulmana. Embora o país não tenha sofrido nenhum ataque terrorista recentemente, as autoridades estão preocupadas com a expansão do grupo extremista Boko Haram, original da Nigéria, que tem usado mulheres e crianças em uma série de ataques suicidas recentes. No Senegal, cinco pessoas foram presas este mês por suspeita de estarem ligadas ao grupo terrorista nigeriano.
O Senegal não é o único país na África Ocidental a adotar a medida: Camarões e Chade, também países com maioria muçulmana, proibiram o uso desta vestimenta islâmica em seus territórios esse ano. Em outubro, 62 mulheres foram presas no Chade por usar o niqab após a proibição, que entrou em vigor em junho. Elas foram liberadas após pagar cerca de 170 dólares de multa.
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Também no Chade, em julho, dois homens-bomba vestidos com o niqab causaram uma explosão que deixou 27 pessoas mortas, inclusive muitos policiais. “Eles usaram a vestimenta deliberadamente, para atrair a atenção da polícia”, disse Ewi ao jornal britânico The Guardian.
Mbaye Niang, líder muçulmano e membro do Parlamento senegalês, afirmou que a nova lei foi feita para proteger o islã. “Não podemos permitir que alguém cubra todo o corpo como fazem os terroristas. Essa é uma tradição de alguns países, mas não tem nada a ver com o Islã.”
Para Farid Essack, especialista em estudos de religião na Universidade de Johannesburgo, na África do Sul, o contexto é chave e a justificativa usada em países muçulmanos não se aplicar necessariamente em outros lugares.
“Em alguns contextos políticos, a proibição da vestimenta é profundamente perturbadora e uma extensão da islamofobia. Não penso que no Chade isso seja uma manifestação de islamafobia. O país teve muitos atentados a bomba e vários foram perpetrados por homens usando o véu completo. Não acho que seja pouco razoável insistir que as pessoas não saiam em público completamente cobertas”, diz Essack.