O Talibã anunciou nesta terça-feira (07/09) a formação de um governo provisório chefiado pelo mulá Muhammad Hassan Akhund, um dos fundadores do grupo ultranacionalista.
Depois de quatro semanas da retomada do poder político do país por parte do Talibã, a gestão provisória deve durar “até que chegue um momento mais estável”, assegurou o grupo em coletiva de imprensa.
O grupo anunciou a formação de um Conselho de Líderes, similar ao que governou o país entre 1996 e 2001, para substituir o Conselho Superior para a Reconciliação, comandado por Abdulá Abdulá, que assumiu o poder em agosto.
Akhund, quem se torna o novo primeiro-ministro afegão, foi ministro de Relações Exteriores na década de 1990, antes da invasão das tropas dos Estados Unidos e do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Na nova gestão interina, o líder talibã será acompanhado por Abdul Ghani Baradar como vice-premiê. Baradar foi um dos representantes do Talibã nas mesas de negociação com os EUA em Doha, Catar.
O novo ministro do Interior é Sirajuddin Haqqani, chefe da rede Haqqani. Até a desocupação do Afeganistão, Haqqani era procurado pelo FBI, com recompensa de US$ 5 milhões. Chegou a ser sancionado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, acusado de terrorismo e de ser a ponte entre os grupos afegãos e a Al-Qaeda.
A rede Haqqani também comandará a pasta de refugiados, com Khalil Haqqani.
O novo ministro de Defesa será Mullah Yaqoob, outra liderança pública do Talibã desde 2016, e filho de um dos fundadores do grupo fundamentalista, Mullah Omar.
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Depois de quatro semanas da retomada do poder, Talibã anunciou nova gestão
Durante a conferência de imprensa também foram indicados os titulares das pastas de Economia, Finanças, Cultura e Informação, Relações Exteriores. Ainda foram nomeados o chefe do Serviço de Inteligência, Han Vasisk, e o novo presidente do Banco Central, Mohammad Idris. Em relação ao Ministério da Mulher, os talibãs afirmaram que se ocuparão desse assunto no futuro.
“Esperamos que todos os países do mundo reconheçam nossa legitimidade”, declarou o porta-voz talibã Zabihullah Mujahid. O primeiro regime Talibã, nos anos 90, só foi reconhecido pelos Emirados Árabes Unidos, Paquistão e Arábia Saudita.
Nas últimas semanas, membros da cúpula do Talibã se reuniram com representantes da União Europeia, Estados Unidos, Qatar e China.
Após o anúncio do governo interino, a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki declarou que “não há pressa para o reconhecimento” e ainda que a decisão da gestão Biden “dependerá dos próximos passos dos talibãs”.
O governo russo também disse que ainda não tomou nenhuma decisão sobre o Afeganistão e que monitora a situação “cuidadosamente”. O chanceler Serguei Lavrov afirmou que foram convidados para a posse do governo interino e que poderão participar da cerimônia se a nova gestão for “inclusiva”.
Já o Irã disse que seu objetivo é resolver os problemas do Afeganistão sem ser “arrastado para uma guerra com outros países”. O comandante da Força Quds, Esmail Qaani defendeu que o objetivo dos Estados Unidos ao invadir o Afeganistão era exercer a dominação do Irã e outras nações do Oriente Médio. O militar iraniano reiterou que “o que está acontecendo no Afeganistão deve se basear na opinião do povo afegão”.