O relator-geral do Sínodo Extraordinário sobre a Família, Péter Erdo, afirmou, nesta quarta-feira (15/10), que o texto que sinaliza uma possível abertura da Igreja Católica a pessoas homossexuais e casais divorciados que voltaram a se casar deve passar por “modificações”. O pronunciamento foi realizado após as críticas de setores conservadores da Igreja, que questionaram a divulgação do resumo dos trabalhos, feita na segunda-feira (13/10), e ressaltaram que não se deve dar a impressão de que a Igreja católica “vê de modo positivo a orientação homossexual”.
Agência Efe
Papa Francisco convocou sínodo para discutir formas de aproximar os católicos da linguagem da Igreja sobre temas relacionados à família
Quase 300 cardeais estão reunidos no Vaticano onde participam, há mais de uma semana, do Sínodo da Família, cujo encerramento ocorrerá no domingo (19/10). Erdo esclareceu que “o documento [apresentado na segunda] é considerado uma referência, mas em quase todos os itens são feitas emendas, algumas até sistemáticas. Além disso, deve ser ressaltada de maneira mais expressiva a beleza e a importância do modelo de família cristã”, afirmou.
Casamento entre homossexuais
A manifestação dos bispos sinaliza que há um setor descontente com o rumo das discussões e com a tese principal do papa Francisco. Na exortação apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), o papa defendeu que “o matrimônio tende a ser visto como uma mera forma de gratificação afetiva que pode constituir-se de qualquer maneira e mudar de acordo com a sensibilidade de cada um”. A consideração foi uma resposta ao documento formulado por bispos franceses sobre o projeto de legalizar o casamento homossexual.
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Sobre a questão, os cardeais Wilfrid Fox Napie, da África do Sul, e Fernando Filoni, da Itália, ressaltaram que o documento sobre as discussões do Sínodo é apenas um rascunho e “não reflete a riqueza do debate e gera expectativas excessivas” sobre questões como a acolhida por parte da Igreja de pessoas homossexuais e casais divorciados que voltaram a se casar.
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O documento apresentado pelo Vaticano na segunda enfatiza o ensinamento da Igreja contra o casamento homoafetivo e diz textualmente que pessoas homossexuais “têm talentos e qualidades a oferecer à comunidade cristã” e indaga se o catolicismo é capaz de “receber essas pessoas” e “lhes garantir um espaço fraterno”.
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Os cardeais sustentam, no entanto, que “o documento apresentado na segunda não expressa o pensamento da Igreja nem do papa Francisco”. Já o cardeal alemão Reinhard Marx declarou que o documento apresentado é “uma honesta representação de como o debate se desenvolveu”.
Os bispos conservadores argumentam ainda que ninguém falou de soluções rápidas ou fáceis, mas de outro tom, outra linguagem, um olhar mais voltado ao perdão que ao castigo.
A versão final do documento servirá para uma reflexão entre católicos ao redor do mundo pelos próximos 12 meses e como pedra angular de um segundo e final sínodo familiar, que será realizado no próximo ano.