O
que é mais importante? Ser espanhol ou ser capacitado? A pergunta,
que pode parecer sem sentido no Brasil, foi feita a quase dois mil
espanhóis nos últimos dois meses. E o resultado não é animador
para os imigrantes. Um quarto dos entrevistados disse que a
nacionalidade do trabalhador deve estar acima da capacitação
profissional.

Questionados sobre que importância deve ter o
fato de que empresas espanholas contratem trabalhadores espanhóis,
70 por cento responderam “importante ou muito
importante”.

Desemprego recorde

Realizada
pelo Real Instituto Elcano, a pesquisa foi divulgada no mesmo dia que
o Instituto Nacional de Estatística revelou novos números do
desemprego na Espanha, que passou a barreira simbólica dos 4
milhões, um recorde histórico, o que
representa 17,36% de sua população ativa. De janeiro a março, mais
de 800 mil pessoas foram demitidas, o que significa um desempregado a
cada 90 segundos. E mais de um milhão de lares espanhóis têm todos
os seus moradores em idade ativa desempregados.

Em
março, 15,2% dos espanhóis em idade ativa estavam sem trabalho. A
estatística é quase o dobro entre os imigrantes: 28,4%. Para o
equatoriano Angel Duarte, que nunca havia ficado desempregado em oito
anos vivendo na Espanha, pior que ficar sem trabalho é o
preconceito: “Os espanhóis não querem
que a gente (os imigrantes) tenha trabalho. Eles dizem que os
estrangeiros têm emprego e eles não. São uns racistas, humilham os
estrangeiros. Eu nunca passei por isso, mas tenho amigos que já
foram maltratados por espanhóis”.

Bode
expiatório

Para Malik
Mamadi, marroquino e coordenador da Associação de Trabalhadores
Imigrantes na Espanha (ATRAIE), esse conflito entre espanhóis e
estrangeiros é resultado da maneira como está organizado o mercado
de trabalho na Espanha. Ele acredita que os empresários, ainda que
prefiram um funcionário espanhol, se aproveitam da fragilidade dos
imigrantes, que aceitam qualquer tipo de trabalho, independentemente
do salário e dos benefícios. “O
espanhol não critica o empresário que contrata sem direitos de
trabalho, de maneira clandestina. Com o forte eles não podem, mas
com o fraco sim.”

Mamadi alerta
para o perigo deste tipo de situação. “Os imigrantes estão se
transformando em bode expiatório da situação dos trabalhadores na
Espanha. E isto é bom para a extrema direita, que aproveita o
sentimento nacionalista para captar mais gente. Principalmente os
jovens, que nunca viveram uma ditadura fascista”, completa.

*texto e foto

 

Slogan da Frente Nacional: Se é espanhol, você sempre primeiro

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