De acordo com documentos diplomáticos dos Estados Unidos revelados pelo Wikileaks, a diplomacia norte-americana analisou de perto as relações entre Brasil e Cuba e frequentemente construiu conclusões próprias a respeito do tratamento dado pelo ex-presidente Lula ao governo da ilha caribenha.
“O Brasil deixou claro que acredita que Cuba deverá ser re-integrado ao sistema interamericano”, diz uma das mensagens, de 27 de maio de 2009. Para os EUA, o governo brasileiro tem desenvolvido uma agenda política com objetivo de diminuir o isolamento cubano.
Em outro despacho, de 05 de maio de 2006, o embaixador norte-americano Phillip Chicola, considerou que Lula preferia fazer críticas a Fidel nos bastidores e que, para o ex-presidente brasileiro, os cubanos não têm interesse em se manter separados do restante do mundo. “O governo Lula argumenta que o envolvimento, ao invés de isolamento, é a mais provável mudança de comportamento em Cuba”, disse Chicola.
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No texto, ainda há um depoimento de Carlos Duarte, Chefe do Departamento de Organismos Internacionais do Ministério das Relações Exteriores. Na visão dos EUA, o Brasil não tem conhecimento suficiente das problemáticas que envolvem Cuba. “Parece que Duarte, assim como outros representantes brasileiros, não tem conhecimento suficiente da dinâmica interna dos EUA”, avaliou a mensagem.
Outro trecho afirma que “ é importante que os interlocutores brasileiros entendam isso [as relações entre Cuba e EUA], caso queiram exercer um papel de mediação”.
Raio-X das relações diplomáticas
No despacho de 2006, Chicola observou que o governo brasileiro evita comentar publicamente as políticas de direitos humanos cubanas, dizendo que os veículos de comunicação, por sua cez, adotavam uma postura menos reservada. “A mídia e ONGs brasileiras são muito menos hesitantes em criticar incisivamente o regime de Fidel Castro”, apontou o documento.
Outro trecho cita duas declarações do ex-presidente Lula, em que ele afirma que “o Brasil pode ajudar a construir um processo democrático em Cuba” e “temos muito a fazer pela democracia em Cuba”. A embaixada classificou essas falas como críticas indiretas ao regime cubano.
Monólogo sobre acordos econômicos
Despacho de 15 de junho de 2009 faz uma série de questionamento sobre a natureza das relações bilaterais entre Brasil e Cuba. As perguntas feitas são respondidas pelos próprios norte-americanos.
“Qual é a natureza dos investimentos (e nomes, se for conhecida) que as empresas dos países de acolhimento têm em Cuba?”, questionou o texto. “Em março de 2008, 24 empresas brasileiras participaram da Feira Internacional de Havana, principal evento comercial cubano. As empresas ligadas ao ramo de alimentos, construção, materiais de limpeza, equipamentos e maquinário, tecnologia e setores da saúde”, responde o documento.
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Neste despacho é traçado um levantamento dos investimentos mais importantes feitos pelo Brasil em Cuba, o montante de dinheiro que circula entre os países, empréstimos feitos pelo BNDES e até uma listagem de empresas brasileiras que possuem negócios na Ilha.
“Em 2008, o Brasil exportou para Cuba bens no valor de aproximadamente 527 milhões de dólares, em comparação com 324 milhões dólares em 2007”, para a embaixada essa é das evidências do crescimento dos negócios das empresas brasileiras em Cuba.
O documento continua listando uma série de acordos que os brasileiros estabeleceram com os cubanos, inclusive a negociação para aproximar o parceiro do Mercosul. “Em 2006, o Mercosul e Cuba concordaram em um acordo para um para liberalizar o comércio, reduzindo tarifas de importação, mas este acordo ainda não foi ratificado e que não entrou em vigor”, afirmou a mensagem.
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