Idosa no parque Yu, em Xangai: diminuição no tamanho das famílias e falta de apoio social são problemas para a população
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Um residente de 92 anos de um asilo em Beijing estende-se em sua cadeira de rodas. Imóvel e sofrendo de grave demência, ele precisa dos cuidados diários de enfermeiros. Próximos a ele, há dezenas de outros pacientes idosos em cadeiras de rodas, esperando por uma atividade agendada ou pela hora da refeição. Eles têm muita sorte. Em cidades de toda a China, milhões de idosos enfrentam uma crescente carência de acomodações residenciais e serviços de enfermagem.
Em Beijing, no momento, todos os asilos estão operando em capacidade máxima, com listas de espera que crescem a cada ano. Os 3.800 asilos da capital chinesa e seus 60 mil leitos não podem atender às necessidades dos 2,3 milhões de cidadãos idosos. Ao fim de 2009, havia 167 milhões de pessoas com mais de 60 anos na China, cerca de 12,5% da população total do país. Destes, 18,99 milhões tinham mais de 80 anos e 9,4 milhões tinham alguma deficiência.
O sistema de segurança social não consegue mais dar conta da situação. “Um cidadão idoso com alguma deficiência é um fardo para toda a família”, diz Yang Tuan, diretor adjunto do Centro de Pesquisa em Políticas Sociais da Academia Chinesa de Ciências Sociais.
Além disso, com o tamanho das famílias diminuindo ao longo dos anos e os “ninhos vazios” – isto é, pais idosos separados de seus filhos que migram para trabalhar em outras cidades — tornando-se mais comuns, o apoio familiar tradicional foi dificultado.
Na visão de muitos cientistas sociais, um aumento substancial no investimento em serviços e infraestrutura para cuidados com idosos é uma prioridade urgente. Em 2010, pela primeira vez, o estabelecimento de um sistema de cuidados básico, para essa faixa etária da população foi incluído no 12ºPlano Quinquenal Chinês.
Círculo decrescente
A mudança na demografia familiar é uma das principais razões por trás da crescente necessidade de cuidados com idosos. A China adotou a política de uma criança por casal há mais de 30 anos. A primeira geração a ter apenas um filho é agora idosa. É cada vez mais comum que um casal tenha de tomar conta de um filho e de quatro idosos (seus pais e mães), o que significa que o fardo familiar tornou-se muito pesado para os jovens adultos.
Enquanto isso, a urbanização, a migração e as famílias menores colocam pressões adicionais sobre a função educativa da família em relação às novas gerações. Há 49,7% de “ninhos vazios” entre os idosos que vivem em áreas urbanas. O número crescente de “ninhos vazios” e a diminuição do tamanho das famílias reduzem o apoio oferecido aos mais velhos. Infelizmente, alguns cidadãos nessa faixa etária são abandonados.
Li Baoku, presidente da Fundação de Desenvolvimento pelo Envelhecimento na China, diz que a taxa de suicídio entre os idosos nas áreas rurais do país é quatro ou cinco vezes maior do que a média mundial. “Muitos idosos escolhem terminar suas vidas em silêncio em uma cabana, na floresta ou à beira de um rio, a fim de evitar tornar-se um peso para seus filhos.”
Com a falta de cuidados familiares, bem como com o enfraquecimento do suporte familiar, a necessidade de apoio social externo tornou-se urgente. A maior parte dos cidadãos idosos não pode pagar os custos mensais de um asilo, de 2.000 a 3.000 yuans. A média nacional para pensões de aposentadoria é de cerca de 1.200 yuans por mês. Nas áreas rurais, 90% dos idosos não têm nenhuma aposentadoria. Por causa de falhas no atual sistema previdenciário, cerca de 70% dos cidadãos idosos dependem primariamente do suporte econômico de seus filhos e netos.
Um estudioso da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Sun Bingyao, diz que a demanda por serviços para idosos cresceu com o aumento da expectativa de vida média. “No entanto, a estrutura de nosso sistema de cuidados com idosos está centrada na vida material básica. Não levamos em consideração os serviços de cuidados.”
O papel do governo
“O governo deveria assumir a responsabilidade, caso o mercado e terceiros não possam fornecer estes serviços aos idosos”, diz Yan Qingchun, diretor adjunto do Comitê de Trabalhadores Idosos Nacional da China.
Muitos estudiosos acreditam que a política do governo na área de bem-estar social tornou-se incoerente à medida que a economia continuou a se desenvolver, o que torna impossível oferecer serviços sociais a preços acessíveis para aqueles que necessitam deles, como um “estado socialista” faria.
“O PIB per capita da China já passou o marco de US$ 3.000, trata-se, portanto, de uma economia de renda média”, diz Wang Zhenyao, chefe do Instituto de Pesquisa em Bem-Estar Público na Universidade Normal de Pequim e ex-funcionário do Ministério de Assuntos Civis. Com o desenvolvimento econômico, Wang disse que o país têm a obrigação de encontrar uma solução para o problema dos cuidados com idosos, aumentando o investimento nos serviços de bem-estar social.
Tradução por Henrique Mendes
* Texto originalmente publicado no portal Caixin Online
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