Ícone do modernismo, o edifício que abrigou a escola de design Bauhaus em Dessau, na Alemanha, ainda parece uma peça alienígena imposta à bucólica cidadezinha. Pedra, aço e vidros, obra do arquiteto e diretor Walter Gropius no distante ano de 1926, contrastam com as típicas construções alemãs de seu entorno. Se hoje o visual é chocante, resta imaginar como foi o burburinho de sua inauguração, há 87 anos.
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Os ângulos retos, os salões com iluminação inusitada e as sacadas de parapeito baixo, onde os ilustres alunos adoravam fotografar e serem fotografados, abrigam hoje a sede do Instituto Bauhaus, galerias com exposições e hóspedes. Além de conhecer por dentro o templo que revolucionou o design e a arquitetura, o peregrino pode passar a noite em um dos quartos originais de estudantes da mítica escola.
Wikimedia Commons
A sede da antiga escola de design Bauhaus em Dessau, na Alemanha
As diárias variam entre 35 e 60 euros (105 a 180 reais) e são bem-vindas para quem quer experimentar o extenso programa de visitação em Dessau. O tour de uma hora pelo prédio principal, que expõe detalhes da criação de Gropius, é o ponto de partida para a imersão nesse laboratório de ideias, que se estende por outras construções espalhadas pela cidade. Há muito mais a se descobrir.
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A escola Bauhaus foi fundada em 1919 na cidade de Weimar, mas foi em Dessau que ela encontrou um período de bonança, custeada pela prefeitura. Permaneceu instalada ali de 1924 a 1932, até a ascensão nazista. Os seguidores da suástica, avessos ao marxismo, não pouparam a instituição, que seria extinta em 1933 após uma mudança conturbada para Berlim.
Roberto Almeida/Opera Mundi
Letreiro da sede da Bauhaus em Dessau, hoje transformada em hospedagem
Curiosamente, os mesmos nazistas mantiveram os edifícios de Dessau em pé como exemplo do que era “mau”, sob a lógica do inimigo sempre presente, e construíram à sua volta as casas tradicionais alemãs como exemplo do que era “bom”. Anos depois, a cidadezinha seria duramente bombardeada pelos aliados, destruindo 90% da sede idealizada por Walter Gropius.
Casas dos mestres
Reformada com dinheiro estatal e financiada pela União Europeia, a impecável sede da escola Bauhaus em Dessau parece recém-inaugurada, assim como as residências de seus professores. As três casas da avenida Ebertallee, idealizadas por Gropius, abrigaram Paul Klee, Wassily Kandinsky, Mies van der Rohe e outros expoentes do modernismo.
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A visita guiada às casas está incluída no tour pelas Meisterhäuser, ou Casas dos Mestres. As residências Kandinsky/Klee e Muche/Schlemmer (referência aos professores Georg Muche e Oskar Schlemmer) estão abertas. A terceira, onde moraram Laszlo Moholy-Nagy e Lyonel Feininger, ainda está em lenta reconstrução após ter sido atingida na II Guerra Mundial.
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Assim como a sede da Bauhaus, as casas parecem ter sido transplantadas de outra civilização para descansar sob a floresta de pinheiros de Dessau. Gropius aproveitou o apoio da prefeitura para colocar em prática seus planos de construir com blocos pré-fabricados industrialmente, estampados com janelões defronte a jardins gramados. A mobília de sua casa, por exemplo, era exclusivamente composta pelas famosas e hoje caríssimas criações tubulares de Marcel Breuer.
Experiências em moradia
Fica no subúrbio de Dessau um outro conjunto de moradias que leva a assinatura de Walter Gropius. O Törten, construído entre 1926 e 1928, foi uma resposta à necessidade de barateamento de casas após a I Guerra Mundial. Até hoje, segundo o Instituto Bauhaus, suas casas são cobiçadas pelo simbolismo que carregam.
Yvonne Tenschert/Stiftung Bauhaus Dessau
Casa dos mestres Muche:Schlemmer está aberta para visitação
São, ao todo, 314 residências com terraço e área entre 57 e 75 m². Os cubos de concreto pré-fabricados facilitavam o transporte das peças e aceleravam o processo de construção e montagem. As fachadas têm fileiras de janelas e o interior era sempre pintado em tons leves.
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A experiência teve resultado abaixo do esperado. Moradores reclamaram de problemas no projeto e fizeram alterações significativas nas casas. Poucas delas mantêm o aspecto original. Em 1994, um estatuto de proteção ao patrimônio foi redigido para minimizar mudanças na aparência do conjunto, que hoje está longe de ser homogêneo, mas ainda assim vale a visita.
Yvonne Tenschert/Stiftung Bauhaus Dessau
Hóspede na sacada da sede da Bauhaus
Entre erros e acertos, a Dessau moldada pela Bauhaus é uma experiência de imersão única. A força das construções funcionais, seja do edifício-sede, das casas dos mestres ou do distrito de Törten mostra que o tempo correu, mas sua influência pioneira continua entre nós.
Como chegar
Dessau fica 128 km a sudoeste de Berlim. Há serviços de trem com custo médio de 20 euros (60 reais) por pessoa. A viagem leva uma hora e meia. A sede da Bauhaus fica a 10 minutos a pé da Estação Central de Dessau.
Preços
A diária na sede da Bauhaus custa entre 35 e 60 euros (105 a 180 reais). O ingresso que dá direito a todas as exposições e tours custa 17 euros (51 reais). É preciso pedir ao guia pinceladas em inglês. Para visitar o subúrbio de Törten o ideal é ter uma bicicleta disponível. Se não, há ônibus que levam até o local.