Atualizado em 15.jun.2017
No dia 15 de junho de 1996, morreu, aos 79 anos, vítima de diabetes, a cantora norte-americana Ella Fitzgerald.
Nascida em Newport News, estado da Virginia, em 25 de abril de 1917, Ella mudou-se com a mãe para Nova York após a morte de seu pai. Frequentou a escola pública, cantou no coral do colégio e recebeu sempre educação musical. Seu primeiro sonho era ser dançarina. Inspirada pelo bailarino “Snake Hips” Tucker, estudou seus sinuosos movimentos e praticou-os frequentemente com amigos.
Em 1932, perde a mãe. O trauma provocou uma queda brutal no desempenho escolar da garota, que deixou de frequentar as aulas. Chegou a trabalhar como vigia num bordel e numa casa de apostas ligada à máfia. Acabou sendo presa e enviada a um reformatório. Fugiria de lá, moraria na rua e acabaria internada no Asilo de Órfãos de Cor de Riverdale, no Bronx.
Numa noite de 1934, o Apollo Theater promoveu um show de calouros após a principal atração, o espetáculo de dança das Irmãs Edwards. O número principal conquistaria a plateia, até que, com apenas 16 anos, Ella subiu ao palco, teve vergonha de dançar e resolveu cantar. Entoou Judy, no estilo de Connee Boswell, e The Object of My Affection, das Boswell Sisters. Impressionou tanto o público que conquistou o prêmio principal de 25 dólares. Foi esse o início de uma das carreiras mais célebres da história da música popular norte-americana.
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Ella Fitzgerald em 1946
Ella foi convidada a juntar-se à banda de Chick Webb. Em pouco tempo tornou-se a principal atração, criando diversos sucessos e, é claro, sua marca registrada: A-tisket, A-tasket (1938). Durante esse tempo, gravou com diversos outros músicos, inclusive com Benny Goodman. Após a morte de Webb, em 1939, liderou a banda por mais três anos.
Quando começou sua carreira solo em meados dos anos 1940, já era uma figura muito respeitada na indústria fonográfica e no meio musical. Sua vibrante e potente voz exibia excepcional alcance e controle. Estrelando com Jazz at the Philharmonic – título de uma série de concertos e gravações de jazz produzidos por Norman Granz –, sua popularidade e prestígio cresceram além do esperado.
Em meio às décadas de 1950 e 1960, continuou a se apresentar como intérprete de jazz, concentrando-se, porém, na música popular. À época, somente Frank Sinatra conseguia se colocar no mesmo nível que ela. Suas gravações de canções de Cole Porter, Ira e George Gershwin e Rogers e Hart tiveram estrondoso sucesso.
Uma das primeiras intérpretes do “scat” – gênero que abria espaço para palavras sem sentido e de motivação fonética como dubidubidá, babedibabá, babedubidabedubabá –, encontrou seu lugar entre os inovadores do jazz, gravando duetos com grandes nomes como Billie Holiday, Duke Ellington e Louis Armstrong.
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Seu verdadeiro gênio, no entanto, residia não na inovação formal ou em algum modismo, mas sim nas interpretações impecáveis das belas canções de seu tempo. Disse Ella certa vez: “Eu sou muito tímida e evito as pessoas. Entretanto, no momento em que piso no palco, brota uma sensação diferente. Alguma coisa me encoraja, talvez porque seja algo que eu adoro fazer.” Mais do que tudo, foi esse amor de interpretar que ganhou o coração de milhões ao redor do mundo.
Na década de 1970, trabalhou tanto com um trio encabeçado pelo pianista Tommy Flanagan como também regularmente ao lado de dezenas de diferentes orquestras sinfônicas. Embora sua voz já não fosse mais a mesma, o entusiasmo e o carisma de Ella continuarão a emocionar multidões até a década de 1980.
Após uma consagradora apresentação na Inglaterra, em 1990, precisou se retirar dos palcos para cuidar da saúde. Sofrendo de problemas contínuos de saúde, passou os últimos anos de sua vida em sua casa de Beverly Hills. Para o cantor Johnny Mathis, Ella Fitzgerald: “Entre todos nós, cantores, ela foi a melhor”.
Dos primeiros dias nas ruas do Harlem aos céus da fama, a vida de Ella Fitzgerald foi a representação máxima de uma história de sucesso. À extensão vocal que abrangia três oitavas somaram-se uma pureza de tonalidade, uma dicção perfeita, fraseado e entonação irrepreensíveis, bem como uma habilidade de improviso semelhante à de um instrumento de sopro.
Ao longo de 58 anos de carreira, conquistou 13 Grammys e alcançou a marca de mais de 40 milhões de discos vendidos. Elevou o swing, o bebop e as baladas ao seu mais alto potencial. Ela foi, inegavelmente, a Primeira Dama da Canção norte-americana.
Ouça “Night and Day”, de Cole Porter, por Ella Fitzgerald:
Ouça o disco “Ella e Louis”, parceria entre a cantora e Louis Armstrong (1956):
Assista à interpretação de Ella Fitzgerald para “I'm Just a Lucky So and So, composta por Duke Ellington e Mack David:
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