Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU em Nova York, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, defendeu nesta terça-feira (24/09) as recentes intervenções militares norte-americanas a outros países, afirmando que o mundo é feito de “opções imperfeitas” e que, em alguns casos, a comunidade internacional deve optar por essa saída. Ele também pediu maior cooperação de outros países nessas ações, afirmando que os EUA “não podem agir sozinhos”.
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Nessa linha, Obama afirmou que seu país sempre estará pronto a entrar em ação para evitar violações dos diretos humanos das populações, e afirmou que o Estados Unidos são criticados tanto quando optam por intervir quanto quando preferem soluções por vias não-bélicas.
Agência Efe
O presidente dos EUA, Barack Obama, durante discurso na Assembleia Geral da ONU
No caso da Síria, ele acusou diretamente o governo do presidente Bashar al Assad de lançar armas químicas contra a própria população – em 21 de agosto, um ataque de gás sarin matou aproximadamente 1.400 pessoas nos arredores de Damasco, segundo investigação da ONU. “É um insulto sugerir que o ataque foi feito por alguém que não seja o regime de Assad”, disse o presidente norte-americano.
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Além de afirmar que Assad perdeu a legitimidade de controlar o país e apoiar uma oposição síria “moderada” em seu lugar, ele disse que a pressão da alternativa militar é a única maneira para se obter uma solução negociada para a guerra civil no país, que já dura 30 meses e matou mais de 100 mil pessoas. Ele pediu para que a comunidade internacional aprove “uma resolução forte” para que a Síria cumpra sua promessa de destruir todo seu arsenal químico.
Programa nuclear
Obama também acenou para uma melhora nas relações com o Irã, elogiando as recentes declarações conciliatórias do novo presidente Hassan Rowhani e exaltando negociações multilaterais para que ocorra um acordo sobre o programa nuclear do país persa. Os EUA e potências ocidentais afirmam que o objetivo do governo de Teerã nesse tema é a construção de armas nucleares. Já os iranianos negam, afirmando que a produção de energia nuclear será de uso civil e pacífico para fins energéticos e medicinais.
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No discurso, ele lembrou que os dois países enfrentam décadas mútuas de desconfiança, e que o Irã declara os EUA inimigos desde 1979. Chegou mesmo a citar episódios como o golpe de Estado de 1953 contra o então premiê iraniano Mohamed Mossadegh – a CIA (central de inteligência norte-americana) reconheceu em agosto ter ajudado na ação e planejamento do golpe –, assim como a crise dos reféns na embaixada norte-americana em Teerã, entre 1979 a 1981. “Não acredito que esse histórico difícil de desconfianças profundas vá acabar da noite para o dia. Mas se resolvermos o problema do programa nuclear iraniano esse será um passo maior para estabelecermos uma relação melhor e de respeito”.
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Segundo Obama, os EUA “precisam resolver essa questão de maneira pacífica respeitando o direito do povo iraniano de usar energia nuclear de forma pacífica.”, dizendo que, para isso, o país precisa respeitar as responsabilidades do TNP (tratado de Não proliferação Nuclear) – fazendo referência a que o país permita inspeções da ONU sem restrição em suas instalações nucleares.
“O presidente Rowhani disse que sua nação nunca irá desenvolver armas nucleares”, disse Obama, mas para que essas declarações “resultem em um acordo significativo”, segundo ele, será preciso que “as palavras conciliatórias se unam a ações transparentes”. E afirmou que o governo dos Estados Unidos não tem intenção de mudar o regime do Irã.
Espionagem
Obama praticamente não fez qualquer menção aos recentes episódios do escândalo de espionagem internacional envolvendo agências de inteligência norte-americanas contra seus próprios cidadãos e outras lideranças internacionais, incluindo países aliados e chefes de Estado, como a presidente Dilma Rousseff, que fez críticas ao episódio no discurso imediatamente anterior ao do norte-americano.
Ele apenas se limitou a dizer que os EUA estão “revendo a forma como coletam informações de inteligência para reequilibrar as preocupações de nossos aliados”. Imediatamente em seguida lembrou os mais recentes episódios de terrorismo no Quênia e no Paquistão para dizer que, embora “o mundo esteja mais seguro do que há cinco anos”, as ações de terrorismo ainda perduram.
Outros temas
No mesmo trecho do discurso, sem fazer qualquer especificação, ele também exaltou a mudança da política norte-americana no uso de drones “para evitar a morte de civis”.
Sobre o Egito, os EUA afirmam não escolher lado na crise política do país iniciada depois da deposição de Mohamed Mursi da presidência em julho deste ano, criticando tanto a Irmandade Muçulmana e seus apoiadores quanto o Exército. Mas que podem rever o apoio financeiro às Forças Armadas do Egito, dependendo dos rumos “da continuidade democrática” no país.
Sobre o conflito entre Israel e Palestina, ele repetiu discursos anteriores defendendo a solução de dois Estados, pedindo que as duas partes assumam “riscos políticos”.
E afirmou que a Líbia, mesmo com confrontos armados internos, está melhor hoje do que se Muamar Kadafi, líder do país entre 1969 até 2011, ainda estivesse no comando, defendendo a intervenção ação militar aérea internacional que contribuiu para a queda de seu governo.
França
Na sua vez de discursar, o presidente francês, François Hollande, pediu que o Conselho de Segurança das Nações Unidas adote uma resolução sobre as armas químicas da Síria que preveja “medidas coercitivas”.
Hollande apresentou três exigências à resolução que é negociada no máximo órgão da ONU, entre elas a inclusão de medidas estabelecidas no Capítulo VII da Carta da ONU “que abrirá o caminho para uma possível ação armada contra o regime em caso de não cumprimento de suas obrigações”.