O assassinato da militante opositora Liana Hergueta, há duas semanas, revelou a existência de uma rede de 30 grupos paramilitares, treinados na Colômbia e com vínculos nos Estados Unidos, com o propósito de provocar atos violentos na Venezuela, incluindo o assassinato de “líderes conhecidos da política, da direita, da oposição e da revolução”. Foi o que assegurou o presidente do país, Nicolás Maduro, durante seu programa semanal na televisão.
Durante exposição feita nesta terça-feira (18/08), o líder venezuelano divulgou um vídeo onde o suposto assassino de Hergueta, José Pérez Venta, revela como funciona a rede de apoio às ações dos grupos paramilitares. Assim como no caso da morte do deputado chavista Robert Serra, Maduro vinculou o assassinato de Hergueta a grupos treinados na Colômbia por paramilitares vinculados ao ex-presidente do país Álvaro Uribe.
Agência Efe
Maduro prometeu punir e prender todos os integrantes dos grupos paramilitares
Venta, que era militante de grupos vinculados à oposição, chegou a ser apresentado como defensor dos direitos humanos pelo canal colombiano NTN24 em 2014, quando falou da relação próxima que tinha com Lorent Saleh — detido em outubro do mesmo ano por suposta participação no assassinato de Serra e também acusado de ter vínculos com paramilitares.
“Este grupo estava conectado ao mais alto nível com líderes da direita na Colômbia e líderes da direita venezuelana; este grupo que está capturado, convicto e confesso, tinha planos para assassinar líderes conhecidos da política, da direita, da oposição e da revolução. Digo mais, a este grupo propuseram assassinar Leopoldo López”, afirmou Maduro.
Revelações
A afirmação de Maduro tem como base as declarações de Venta que, em vídeo divulgado pela agência estatal AVN, diz que o financiamento das atividades desses grupos vinha da Colômbia. Venta, segundo o vídeo, foi treinado por colombianos para o manejo de armas e explosivos, além de ter se encontrado com Uribe e com o candidato derrotado na última eleição presidencial, Óscar Ivan Zuluaga.
Veja o vídeo (em espanhol) no canal da 'Telesur' divulgado pela 'AVN':
Também estariam envolvidos no processo de financiamento os políticos norte-americanos Ileana Ros-Lehtinen e Marco Rubio, pré-candidato à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano. Venta diz ainda que teve uma reunião com o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos na Venezuela, Phil Laidlaw, onde foram firmados contratos e de quem recebeu a quantia de mil dólares.
De acordo com o réu, o “financiamento completo e perpétuo para os enfrentamentos” era realizado por Miguel Henrique Otero, presidente do jornal El Nacional. Venta diz ainda que as reuniões privadas eram realizadas na sede do jornal, onde eram organizadas as ações para os protestos de 2014.
Venta relatou ainda que fora treinado para enfrentar os corpos de segurança do Estado e, quando questionado em quais partidos militava, disse ter atuado no como coordenador comunitário no Vontade Popular (partido de Leopoldo López) e como coordenador de direitos humanos na Aliança Bravo Povo (partido de Antonio Ledezma).
Além disso, disse ter se reunido com María Corina Machado, na sede de seu partido [Vente Venezuela], e com Capriles, em seu escritório. Os temas abordados foram: eleições parlamentares, que serão realizadas no final do ano
Já Mosquera, segundo o governo, está associado à juventude do partido Primeiro Justiça, à Operação Liberdade, participou das mobilizações para a campanha eleitoral de 2012 e do comitê de apoio à campanha presidencial de Henrique Capriles em 2013. Além disso, seria próximo do prefeito de Sucre, Carlos Ocaríz, e coordenador de um acampamento durante os protestos de 2014, que deixaram 43 mortos.
Outro lado
Para o presidente da MUD (Mesa da Unidade Democrática), Jesús Torrealba, o governo faz uso “politiqueiro” da morte de Hergueta. Para ele, isso reflete “a quebra moral de um regime, de um governo, de uma direção política”.
Já o editor do El Nacional disse que o governo nacional utiliza “recursos judiciais para reprimir a oposição” e disse que o sistema eleitoral venezuelano é “totalmente desigual e fraudulento”.
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A defesa de Leopoldo López rechaçou as acusações e classificou como “irresponsável” e “sem validade” o vídeo apresentado por Maduro. O advogado Roberto Marrero pediu que o presidente apresente as provas do suposto plano de assassinato do político venezuelano.
Da mesma forma, a esposa de López, Lilian Tintori, disse ao jornal El Nacional, que tal plano é falso. “Ninguém ia matar Leopoldo. Essa foi a desculpa para levá-lo preso”. E questiona: “Onde está a investigação? Onde estão as provas?”.
Na mesma linha, a esposa de Ledezma, Mitzy Capriles, afirmou que não existem provas de que os assassinos de Hergueta tenham militado na oposição. “Acusar a oposição através de um vídeo não tem pé nem cabeça. O governo jamais fará o mundo acreditar que Ledezma não tem credibilidade, associá-lo a atos criminosos é um crime, é vil”, disse.
Uribe, por sua vez, disse, em sua conta no Twitter que “Maduro garante que me colocará na prisão, não há nada mais perigoso que um fracassado em apuros”.
Maduro asegura meterme a la cárcel, no hay algo más peligroso que un fracasado en apuros
— Álvaro Uribe Vélez (@AlvaroUribeVel) 19 agosto 2015
Marco Rúbio, senador norte-americano de origem cubana, também se pronunciou. “É um palhaço corrupto. O povo venezuelano merece coisas melhores que a repressão, a má gestão econômica e os abusos dos direitos humanos que estão sofrendo por parte de seus atuais líderes corruptos”, disse ao se referir às revelações de Maduro.
Ponto de partida
A investigação do assassinato seguido de esquartejamento de Hergueta, que, segundo as apurações das autoridades, não tem ligações políticas diretas, levou a polícia a descobrir a suposta rede na Venezuela.
Agência Efe
Tintori segura cartaz com lista de políticos presos na Venezuela
Isso, porque, de acordo com o ministro do Interior, Justiça e Paz, Gustavo González López, tanto o autor intelectual do ato, José Rafael Pérez Venta, quanto o autor material do mesmo, Carlos Eduardo Trejo Mosquera, ofereceram “aportes importantes” de vínculos com políticos venezuelanos e com financiadores dos grupos paramilitarizados.
Lilian Hergueta e Mosquera se conheceram há um ano durante os protestos estudantis em Caracas. No começo de 2015, ambos concordaram em fazer uma operação de compra e venda de 5 mil dólares, mas, após a entrega de 1,34 milhão de bolívares por parte dela, Mosquera não realizou o pagamento.
Foi então que ela o denunciou como “caloteiro” nas redes sociais, o que, segundo as investigações, motivou Mosquera a contratar Venta e Ângulo Sánchez para cometer o assassinato: “Ao ver ameaçada sua carreira política, [Mosquera] tomou a determinação [de matá-la]”, afirmou o ministro.
Segue a lista de políticos denunciados por Venta em seu depoimento:
Estrangeiros:
- Álvaro Uribe Vélez — Ex-presidente colombiano;
- Marco Rubio — Senador republicano e pré-candidato à presidência dos Estados Unidos;
- Ileana Ros-Lehtinen — Deputada norte-americana;
- Oscar Iván Zuluaga — Ex-candidato à presidência da Colômbia;
- Phil Laidlaw — Encarregado de Negócios dos Estados Unidos;
Venezuelanos:
- Miguel Henrique Otero — Presidente do jornal El Nacional
- Antonio Ledezma — Ex-prefeito de Caracas, detido por tentar desestabilizar o governo Maduro;
- Capriles Radonski — Ex-candidato à presidência e governador de Miranda.
- Vilca Fernández — Dirigente estudantil, fundador do Movimento pela Liberação;
- Gaby Arellano — Candidata à Assembleia Nacional pelo partido Vontade Popular;
- Antonio Rivero — General retirado da Força Armada Nacional Bolivariana;
- Enrique Mendoza — Ex-governador do estado de Miranda;
- Richard Blanco — Presidente do partido Aliança ao Bravo Povo;
- María Conchita Alonso — Atriz radicada nos Estados Unidos;
- María Corina Machado — Ex-deputada e líder da oposição;