Imagem via Al Ahram
Estreia nesta sexta-feira, dia 20 de julho, o primeiro canal de televisão no Egito totalmente produzido e apresentado por mulheres usando o niqab, véu que cobre o rosto e só revela os olhos. A data escolhida para a inauguração do canal não é por acaso: esta sexta-feira é também o primeiro dia do Ramadã, o mês sagrado do calendário islâmico.
Segundo o site egípcio Al Ahram, o canal se chamará “Mariya” em homenagem a uma das esposas do profeta Maomé. Toda a equipe de produção será formada por mulheres de niqab: apresentadoras, produtoras, diretoras, cinegrafistas e correspondentes. Não será permitida a participação de homens nem na frente nem por trás das câmeras.
O Mariya ocupará seis horas diárias na programação do canal de TV islâmico ultraconservador Umma. A maioria dos programas será dedicada a discutir o niqab e a vida matrimonial. El-Sheikha Safaa Refai, pastora e diretora do canal, disse ao Al Ahram que o objetivo é educar as mulheres muçulmanas sobre a religião islâmica, e que esta não é a primeira vez que mulheres usando o niqab trabalham como apresentadoras de TV. Ela acredita que o niqab é a verdadeira vestimenta muçulmana, assim como estipula a lei islâmica.
A diretora declarou que o Mariya pretende mostrar somente mulheres com o niqab. Entretanto, se o canal precisar de uma especialista em algum assunto que não use a vestimenta, ela terá duas opções: ou usar o niqab temporariamente durante o programa ou ter seu rosto ocultado com o efeito de um borrão ou mosaico enquanto o programa estiver sendo transmitido. Refai esclarece que elas não pretendem “excluir ninguém” e que o Mariya tem o objetivo de “resgatar a dignidade” das mulheres que usam o niqab e que foram “oprimidas e demitidas de seus empregos nas últimas décadas”.
Refai se recusa a revelar quem está financiando o canal, mas segundo o site TruthDig, o dinheiro estaria vindo de muçulmanos ultraconservadores Wahhabi da Arábia Saudita. Ainda segundo o TruthDig, até agora a população egípcia em geral tem resistido às pressões fundamentalistas. Muitas mulheres, muçulmanas ou não, continuam se recusando a cobrir a cabeça com o véu, usando inclusive mangas e saias curtas.
O hijab, véu que cobre somente a cabeça, é a vestimenta islâmica mais comum no Egito, e foi banida na TV egípcia durante a presidência de Hosni Mubarak, ditador derrubado em fevereiro de 2011. Desde então tem havido um crescimento do poder dos islamistas no país. A Irmandade Muçulmana, o maior grupo de oposição ao governo de Mubarak, tem aumentado a sua participação política, tendo conseguido eleger Mohamed Morsi, que venceu as eleições presidenciais no final de junho e se tornou o primeiro presidente islamista do Egito.
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