No programa 20 MINUTOS INTERNACIONAL desta quinta-feira (17/02), o jornalista Breno Altman entrevistou o deputado peruano Waldemar Cerrón, porta-voz da bancada do partido Peru Livre, que fez um balanço dos primeiros seis meses da gestão Pedro Castillo.
Cerrón afirmou que, atualmente, Castillo governa “com a direita caviar, que não são nem os empresários ou os poderosos, mas uma ala que se encrustou nas instituições”. Isso porque, na opinião do deputado, “não existem as condições básicas para se ter um governo de esquerda no Peru. Então aquilo em que a população votou não está acontecendo”, disse, em referência às promessas de campanha de Castillo.
Entre elas, a convocação de uma Constituinte — o país vive até hoje sob a Constituição criada durante a ditadura de Alberto Fujimori —, estatização dos recursos naturais, reforma agrária e massificação dos serviços de internet.
Apesar disso, o deputado se mostrou otimista. Lembrou que o presidente possui uma importante trajetória sindicalista e que, portanto, “existe a possibilidade de retificação, de melhora contínua e de abandonar situações que são negativas, pelo bem da maioria da população”.
Entretanto, segundo Cerrón, por causa de certas posturas de Castillo, a relação entre o presidente e seu partido, o Peru Livre, é de afastamento.
“Não rompemos com o presidente, mas não temos uma relação direta, o Peru Livre não tem ministros, por exemplo. Ele segue parte do partido, mas há um afastamento, até porque não somos uma camisa de força. Vamos seguir apoiando o governo nas decisões que estiverem de acordo com o que o povo decidiu, seguimos convencidos da relação de tripé entre partido, presidente e povo. O partido é o que tem o conhecimento do ideário, de fazer o debate e a análise política. O governo é quem deve atuar para o povo e o povo é quem respalda o governo eleito. Então, o Peru Livre também não entra em certas questões de governo porque isso é responsabilidade do presidente”, ponderou.
Para Cerrón, a vitória de outros líderes de esquerda na América Latina, como Gabriel Boric no Chile e uma possível volta de Lula no Brasil, poderiam ajudar o Peru a retomar o rumo progressista. De qualquer forma, ele afirmou que, apesar de todas as correntes críticas ao presidente, sejam elas de esquerda ou direita, não há uma corrente “de maioria” golpista no país.
Reprodução/ @rojas_cerron
Deputado peruano e irmão de Vladimir Cerrón lamentou alianças do presidente Castillo com ‘direita caviar’
“Além de que vejo responsabilidade entre os militares, vejo uma colaboração. Não posso dizer que a possibilidade de golpe não existe porque pode acontecer muita cosia, mas acho que teríamos força para evitar essa possibilidade em concreto. Não seria bom para o país uma nova troca de presidente. Mesmo um impeachment geraria muita instabilidade no país. Por isso mesmo Castillo precisa escutar seus aliados”, refletiu.
Peru Livre
O porta-voz da bancada do Peru Livre, que é irmão do líder da sigla, também detalhou as origens e características do partido, além de seu papel atual na política peruana.
Incialmente como uma frente, a legenda foi criada em 2006 percebendo-se depois a necessidade de um movimento e um partido que viesse das províncias, que ecoasse na população em geral, pois havia uma impressão “de que apenas os políticos de Lima [capital do Peru] decidiam sobre a vida dos demais”.
“Somos um partido socialista com novas características, baseado em configurações nacionalistas, mariateguistas e democratas. Nos definimos porque vão nos etiquetar, então queremos explicar o que somos para que não nos confundam com terrorismos, dogmatismos e fundamentalismos”, explicou.
Cerrón defendeu tal postura já que a legenda é acusada de ter relações com o Sendero Luminoso, uma organização armada camponesa que é definida pelas autoridades como terrorista. “Isso é totalmente falso porque o Sendero Luminoso enxerga uma forma de chegar ao governo, sem participar das eleições, com a qual não estamos de acordo. Somos um partido aberto, expressamos nossas ideias de forma pública. Eles são um grupo clandestino. Não cabe essa relação”, defendeu o deputado.
Outra estratégia da direita para enfraquecer o Peru Livre é a perseguição de seus líderes. Vladimir Cerrón, por exemplo, enfrenta atualmente 48 processos “devido à instrumentalização do Judiciário por parte dos nossos adversários”. O deputado explicou que, no país, qualquer denúncia é válida e deve ser investigada, não existem consequências para denúncias falsas.
“Todos esses processos terminam arquivados, mas são levados adiante até chegar nesse ponto, o que prejudica a população. O objetivo não é provar a culpa de Vladimir em nada, até porque estou convencido de sua inocência, mas é deixá-lo de fora do governo, e eles conseguiram”, lamentou.