No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (02/03), o jornalista Breno Altman entrevistou o professor e um dos articuladores da Coalizão Negra por Direitos Douglas Belchior, sobre a estratégia do movimento negro progressista nas eleições de 2022.
Ele destacou que, atualmente, o Brasil vive o pior nível de genocídio da população negra e que “mesmo nos melhores momentos da era republicana, durante os governos petistas, ainda houve entre a população negra um aumento da pobreza”.
“O que acontece é que o racismo além de ser estrutural em Bolsonaro e no bolsonarismo, é planejado. Eu fui formado politicamente num caldo de cultura dos anos 1980 que tinha como principal alvo a luta pela democracia, a contestação à ditadura, o direito ao voto. Não que esses elementos ativadores do afeto da política tenham perdido importância, mas hoje a luta tem sido pelo direito das mulheres, da população LGBTQI+, da população negra e indígena. É o que mobiliza a juventude. Então Bolsonaro e os conservadores atacam essas agendas porque é aí que está a força de quem faz oposição a ele”, explicou.
Por isso, de acordo com o professor, Bolsonaro mobiliza o racismo em seu discurso. Pois, na prática, ele se traduz em apoio e votos. Aliás, para Belchior, o discurso racista mobiliza a base conservadora como um todo e serve como cortina de fumaça para temas que podem desagradar essa mesma base. Ele citou de exemplo o caso do deputado federal Kim Kataguiri, que defendeu a existência de um partido nazista no Brasil, sendo alvo de duríssimas críticas, mas que acabou desviando a atenção e voltando a mobilizar sua base ao retomar um projeto de lei que “cancelava” as cotas raciais.
Isso, junto com a nomeação de nomes negros de direita para cargos importantes, são algumas das estratégias do campo conservador de enfraquecer a luta antirracista, apontou Belchior.
“Eu nunca vou me organizar politicamente ao lado de Sérgio Camargo [presidente da Fundação Palmares], nem de Fernando Holiday, mas eles têm o direito de existir. Só que isso cria uma confusão na cabeça das pessoas e dá força a um argumento racista de que o movimento negro precisa agir igual. Existe uma diversidade política entre os brancos, assim como existe entre os negros, e tudo bem”, argumentou.
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Professor ressaltou importância de derrotar o atual presidente nas urnas e avaliou luta antirracista na esquerda
Esquerda antirracista
Devido a esse cenário, Belchior sustentou que o movimento negro progressista, da qual forma parte a Coalizão Negra por direitos, tem como prioridade a derrota de Bolsonaro e, por tanto, apoiará Lula nas eleições que se acercam, mesmo que Geraldo Alckmin seja lançado como seu vice.
“Além de integrante do movimento negro, eu sou professor em São Paulo. Então não há argumento que me convença da razoabilidade da decisão de nomeá-lo vice. O Alckmin, antes da existência de Bolsonaro, ocupava o lugar de grande genocida. Mas vamos lutar para eleger Lula independente do contexto, porque disso depende o Brasil. Será, apesar disso, um processo traumático e espero que as consequências não sejam negativas”, ponderou.
Além disso, ele ressaltou que a Coalizão trabalhará para eleger uma bancada negra de peso, estimulando o voto negro e o voto antirracista, isto é, que pessoas brancas votam em candidatos negros e que estejam ligados ao movimento negro de luta, já que não basta a representatividade pela representatividade.
Ainda pensando na luta institucional, o professor instou a esquerda a ser mais antirracista. Por mais que “o movimento negro tenha vencido a luta do debate narrativo, agora a gente tem um grau de importância que não se pode ignorar nossa existência”, isso não basta. Ainda não ocorreu uma mudança estrutural na esquerda, “mas vivemos essa transição”.
“Só não podemos cair num pragmatismo racista, como a gente tem visto acontecer, por exemplo com o vereador Renato Freitas, cujo mandato tem sido perseguido. Não podemos cair no conto de que não adianta eleger um candidato negro porque ele não vai conseguir manter o mandato, que vamos ter que ficar protegendo. Precisamos proteger mesmo e manter essas candidaturas. O Renato é uma liderança importante, precisamos dessa renovação dos quadros”, enfatizou.