No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta sexta-feira (12/11), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou a jornalista e escritora Eliane Brum, que se dedica à cobertura da Amazônia.
Segundo Brum, a região amazônica, bem como as outras florestas e oceanos, são os atuais centros do mundo devido à crise climática e, para ela, “se a gente não perceber isso logo e atuar de acordo, as próximas gerações terão uma vida muito mais difícil em um planeta muito mais hostil”.
A jornalista denunciou os projetos do atual governo de transformar a Amazônia em pasto e em legalizar os crimes na região com projetos como o Marco Temporal e a Lei da Grilagem. Na prática, ela afirmou que o crime já foi legalizado, com lideranças e militantes dos movimentos ribeirinho, indígena e quilombola sendo ameaçados e mortos.
Entretanto, de acordo com a jornalista, a violência contra esses povos não é de agora. Surgiu na época da ditadura militar brasileira (1964-1985) o mito de que era um território a ser explorado e ele predominou, inclusive, durante os governos petistas. A hidrelétrica de Belo Monte, por exemplo, deslocou a população ribeirinha da região, “condenando-a à pobreza e à memória do corpo, porque perderam tudo, só restam as cicatrizes no corpo”.
Apesar das evidências, Brum denunciou a existência de um “negacionismo sincero”: “Os que aceitam a obviedade da crise climática, mas não vivem segundo ela, que é a maioria de nós. Se a gente está vivendo uma situação de calamidade ambiental, com a Amazônia chegando ao ponto de não retorno, como a gente não está pensando e vivendo para enfrentar isso?”.
Brum rejeitou que existam outras questões mais emergenciais a serem resolvidas ou abordadas antes de passar para os temas ambientais, pois este atravessa todos os outros.
“Não existe nada acima da emergência climática porque ela afeta todas as outras questões. As pessoas estão mais pobres por causa da emergência climática. A população indígena está sendo perseguida por defender a Amazônia, enfim. Uma emergência desse porte atravessa tudo, classe, raça e gênero”, enfatizou.
Alberto César Araújo/Amazônia Real
Segundo Brum, a região amazônica é o atual centro do mundo devido à crise climática
Alternativas à esquerda
Para combater o cenário atual, Brum argumentou que não se pode contar “com quem colocou fogo na casa” e lamentou que boa parte da esquerda não tenha percebido isso, dando continuidade ao imaginário da época militar e mantendo seu olhar colonizador sobre a Amazônia.
Ela reconheceu, contudo, que essa tendência parece estar mudando. “Estamos entendendo que a ideia de que crescimento infinito num planeta finito não é viável”, disse. O ideal, para a jornalista, seria a superação da sociedade capitalista, que ela apontou como grande responsável pela destruição do planeta.
“Imagino uma vida de menos consumo, uma vida em comunidade com a comunidade, semelhante à dos povos originários. Uma democracia para humanos e não humanos, em nome da natureza”, discorreu.
Dentro dos marcos do capitalismo, entretanto, a mudança deve se dar com políticas públicas e mudanças no estilo de vida. Assim, Brum destacou a importância de tirar Jair Bolsonaro do poder, apesar de ponderar que “não dá para esperar até 2022 ou 2023”, alertando que, mesmo com um governo de esquerda, os ruralistas seguirão extremamente poderosos.
Ela não quis anunciar em quem votará no próximo pleito, mas disse que sempre votará “contra todas as pessoas que representam o que Bolsonaro representa, na opção mais democrática possível”, e listou o que espera de um programa de esquerda.
“Para ter meu voto é preciso se comprometer com o enfrentamento da crise climática, proteção da Amazônia, demarcar todas as terras indígenas, quilombolas e territórios de conservação; fiscalizar o cumprimento das leis ambientais; escutar os povos da floresta e construir uma estratégia com eles; não construir mais hidrelétricas e não deixar que entrem mais mineradoras, apostando por uma mudança da matriz energética focada na energia solar”, citou.
Brum ainda reiterou que todos devem lutar pela Amazônia, não apenas brasileiros ou os povos indígenas que nela vivem, pois é um bem mundial e cuja destruição afetaria todo o planeta.