No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (01/09), o jornalista Breno Altman entrevistou Leidiano Farias, dirigente da Consulta Popular, movimento marxista e anti-imperialista de luta popular.
Segundo Farias, “a liderança de Lula e o Partido dos Trabalhadores são fundamentais para derrotar o neofascismo e o bolsonarismo”. Para a Consulta Popular, porém, o ideal seria viabilizar o impeachment, pois veem a saída de Bolsonaro como urgente, “mas, se isso não for possível, o derrotaremos nas urnas defendendo a candidatura de Lula”.
O apoio, porém, não é incondicional. Farias ressaltou a importância de se debater o programa em conjunto com a população. O objetivo do movimento é combinar a luta social, eleitoral e ideológica, tendo como central a mobilização das massas, para a construção do socialismo. Daí o apoio ao PT que, “com todos os seus limites, tem uma capilaridade importante”.
“O PT é fundamental, mas precisamos fazer um debate na sociedade para construir um programa de mudanças. Claro que não será o programa dos nossos sonhos, mas não há espaço para um programa rebaixado. O ponto de partida para a reconstrução do país é emprego, renda e retomar políticas sociais, implementando um programa emergencial. Temos que revogar o teto de gastos, fazer uma reforma tributária e reformar o artigo 142, porque coloca as instituições sob a tutela das Forças Armadas”, refletiu.
Para levar essas mudanças a cabo, o dirigente falou sobre a importância de mudar a correlação de forças por meio de mobilizações populares, e que eventualmente esse acúmulo de forças “possa polarizar a sociedade e culminar num processo revolucionário”.
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Dirigente da Consulta Popular expôs linha política de sua organização e defendeu aliança estratégica com o PT
Balanço do PT e governos petistas
Apesar de sua aproximação com o PT, de ter sua criação inspirada no 5º Encontro Nacional da legenda, em 1997, e ter candidaturas pelo partido, Farias ressaltou que a Consulta Popular é uma organização própria.
“Avaliamos que a estratégia do PT foi rebaixada a partir de 1995 e o tema da organização popular e de criação de um projeto popular requeriam uma organização própria”, explicou.
É na estratégia, portanto, que mora a principal diferença entre a Consulta Popular e o PT, “que buscou a via eleitoral e se esqueceu da luta popular”. Além disso, o movimento pauta-se pelo centralismo democrático, lutando por unidade de ação na esquerda, incorporando partidos e movimentos sociais.
A partir dessa concepção de luta, Farias fez um balanço “bastante crítico” dos governos petistas: “Reconhecemos as conquistas, a valorização do salário mínimo, a implementação de cotas, mas avaliamos que faltou um movimento e um compromisso dos governos com a organização popular. Além de um programa mais ousado”.
Ele reforçou que foi a negligência para com a organização popular que gerou fragilidade no governo e permitiu que o golpe triunfasse.
“Não teve organização para resistir. A insuficiência do trabalho de base, combinada com os erros do próprio governo, principalmente as políticas de ajuste fiscal do primeiro governo Dilma, fizeram com que nós tivéssemos dificuldade quando o golpe se colocou”, enfatizou.
Autogolpe
Diante da próxima manifestação, no dia 7 de setembro, Farias avaliou o risco de que Bolsonaro se aproveite do momento para incitar manifestações de direita que gerem conflitos e provoquem uma situação de caos nacional, para tentar o autogolpe.
“Tudo vai depender da nossa resposta a um ato de direita. Bolsonaro sabe que, do ponto de vista eleitoral, a situação dele não é simples, então ele tenta um atalho, que é o autogolpe”, defendeu.
Na opinião do dirigente, o ato não deve ser realizado em outra data, até por sua simbologia, “e porque temos um problema imediato, que é a questão democrática”.
“Temos que combinar o processo eleitoral com o trabalho de ruas. Se não viabilizarmos o impeachment, temos que derrotar Bolsonaro nas urnas. O bolsonarismo não iria acabar, mas é muito mais favorável se ele não estiver no governo federal”, ressaltou.