No programa 20MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (25/08), o jornalista Breno Altman entrevistou o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, um dos réus condenados na ação 470 e último dos petistas a sair da cadeia.
Segundo ele, o Mensalão “foi uma armação contra os petistas”, que contou com a cumplicidade da imprensa e cuja consequência foi “a criação de um monstro, [Jair] Bolsonaro”. Pizzolato afirmou que o motivo pelo qual foi condenado e deve pagar uma dívida, “impagável, que eu demoraria 170 anos para pagar”, o suposto desvio de R$ 73,8 milhões e que foi a base de todo o Mensalão, “não passou de uma farsa, de fake news”.
O ex-diretor do Banco do Brasil explicou que foi provado que aquele dinheiro não era público, era da VisaNet, e que toda a quantia foi adequadamente aplicada em eventos para os quais havia contratos, mas o ministro Joaquim Barbosa escondeu esse processo, não tocou nas provas para garantir uma condenação a qualquer custo.
“O dinheiro não era do Banco do Brasil. Tenho as cópias das notas fiscais das contratações que provam que não foi desviado nem um centavo. O dinheiro foi totalmente gasto corretamente, existem os documentos, a Receita Federal reconheceu a aplicação. Só que com isso acabava o Mensalão e eles já tinham vendido o peixe e execrado todo o mundo em praça pública”, reforçou.
De acordo com Pizzolato, que teve de fugir para a Itália “porque não podia me render àquela armação”, a Polícia Federal contribuiu para criar mais fantasias ao redor do processo: “Não à toa [o ministro] Luís Roberto Barroso segurou a minha pena, demorou para me liberar. Criaram todas essas dificuldades porque queriam fechar o caixão. O sonho do Barroso era que eu não ia resistir, ia me entregar ou ia morrer e aí acabava tudo. Eles fechavam o caixão e ficava aquela história como a verdade”.
Por isso, hoje, o ex-diretor do Banco do Brasil diz lutar para que seu caso seja revisado, “o Brasil merece a verdade, se não essa história vai se repetir”.
52 meses em regime fechado
Contando o tempo que ficou preso na Itália e no Brasil, Pizzolato passou 52 meses em regime fechado.
Antonio Cruz/ Agência Brasil
Em entrevista, Pizzolato diz lutar para que seu caso seja revisado
“É uma queimadura de 3º grau, em que a pele não se refaz mais. Eu vivi desde as dores da perda do meu pai e da minha sogra, que nem pude ir ao enterro, até os abraços de solidariedade na Itália, a solidariedade dos presos no Brasil. Conheci o lado humano do andar debaixo, encontrei humanidade naqueles que a sociedade considera dejeto humano. E conheci o lado mais perverso dos que têm poder”, discorreu.
Na cadeia no Brasil, o petista lutou para a criação de uma escola de alfabetização, já que, segundo ele, 80% dos presos não sabia sequer assinar o próprio nome. Ele também contribuiu montando uma biblioteca e distribuindo comidas para os presos.
Na Itália, por outro lado, ele destacou a existência de projetos de reintegração de presos com atividades, cooperativas e o tratamento menos truculento dentro da cadeia.
Legado
Depois de toda essa vivência, o caso de Pizzolato será transformado em um documentário dirigido por Silvio Tendler, “é a primeira vez que o Silvio faz um documentário com alguém que ainda está vivo”.
A obra será parte da luta que o ex-diretor do Banco do Brasil diz querer deixar de legado. Ele também disse esperar que seu caso seja estudado e sirva de lição para a esquerda, que ela não tenha mais ilusões com relação ao judiciário.
“Tenho convicção de que Lula será eleito, mas isso não basta. Temos que tomar posse e governar, temos que radicalizar a democracia, sem medo do povo. O PT precisa construir um projeto de país, mais do que um plano de governo, se não a história vai se repetir”, advertiu.