No programa 20Minutos Entrevistas desta segunda-feira (22/03), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou o jornalista e ex-ministro-chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social Franklin Martins, que analisou o enfraquecimento de Jair Bolsonaro e as mudanças no cenário político decorrentes da retomada dos direitos políticos de Lula.
“A pandemia e o fim do auxílio emergencial, porque R$150 não é auxílio nenhum, corroeram Bolsonaro. Ele está muito enfraquecido. E, com o fortalecimento de Lula, acho que ele está apostando em um golpe. Seja ele parlamentar para se manter no poder, ou que vá até as últimas consequências, um golpe militar”, afirmou o jornalista.
A restituição dos direitos políticos do ex-presidente mexeu ainda mais com esse quadro, segundo Martins. Não só pelo o que a decisão em si representou, anulando as decisões da 13ª Vara de Curitiba e declarando o juiz Sergio Moro como incompetente, dada por um ministro do Supremo Tribunal Federal que apoiava a Operação Lava-Jato, “mas porque tudo isso saiu no Jornal Nacional”.
Assista à íntegra da entrevista:
“Toda a censura sobre tudo que pudesse ser favorável ao Lula teve de ser suspensa. Não porque a Globo tenha decidido fazer bom jornalismo, mas porque não tinha mais como evitar falar disso”, defendeu.
Para Martins, o discurso dado pelo ex-presidente também deixou o país “estupefato”. “As pessoas imaginavam que ele ia estar amargurado e ele mostrou que não faz política com o fígado. Mostrou que nós temos um estadista e uma liderança política. E isso chocou porque estamos acostumados com um padrão de liderança que nem liderança é”, disse.
O jornalista acredita que o país caminha para uma polarização entre Bolsonaro e Lula, pois o centro e a direita neoliberal “só têm candidaturas proveta”.
‘O povo virá com tudo’
De acordo com o ex-ministro-chefe, o retorno de Lula somado à perda do apoio da elite à Bolsonaro, pode levar à reação do povo que, até o momento, “caminhava atônito para o abismo, sem ver uma solução”. “A atitude genocida do Bolsonaro fez com que as pessoas se dessem conta da situação inacreditável que estamos vivendo”, afirma.
Nesse sentido, ele comparou o Brasil à Argentina, j´á que, para ele, as situações políticas argentinas “mudam com uma rapidez impressionante”. “O Brasil, por outro lado, é muito grande, demora para que se formem consensos. Somos como um elefante. Um elefante quando corre não tira as quatro patas do chão, corre tirando uma de cada vez. Isso quer dizer que as transformações políticas no Brasil demoram muito mais tempo por causa do nosso tamanho e complexidade”, declarou.
Além disso, ele afirmou que o povo brasileiro apenas se mobiliza quando sente que tem chances reais de realizar mudanças, “porque, se se levantar antes, vira bucha de canhão”.
Martins reforçou que o momento de “se levantar” está chegando, pois Bolsonaro está perdendo suas bases de apoio, as classes dominantes já não estão unidas entorno ao presidente. “Se nós vencermos a crise sanitária que estamos vivendo, o povo vai vir com tudo porque o outro lado está dividido e nós estamos nos agrupando em defesa da vida, do emprego e de uma sociedade democrática e inclusiva. E o Lula é a liderança que simboliza tudo isso”, ressaltou.
De 2021 a 2022
O jornalista ponderou, no entanto, que a luta não deve ser apenas eleitoral, pensando em 2022. “Não temos que estar preocupados em virar o jogo. Devemos nos preocupar com defender a vida do povo brasileiro. Temos que exigir vacina, isolamento social e auxílio emergencial”, disse.
Ele também defendeu conversar com as forças conservadoras democráticas, ainda que lancem um candidato próprio, apenas para evitar que declarem apoio a Bolsonaro. “Não devemos nos subordinar, mas eles estão na defensiva e tentando limpar as besteiras que fizeram e devemos ajudá-los porque isso faz bem para o Brasil”, argumentou.
Pensando num possível retorno do Partido dos Trabalhadores ao poder, Martins disse achar que a solução está entre mesclar a antiga política da legenda, de alianças, com rumos mais “à esquerda”.
“É inevitável que um governo Lula tenha que fazer mediações, mas terá um rumo, focando na inclusão social. Não só voltará a ser o que era antes, mas terá de corrigir as coisas que não fez lá atrás. O Brasil precisa de uma reforma tributária, da regulação da mídia, coisas que não foram feitas e foram erros, e que precisarão ser corrigidos num futuro governo”, disse o jornalista.