O Facebook contratou centenas de trabalhadores terceirizados para ouvir e transcrever mensagens em áudio de usuários do serviço de mensagens Messenger, revelou a plataforma Bloomberg.
A rede social confirmou que áudios estavam sendo transcritos, mas garantiu que a prática já foi suspensa. “Assim como a Apple e o Google, pausamos a análise humana de áudio há mais de uma semana”, afirmou a empresa à Bloomberg na terça-feira (13/08).
Segundo o Facebook, somente foram afetados os usuários que ativaram a função de transcrição para mensagens de voz.
A reportagem da Bloomberg revelou que centenas de funcionários de empresas terceirizadas ouviam e transcreviam clipes de áudio para o Facebook. Os trabalhadores não tinham conhecimento da situação sob a qual as conversas tinham ocorrido e para qual finalidade se destinava a transcrição.
Ainda segundo a Bloomberg, alguns dos terceirizados sentiam que seu trabalho era antiético e ficavam abalados com algumas conversas ouvidas, que por vezes tinham conteúdos “vulgares”.
De acordo com o Facebook, a transcrição dos áudios por tralhadores terceirizados visava verificar se o software entende corretamente as frases dos usuários. As mensagens teriam sido anteriormente anonimizadas, afirmou a empresa.
Nas últimas semanas, Amazon, Apple e Google foram alvo de críticas após a revelação de que elas empregam pessoas para analisar áudios coletados por seus sistemas de assistência de voz.
picture-alliance/AP Photo/A. Alfiky
Segundo a Bloomberg, alguns dos contratados sentiam que seu trabalho era antiético
As companhias alegam que a prática de analisar conversas visa aperfeiçoar seus produtos. Enquanto Apple e Google dizem ter suspendido a prática, a Amazon dá a seus usuários a opção de bloquear a coleta de voz realizada pelo seu assistente de voz Alexa.
No caso do Facebook, a situação é um pouco mais delicada do que para os outros conglomerados de tecnologia. Há anos há rumores de que aplicativos da rede social ouvem os usuários para personalizar conteúdos publicitários. Relatos de casos em que propagandas combinam com uma conversa realizada pouco antes comprovariam essa suspeita.
Entretanto, a empresa sempre negou a prática. Seu fundador e CEO, Mark Zuckerberg, refutou isso veementemente durante um questionamento no Congresso dos Estados Unidos, classificando a denúncia de “teoria da conspiração”.
O Facebook também sempre frisou que a rede social só processa dados de áudio se um usuário der sua permissão expressa. Embora esteja claro que áudios devem ser processados durante a função de transcrição, os usuários não tinham consciência – como no caso dos assistentes de voz das outras empresas – de que, em alguns casos, outras pessoas ouviam esses áudios.
No mês passado, a empresa de tecnologia fechou acordo com o governo americano para pagar uma multa de 5 bilhões de reais, encerrando um processo por violação de privacidade. A ação se refere ao escândalo envolvendo a Cambridge Analytica, empresa que recolheu dados de 87 milhões de usuários do Facebook sem o conhecimento dessas pessoas com intuito de fazer propaganda política.
MD/afp/dpa