O Japão, diante do envelhecimento da população, busca alternativas para suprir a falta de mão de obra. O arquipélago, por muito tempo líder em robótica, está cada vez mais voltado para a inteligência artificial (IA) e planeja investir US$ 8 bilhões no setor nos próximos dez anos.
O fenômeno existe há pelo menos quatro décadas: o Japão não consegue reverter a tendência demográfica de encolhimento. Nenhuma política governamental até agora conseguiu desarmar a bomba-relógio. A taxa de natalidade está em queda livre. Nos últimos oito anos, a baixa do número de nascimentos tem quebrado recordes. Os demógrafos previam que os nascimentos anuais caíssem abaixo de 800.000 em 2032, mas isso ocorreu dez anos antes.
Ao mesmo tempo, o Japão alcança recordes de longevidade, com um em cada dez japoneses com mais de 80 anos e quase um terço com mais de 65 anos. A situação se torna crítica, a ponto de o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, ter admitido no ano passado que o país estava à beira da incapacidade de funcionar.
Mesmo que os japoneses sejam obrigados a trabalhar até cada vez mais tarde, às vezes até os 75 anos, a população ativa continua diminuindo desde 1993. Estima-se que, em quinze anos, o Japão terá uma escassez de 11 milhões de trabalhadores, em uma população de mais de 123 milhões. O país não tem uma política de imigração e atualmente o iene fraco não é atrativo para estrangeiros.
Enquanto alguns países recorrem à imigração para deter o declínio demográfico, o Japão nunca foi realmente uma terra acolhedora para estrangeiros, embora tenha havido aberturas tímidas e um relaxamento dessa política. O arquipélago atualmente aposta em receber mais trabalhadores qualificados e talentosos para impulsionar a inovação.
O Japão é conhecido por ser líder mundial em robótica; sempre foi uma referência no campo e muitos setores hoje são automatizados; mas está investindo cada vez mais em inteligência artificial, e as startups estão crescendo rapidamente.
Setores diversos estão envolvidos
Muitas empresas e instituições estão investindo em patentes, nos setores automobilístico, robótico ou eletrônico. O gigante tecnológico Oracle, por exemplo, planeja investir US$ 8 bilhões nos próximos dez anos para desenvolver a infraestrutura de IA no Japão.
A indústria automobilística está investindo em veículos autônomos, sem motoristas. A produção em massa é esperada para 2028.
A inteligência artificial também está sendo utilizada na agricultura, para melhorar os rendimentos. Aplicativos podem detectar doenças e encontrar tratamentos adequados para impulsionar as colheitas. Outro exemplo é o uso de ferramentas altamente eficazes para melhorar o nível de inglês, que é bastante baixo no arquipélago, e que compensam a falta de professores.
IA para evitar saída de colaboradores
Finalmente, para ilustrar a preocupação com a falta de mão de obra, foi desenvolvida uma ferramenta para prever a taxa de desistência de novos contratados. A tecnologia pode ajudar os empresários a identificar colaboradores com dificuldades e fornecer apoio para mantê-los em seus cargos.
Através desse exemplo, fica claro que a inteligência artificial no Japão não desempenha o mesmo papel que em outros lugares do mundo. Não serve apenas para aumentar a produtividade e combater a escassez de mão de obra. O Japão busca, por meio dessa tecnologia e outras, encontrar um equilíbrio entre eficiência econômica e benefícios para a sociedade, sem criar disparidades significativas.
Frente à escassez de mão de obra, o Japão está buscando trabalhadores estrangeiros qualificados. Os setores empresariais e as universidades estão pressionando o governo hoje para ampliar o regime de vistos de longa duração para suprir, em parte, a escassez de mão de obra qualificada. As empresas também estão solicitando a admissão de um número maior de imigrantes menos qualificados.
Os setores empresariais e as universidades estão pressionando o governo para ampliar seu regime de vistos de longa duração para compensar a escassez de mão de obra qualificada.
Política de imigração inexistente
Desde 2018, o Japão tem permitido a entrada de mais trabalhadores estrangeiros qualificados. Sem política de imigração, a legislação os classifica em duas categorias. As pessoas que entram na categoria 1 recebem permissão para trabalhar em doze setores, mas só podem permanecer no Japão por até cinco anos.
A categoria 2 é reservada para pessoas qualificadas em termos de habilidades e proficiência na língua japonesa. A duração da estadia é ilimitada. Elas podem trazer seus cônjuges e filhos, mas só podem trabalhar em dois setores. O visto da categoria 2 não é fácil de ser obtido.
O governo revelou um projeto para expandir para onze o número de setores nos quais os titulares da categoria 2 podem trabalhar. Isso inclui, entre outros, agricultura e alimentos.
Muitos trabalhadores pouco qualificados estão no Japão sob um programa de “treinamento técnico”. Essas pessoas muitas vezes são exploradas ou sofrem abusos por empresas sem escrúpulos. O governo está tentando abolir o polêmico programa.